Dez tons de BDSM na tela

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Talvez impulsionado pelo sucesso mundial da adaptação para as telas de Cinqüenta tons de cinza, o jornal britânico The Guardian publicou em seu site, há algumas semanas, uma curiosa lista dos dez melhores filmes que têm o BDSM como tema. Já natualmente restritiva, a relação preferiu destacar os títulos mais comerciais e conhecidos do grande público, excluindo outros mais alternativos que tratam do mesmo assunto. Ficaram de fora, por exemplo, Bettie Page (2005) e A imagem (1975), bem como qualquer filme japonês estrelado pela Christina Lindberg nos anos 70. Embora interessante, portanto, a lista privilegiou o aspecto menos escandaloso e mais popular do tema.


Eis a relação dos dez mais, em ordem cronológica.

A BELA DA TARDE (1967) - Talvez o único da lista que mereça ser considerado um clássico de fato, freqüentemente citado como um dos grandes filmes de todos os tempos e apontado por muitos como a melhor obra de Luís Buñuel. De tão conhecida, a história já virou até letra de música do Alceu Valença. Uma esposa reprimida no casamento se liberta sexualmente ao começar a freqüentar um prostíbulo, toda tarde. Catherine Deneuve, no auge da beleza, já abre o filme em uma cena de bondage.

O PORTEIRO DA NOITE (1974) - Em 1957, uma sobrevivente do regime nazista se hospeda em um hotel de Berlim e descobre que seu antigo torturador agora trabalha como porteiro do local. Tem início uma relação profundamente perturbada, pontilhada de ressentimentos e pequenas vinganças pessoais. O filme mais famoso da diretora Liliana Cavani se desenvolve em clima pesado e soturno para contar uma história de amor torto e doentio. Intensos desempenhos de Dirk Bogarde e Charlotte Rampling.

MAITRESSE (1975) - Acabou de sair em DVD este drama erótico dirigido na França pelo iraniano Barbet Schroeder. Um ladrãozinho barato (Gérard Depardieu) invade a casa de uma dominatrix (a suíça Bulle Ogier), se apaixona por ela e tenta tirá-la dessa vida. Ela reluta... será que o amor é mais forte que uma chicotada? Roteiro sério trata o fetiche com respeito, mostrando que uma domme pode ter uma vida tão comum quanto qualquer dona de casa. Atenção: há uma aflitiva cena de tortura genital que pode causar desmaios no mais macho dos espectadores.

NOVE E MEIA SEMANAS DE AMOR (1986) - O filme que fez de Kim Basinger o maior símbolo sexual dos anos 80, que a lançou à fama, embora pelos motivos tortos; ela teve de esperar 12 anos para ser reconhecida pelos seus dotes interpretativos ao ganhar o Oscar de Atriz Coadjuvante por Los Angeles – Cidade proibida. Foi também a confirmação do talento visual do diretor Adrian Lyne, que manteve uma sobrevida no cinema até 2002, quando assinou Infidelidade e depois se retirou, desgostoso com tantas críticas negativas que vinha recebendo. Basinger e Mickey Rourke formam um casal de muita química na tela, e protagonizam uma cena que se tornou antológica, com os ingredientes da geladeira.

CRASH  ESTRANHOS PRAZERES (1996) - Polêmico à época de seu lançamento, foi uma das últimas excentricidades dirigidas por David Cronemberg antes de trilhar um caminho diferente na carreira – que, mesmo assim, lhe renderia mais um título na lista (veja adiante). Adaptação literal do romance de J. G. Ballard sobre pessoas que se excitam sexualmente com acidentes de trânsito e suas conseqüências físicas.

CLUBE DO FETICHE (1997) - Provavelmente o menos conhecido da lista, até por nunca ter saído em DVD por aqui, esta comédia erótica mostra os dramas pessoais e cotidianos de uma dominatrix profissional, tendo como pano de fundo os bastidores de um clube erótico freqüentado por fetichistas de diversas naturezas. Guinevere Turner, que faz a protagonista, é até hoje uma figura bastante conhecida do universo BDSM de Londres.

A PROFESSORA DE PIANO (2001) - Outra provocação do sempre inquieto Michael Haneke, adaptando romance de Elfriede Jelinek (ganhadora do Nobel de Literatura em 2004), publicado aqui pela Tordesilhas como A pianista. Mais uma grande atuação de Isabelle Huppert, que vive a perturbada instrutora do título, uma mulher fatiada entre seus desejos e obsessões e que descarrega em seus inocentes alunos toda sua angústia sexual.


SECRETÁRIA (2002) - Antes de Christian Grey arrancar suspiros das platéias femininas mundo afora, já houve um homônimo que alcançava o mesmo resultado, e de forma bem mais eficaz. Uma jovem consegue emprego de secretária de um bem-sucedido advogado, Mr. Grey, e, ao descobrir que ele tem uma natureza dominadora, se deixa seduzir pelo novo mundo, tornando-se sua escrava. Mais romance e menos sensacionalismo sadomasoquista espalhado em um roteiro que trata o fetiche de forma séria e adulta. Visto hoje, o filme acabou ganhando uma piada inevitável para os fãs da série The blacklist por conta de presença de James Spader: o passado de Raymond Reddington, quem diria, guarda um segredo sexual obscuro! Será que a inocente Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal) foi a "procurada nº 1"?

UM MÉTODO PERIGOSO (2012) - A trama acompanha a complexa relação entre os pais da psicanálise Sigmund Freud e Carl Jung e uma das primeiras mulheres psicanalistas da história, Sabina Spielrain. Um triângulo amoroso com direito a desejos pervertidos conduzido com sobriedade e frieza por David Cronemberg, aqui já liberto da fama de diretor maluquinho e maldito.

A PELE DE VÊNUS (2014) - Ainda inédito no Brasil, o último filme de Roman Polanski é uma competente adaptação de um clássico da literatura erótica, A vênus das peles. Trancados em um teatro após uma sessão de ensaio, diretor e atriz principal de uma peça discutem sobre diversos assuntos, invertendo os papéis sociais e sexuais que lhes são normalmente conferidos. Um duelo de interpretações entre Mathieu Amalric e Emanuelle Seigner.

Livro Explicativo Sobre BDSMWhere stories live. Discover now