Castanho Cor de Mel

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O sol ia iluminando meu quarto e eu encarava o teto, já tinha lido 3/4 do livro, faltava bem pouco, mas uma hora eu parei e o descansei em meu peito, fiquei imaginando tudo o que aconteceu naquele dia no bosque.

Decidi levantar e recomeçar a rotina... Banho, café da manhã e tarefas de casa. Era feriado, então não iria trabalhar. Tomei um banho gelado para despertar todo o meu corpo e não ficar com preguiça, fiz café, leite e estava descendo pra ir à padaria, no caminho topei com alguém que estava de mudança no andar de baixo, tinha algumas pelúcias espalhadas no chão e entre elas estava um pequenino Jake! Tentei ser amigável...

- Oi, bom dia, quer ajuda ? - O cara parecia ter uns 27 anos, a barba estava por fazer e usava óculos de armação fina, ficava bem nele.

- Bom dia! - ele segura os bonecos apenas com um braço e estende a outra mão para me cumprimentar. - Parece que você está de saída, não quero incomodar.

- Tudo bem. Seja bem vindo. - uso o meu melhor sorriso.

É difícil achar pessoas que gostem desse desenho, a maioria acha idiota, mas eu vejo além, gosto da amizade de Finn e Jake porque eu já tive amizades assim, mas quando decidi mudar de estado e morar sozinha, deixei tudo para trás... Amigos, familia, colegas e etc.

Fiz essa mudança porque precisava de algo novo na minha vida, queria sair daquela cidade que já não me oferecia nada de bom e que só me trouxe dores. As pessoas por quem me apeguei lá, fizeram questão de quebrar minha confiança, minha familia já não parecia estar funcionando, mas fingíamos que estava tudo bem. E aquela garota... Meu primeiro amor, o qual eu julgava ser de verdade... Limpei os olhos do que pareciam ser lágrimas, pois prometi que nunca mais choraria ao lembrar dela, entrei na padaria, tinha muita gente, demorou mas fiz o pedido, fiquei aguardando quando sinto um abraço forte por trás e aquele cheiro do bosque. O perfume de cereja.

- Uou! Quem é ? - eu disse me soltando do abraço, porém já sabendo quem seria, meu coração acelarava conforme eu virava para vê-la.

- Eu! Hahaha! Olive! Ué, você mora por aqui ?! - Ela sorria muito.

- Hã... Moro. Bem ali. - apontei para o condomínio.

- Nossa! Você estava por aqui esse tempo todo... tão pertinho. Coincidências...

- Na verdade, eu morava em outro estado, mudei há pouco tempo.

Meu pedido saiu.

- Bem, faz o seu pedido que vou te esperar. - quando olhei bem para ela, percebi que ainda estava de pijama (fiquei rindo mentalmente).

- Que foi ?! É por causa do pijama ?! - ela percebeu que eu a encarava. - É que eu acabei de acordar.

- É engraçado, porque quase ninguém mais sai de pijama para ir à padaria, isso já foi muito comum antes.

- Ah... Pronto. Vamos.

Eu estendo o braço pra ela e ela o agarra forte. Percebo que estamos tomando o mesmo rumo.

- Você mora aonde Olive ?

- No condomínio em frente ao seu. Pera, olha pra mim. - ela para e me faz parar também.

Então eu olho, ela fixa em meus olhos...

- Seus olhos são castanhos, muito lindos, claros da cor do mel. - então ela segue andando com um sorriso de canto.

Sorrio também. "Castanhos cor de mel". Então continuo...

- Estranho a gente não ter se esbarrado antes. - Eu achei bem estranho mesmo, até me tocar de que eu não saía quase nunca de casa, apenas para trabalhar e sempre com pressa.

- É que eu raramente fico em casa, gosto muito de sair com meus amigos.

Agíamos como se não tivéssemos conversado à noite, eu achei melhor não tocar no assunto, parecia que já éramos amigas. O caminho até em casa ficou bem mais curto tendo ela como companhia, quando ela solta meu braço para abrir o portão eu solto palavras sem pensar.

- Quer vir almoçar comigo hoje ?

Nem passou pela minha cabeça que eu não sabia o que fazer, ou se ela acharia estranho... Sei lá, apenas chamei.

- Adoraria! Que horas ? - ela sorriu envergonhada.

Olhei o relógio e já eram 8h47.

- Venha ao meio dia. É só me ligar que eu jogo a chave pra você entrar, o meu número ta no Facebook. - fui me distanciando até a entrada do condomínio, coloquei a chave na fechadura e a girei, quando virei para olhar se ela ainda estava lá, apenas encontrei o olhar do zelador, virei rápido e entrei.

Tomei o café e corri para arrumar a casa. Lavei as louças, varri o chão, tirei a poeira dos móveis... Fiz muita coisa! E quando olhei a hora, putz! 11h35!

- Ai meu Deus! O almoço!

Corri para a cozinha e por sorte o frango já estava descongelado, pensei em fazer estrogonofe, seria rápido.

Quando deu meio dia em ponto meu celular tocou.

- Alô ?!

- Oi Cris, já estou aqui em baixo! - era a voz que eu reconheci de imediato. Olive. Ela veio mesmo!

- Ah, sim. olha pra cima.

Fui para a janela e ela aguardava lá, olhando de baixo, me procurando. Acenei pra ela, mirei e soltei a chave.

- Apartamento 201. - Gritei.

- OK.

Volto para a cozinha e já está quase tudo pronto. Menos uma coisa... Eu. Droga! Fiquei limpando tudo e cozinhando, acabei esquecendo de tomar banho.

A campainha toca.

Caminho até a porta e ela sorri meio sem jeito pra mim, esperando que a convide para entrar.

- Te daria um abraço, mas estou suada e suja de limpar a casa.

- E o almoço ?!

- Quase pronto. Você fica olhando enquanto eu tomo um banho ? É rápido. - digo já entrando no banheiro.

- Tá né... - é só o que escuto.

Lavo-me rápido, enrolo a toalha em torno de mim e corro até o quarto, começo a vestir a roupa quando sinto a presença dela, ainda faltava colocar a camisa quando viro e me deparo com ela olhando fixamente para mim.

- Ai que susto! E a comida ? - digo.

- Shhhh! - é só o que ela responde, então vem em minha direção.

Ela chega tão perto que sinto a sua respiração. Percebo que sou alguns centímetros mais alta que ela e naquele momento não consigo ter nenhuma reação. Ela se levanta um pouquinho e me dá um beijo. A princípio, eu fico de olhos abertos, incrédula, mas logo cedo ao toque dela...

Sinto sua mão no meu pescoço puxando-me para ela, beijando-me como se já nos conhecêssemos há anos e eu tivesse viajado por um bom tempo e voltado, então esse seria nosso reencontro, talvez isso não seja coincidência. Não consigo mais pensar, só não quero largá-la. Seguro sua cintura e não deixo ela se afastar. O beijo dura um bom tempo, mas ali, com ela, parece que o universo todo parou pra gente, para nos observar.

Paramos o beijo, respiro devagar e a abraço forte, é algo meio estranho, mal a conheço! Mas ao mesmo tempo eu quero conhecê-la melhor, quero ter ela perto de mim. Mas então ela sai dos meus braços...

- Desculpa. - ela apenas sussurra e sai correndo.

Fiquei com os braços pendendo ao lado do meu corpo como se estivessem frios, ouvi a porta bater e deixei meu corpo virar pra trás, caí na cama e não consegui mais pensar em nada... Só nos lábios dela e na conexão que senti ao tocá-los.

"Que sensação estranha."

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