7- Cartas na mesa

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Me olhei no espelho pela décima vez.

Eu tinha mandado mensagem para Dan com o meu endereço depois de revirar os olhos até quase conseguir enxergar dentro do meu crânio ao ver que ele tinha salvado o próprio número como  "Amor da minha vida" com a foto do contato sendo uma careta divertida em que ele mostrava a língua para a câmera. Apesar disso, não mudei o nome, seria bom caso Kaíque acabasse vendo o número dele ali...

Meu celular vibrou com a mensagem dele avisando que estava chegando.

Tentei me esgueirar sem ser notada, mas a minha família estava toda na sala pouco espaçosa.

Papai estava jogado no sofá assistindo Frozen com os meus irmãos e mamãe estava à minúscula mesa de jantar mexendo em seu notebook com a cara fechada, concentrada no trabalho.

Meu pai assoviou e eu sorri, girando para ele ver o meu look que era basicamente jeans e camiseta branca.

— Você está linda — meu pai disse em voz baixa. — Vai para algum desfile?

Dei risada, brincando com o cabelo, encabulada.

Papai fazia parecer que eu era uma modelo na passarela independentemente do que eu estivesse vestindo. Tinha certeza que, se eu vestisse um saco de batatas, ele diria que parecia ter sido desenhado pelo próprio Giorgio Armani especialmente para mim.

— Não, só sair com a galera da escola — respondi baixinho e ruguinhas surgiram ao redor dos seus olhos escuros quando ele sorriu, satisfeito por eu finalmente estar fazendo amigos.

— Chaves? —  ele perguntou e ergui o meu chaveiro para mostrar. 

— Carteira?

Abri  bolsinha e mostrei para ele.

— Camisinha? — ele arqueou as sobrancelhas sugestivamente.

Senti o sangue subir todo para o meu rosto. Levei a mão para tocar a bochecha tão quente que parecia em chamas.

— Pai! — reclamei destrancando a porta. — Não vou precisar. É uma saída em grupo.

— Seguro morreu de velho — recitou o seu provérbio favorito com aquela voz grave. — Camisinha?

— Carteira — resmunguei.

— O que é camisinha? — Analu perguntou, interessada, olhando para mim com os olhos imensos.

Dei risada e abri a porta, praticamente me jogando no corredor. Papai gaguejava para tentar responder enquanto minha mãe tinha os olhos cor de avelã cravados no marido.

Desci a escadaria para a entrada do prédio quase correndo.

As paredes do pequeno hall eram pintadas de salmão e ele sempre tinha cheiro de sabão em pó porque a lavanderia ficava atrás de uma das três portas de madeira que se espremiam ao redor. Era um espaço bastante feio, mas ninguém ficava muito tempo ali.

O som de buzina me fez abrir a porta de vidro e saí para a noite fresca de verão antes de bater a porta para fechar.

Meu queixo caiu.

Eu estava esperando que Dan estivesse ostentando a Harley-Davidson que tanto amava, mas ele abaixou o vidro do carona de uma Dodge imensa e preta, sorrindo para mim.

Abri a porta do carro e me sentei no banco de couro negro, acuada contra a porta. Dan me olhou com um sorriso zombeteiro nos lábios antes de analisar o meu visual. Ele parecia bastante desapontado que eu não estivesse usando minissaia e cropped como as garotas que ele costumava sair.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora