22. bad luck

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DEITADA DE BRUÇOS NO colchão, Savannah balançava as pernas de um lado para o outro, tão inquieta que mal conseguia concentrar-se; ela estivera tentando ler os relatórios que imprimira antes de ir ao jogo desde que voltara deste, tanto que nem o uniforme de líder de torcida havia tirado, porém não fora capaz de ler nem cinco folhas dentre aquelas duas horas que cedera à investigação. Cada palavra que lia não parecia ser absorvida, de modo que ela tinha de reler. Quando o fazia, não prestava atenção. Relia. E não prestava atenção. E relia mais uma vez...

Ela estava presa naquele ciclo vicioso porque a verdade era que sua cabeça não passava de um turbilhão de pensamentos — pensamentos sobre torcedoras, sobre as suas responsabilidades e, infelizmente, sobre Felicia.

A jovem não pensava, pensava mesmo, em sua ex desde o ano anterior. Embora ambas fizessem parte do time de líderes de torcida, não se falavam, mal se olhavam. As outras garotas, sabendo do histórico entre as duas, montavam coreografias nas quais elas não interagiam, o que simplificava as coisas. Assim, era fácil para Evans ignorar a menina e tudo que tiveram juntas.

Contudo, as coisas agora estavam complicadas devido àqueles novos e constantes olhares furtivos vindos de Felicia. Sempre que os percebia, fosse em festas, treinos ou corredores, a heroína ficava furiosa. Em sua cabeça, aquelas encaradas não faziam o menor sentido, já que, quando terminaram no ano anterior, a loira havia dito com clareza que não queria nada com ela, nada dela, nada que a envolvesse.

Se era assim, por que a olhava tanto? Aquele questionamento despertava as antigas dúvidas da menina: houvera noites, nas primeiras semanas após o término, em que ela se perguntara se aquilo tinha acontecido de verdade, se o motivo para terem se separado era realmente "já ter cumprido o seu propósito de fazer ciúmes" — porque não era possível... A Felicia que conhecera não faria aquilo. Tinha de haver outro motivo!

Só que não tinha. Savy nunca descobriu um e eventualmente deixou de se importar. Não queria mais nada com a antiga namorada. Seguiu em frente, como havia feito com o seu primeiro namorado, um garoto chamado Caleb. (Um relacionamento que acabara em lágrimas, pois o menino teve de se mudar.) Agora, fazia piadinhas com Amelia sobre seus namoros fracassados e se sentia confiante para ficar com meninos e meninas em festas, apesar de não ter saído, simplesmente porque não queria, em nenhum encontro desde então. Quer dizer, isso se não contasse o encontro duplo com Lia e Ned e Peter.

Peter...

Talvez não quisesse admitir, mas o rapaz também não saía de sua cabeça. Não que houvesse algo errado em pensar no amigo, é claro. Entretanto, era um pouco estranha a forma como ela sorria somente por recordar-se do nome do perfume horroroso dele, que com certeza devia conter peixe podre na fórmula, não era possível. Ou como era esquisito ela ainda conseguir sentir o fantasma da alegria que sentira ao vê-lo nas arquibancadas. Antes de a partida de futebol começar, Ned estivera sozinho, e aí Peter havia aparecido depois. Era legal ter seus novos amigos indo prestigiar Lia e ela.

Era estranha a maneira como ela não se importara nem um pouco com o cheiro péssimo dele. Estranha a maneira como se sentira meio envergonhada ao abraçá-lo, o coração acelerado devido à excitação do jogo. E ainda mais estranha a maneira como tudo parecera parar quando ele lhe dissera "A Felicia provavelmente está arrependida. Afinal, por que não estaria? Quer dizer, olha para você!", tal qual um amigo consolando uma amiga, certo? Certo.

Savannah largou os papéis que tinha em mãos mais do que imediatamente e rolou para o lado. Recusou-se a continuar com aquele raciocínio. Recusou-se a sequer pensar no beijinho impulsivo que tascara na bochecha de Parker. Não, não e não. Seus olhos fixaram-se no teto, no lustre aceso e no ventilador ligado. Estremecendo com o vento sobre a pele exposta, ela tomou sua decisão.

SUPER ¹ ━ peter parkerWhere stories live. Discover now