Meu Guardião [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]

13 _ Ferrado

Heitor

Havia um submundo coexistindo em paralelo com a realidade. Um lugar onde o sangue é derramado incessantemente, seja ele inocente ou não. Eu me perguntava se ninguém via isso ou se era simplesmente uma questão de ser mais fácil ignorar. Enquanto falava com o Frederick pelo celular eu só conseguia pensar no quanto tive sorte de escapar desse abismo antes que ele tivesse acabado comigo.

"— Está tudo bem!" — Contei e ele suspirou aliviado.

"— Fico feliz em saber disso." — Frederick comentou e eu sentei na cadeira. "— Mesmo assim fique de olho na Alícia. Não deixe ela sozinha em hipótese alguma, não podemos baixar a guarda."

"— Não se preocupe."

"— Você está andando com a sua arma, certo?"

 "— Claro."

"— Não hesite em usá-la caso seja necessário." — Pediu e eu respirei fundo.

"— Não se preocupe, Theodore." — Ironizei com o nome falso que ele resolveu assumir para poder manter contato comigo sem levantar suspeitas. "— Nada e nem ninguém vai atingir Alícia. Eu prometo."

"— Eu não saberia o que fazer se não pudesse contar com você. Obrigado por cuidar da minha filha."

"— Não precisa me agradecer."

"— Preciso que faça algumas pesquisas para mim, claro, anonimamente."

Conversamos mais um pouco e ele encerrou a ligação logo depois. Joguei o celular sobre a mesa. Era incrível como revisitar nosso passado me deixava esgotado em poucos minutos. Respirei fundo e juntei minhas coisas.

Saí da sala me deparando com Alícia parada na porta com um semblante pensativo. Por um segundo temi que ela tivesse escutado a minha conversa.

— O que houve?

— A sua secretária é muito intrometida. — Respondeu baixo me deixando aliviado e eu sorri.

— Isso é mesmo. Vamos para casa?

— Mas já? — Me olhou surpresa.

— Sim. Preciso resolver umas coisas. — Respondi vagamente fechando a porta atrás de mim. — Melissa, cancela todos os meus compromissos de hoje até a tarde! Volto depois do almoço.

— Mas o doutor Wozank tem uma reunião particular com o senhor daqui há… — Parou de falar olhando no relógio de pulso. — Dez minutos.

— Droga!

— E então? Devo desmarcar?

— Não. — Respondi passando a mão pelo meu rosto. — Mas desmarque tudo depois dele.

— Sim, senhor.

— Alícia! — Chamei e ela pareceu despertar dos pensamentos dos quais pareciam preocupá-la. — Depois da reunião vamos para casa.

— Ok.

— Melissa, assim que Wozank chegar, traga café para a minha sala, por favor! — Pedi e ela assentiu.

Após quase uma hora e meia ouvindo o advogado da empresa falar sem parar sobre a quebra de contrato da empresa Beauty, fiquei animado ao saber que em um acordo extrajudicial poderíamos faturar quase o dobro da multa que teriam que nos pagar, já que não queriam ser envolvidos em um escândalo na justiça. Bons negócios sempre me animavam, mesmo quando o mundo estava um caos. Finalmente pude seguir para casa e durante todo trajeto, notei Alícia silenciosa ao meu lado.

— Alguma coisa está te incomodando?

— Não. — Respondeu automaticamente e suspirou relaxando a postura. — Só pensando no que Melissa me disse.