12- Mágoa

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Eu estava afundando na água.

Bati os braços para cima e para baixo, esticando o pescoço  e respirando pela boca aberta, engolindo mais água que ar. Minha garganta estava ficando cheia de líquido.

Alguém me sustentou, contudo, descontrolada e assustada como estava, a pessoa que me segurava iria acabar afundando comigo.

— Sofia! — A voz feminina chamou, perfurando a bolha de pânico. Dani. 

Ela me segurou, lutando para manter nós duas vivas, mas eu era pesada demais e estava em pânico, batendo os braços desesperadamente. Meu Deus, nós duas iríamos morrer por culpa minha.

— Ei — Dan me pegou apenas com um braço, sustentando o meu peso e eu cuspi um pouco de água, arfando em busca de ar. Senti como se mil agulhas estivessem perfurando os meus pulmões enquanto ele me segurava com firmeza contra o peito sob os olhares aflitos dos nossos amigos. Dani se afastou nadando sem o meu peso para atrapalhar, mas manteve os olhos em nós quando subiu para a margem. — Acho que já está bom de sair da água, né?

Assenti, grata, e ele me colocou sobre suas costas como se eu fosse uma criança ou um macaquinho. Prendi as minhas pernas ao redor da sua cintura e os braços ao redor do pescoço.

Escondi a cabeça na curva do seu pescoço. A mão de Dan apertou a minha com força e ele me ajudou a descer de suas costas quando atingimos a terra firme.

Deitei nas pedras com os olhos fechados, absorvendo o calor do sol, apreciando o fato de que eu não morri afogada.

Depois do que poderia ter sido uma vida, meu estômago roncou, exigente, e a risada grave de Dan pareceu ecoar nas rochas ao nosso redor, me apertando contra o seu corpo magro.

— Acho que agora é a hora de comermos os seus famosos sanduíches — murmurou para mim. Assenti, de repente me sentindo acanhada. E se ele não gostasse?

Ele revirou a caixa térmica em busca de alguma coisa e me inclinei ao seu lado observando ele pegar uma  garrafa de Corona.

— Você não vai beber — briguei tirando a garrafa de cerveja da mão dele. — Pega o suco.

Dan revirou os olhos e alcançou o maço de cigarros que estava no pé de uma árvore no limiar entre a floresta e aquele recanto mágico.

— Puta merda, você é pior que o meu pai, sabia? — criticou acendendo o cigarro com o isqueiro prateado. — Toda vez que a gente sair você vai me impedir de beber?

Cruzei os braços encarando-o com raiva. Embora eu fosse uns bons dez centímetros mais baixa, não me deixei intimidar.

— Se você estiver dirigindo, sim!

Dan revirou os olhos e sugou uma longa tragada do seu Marlboro.

— Caralho, é por isso que você não tem amigos — reclamou.

Isso foi como um tapa na minha cara. Infantilmente, senti as lágrimas quentes se empoçarem nos meus olhos. Dei as costas para ele, irritada e constrangida, antes que as gotas gordas e idiotas escorressem pelo meu rosto. Cerrei o maxilar como se assim pudesse me impedir de chorar.

Comecei a andar sem rumo para longe dele, mal vendo as árvores, o riacho ou meus amigos.

Dan não tinha como saber o quão ferida eu era por ter perdido todos os que eu chamava de amigos até o ano anterior. Ele não sabia de muita coisa sobre mim. Ele não era meu amigo.  Só estávamos presos um ao outro por aquele acordo idiota. Assim que voltássemos para a cidade entregaria as malditas fotos e ele poderia ir para o inferno com elas.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora