6 _ Doce companhia

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Alícia

 Heitor voltou para casa após dois dias de viagem e parecia mais misterioso do que quando saiu. Continuou me olhando com ar enigmático e ficando silencioso do nada como se tentasse esconder algo de mim. Talvez eu estivesse ficando paranóica, mas desde a perda do meu pai eu não estava raciocinando direito.

Mesmo em tão pouco tempo me acostumei com a presença de Heitor. Talvez seja a solidão que tenha causado esse efeito, ou talvez seja porque ele é uma ótima companhia. Não sei explicar. O fato é que quando ele está presente eu não costumo ficar tão presa às minhas trevas interiores. É bom ter alguém para conversar e assim não surtar de vez, pois era assim que eu me sentia. Toda vez que eu constatava o que havia acontecido me sentia mais próxima de perder a razão. Perder o meu pai foi o golpe mais duro que a vida poderia me dar.

Passei os últimos dias, trancada no meu quarto assistindo repetidas vezes o mesmo filme:
 
A vida pode derrubar, mas nós escolhemos se queremos nos levantar de novo.”

Era a frase de Karatê Kid que ecoava na minha mente.

— Ah não, você não vai ficar trancada assistindo o mesmo filme novamente. — Heitor reclamou e eu pausei a cena no notebook.

— Era o filme preferido do meu pai. — Contei e ele assentiu.

— Eu sei. Seu pai adorava filmes antigos. Um corpo que cai, Scarface e Quanto mais quente melhor também estão na lista.

— Esses eu não sabia. — Sentei na cama o olhando. — Me diz uma coisa: como vocês se conheceram? — Perguntei curiosa e ele desviou o olhar para a janela do meu quarto.

— No trabalho.

— E desde o início já sabiam que seriam sócios?

— Não, demorou um bom tempo até tudo acontecer, mas acho que Frederick sempre teve em mente que teríamos uma empresa um dia. Ele era muito perspicaz. Sabia enxergar boas oportunidades e utilizá-las a seu favor. — Contou e eu pensei por um instante sobre o que ouvi. Ele me pareceu mesmo ser um homem bem antenado. Mesmo sabendo tão pouco dele. — Seu pai me ajudou muito na vida. Se não fosse pelos conselhos dele, eu nem sei onde estaria agora.

— Que tipo de conselhos ele te dava?

— Inúmeros. Sempre dizia para eu me dedicar aos estudos. Para eu aproveitar a vida, mas nunca perder o foco. Claro, às vezes dizia algumas bobagens também como para eu arrumar uma namorada, entretanto, essa parte eu sempre ignorei com sucesso.

— Naquele dia que nos conhecemos, você deixou bem claro que não era gay… — Comentei e ele sorriu.

— E não sou mesmo.

— Então qual o problema em ter uma namorada?

— Isso é uma longa história. Assunto para outro dia. — Respondeu me deixando confusa.

— Certo. E o que você e meu pai costumavam fazer juntos?

— Nosso hobby favorito era off-road.

— Era o quê?

— Então, basicamente é o significado do nome mesmo. Off-road como você sabe é “fora da estrada”. Então a gente normalmente pegava nossos carros 4x4 e fazíamos trilhas com eles, pela natureza. É quase um rally, só que sem competição. Apenas pelo prazer de enfrentar lama, pedras, subidas e descidas íngremes… Essas coisas. — Contou visivelmente animado.

— Espera! Você está dizendo que meu pai era um homem radical?

— Sim.

— Meu pai? Aquele homem pacato de terno que conheci aqui?

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