Viane.

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Estar ao lado de Guto naquela pátio era no mínimo estranho porém bem necessário, ele continuava olhando para o corredor, mas eu conseguia notar que ele me fitava pelo canto do olho, eu não sabia direito o que dizer ou fazer, eu havia seguido ele até ali e lá estava eu completamente muda.

Ele deu um longo suspiro.

respirei fundo e fechei o punho tentando criar coragem, virei o corpo em sua direção e falei:

— Queria falar com você sobre antes ontem. – comecei, mas ainda não sabia como continuar.  —Sei que você só tentou me ajudar, me desculpa se eu fui grossa com você, eu fiquei com a cabeça cheia.

— Ele te jogou no chão, Viane.

Engoli em seco.

— Foi sem querer, você sabe disso ele nem viu que era eu, não posso culpar ele por isso as coisas saíram do controle e eu espero que isso nunca mais aconteça. – respondi tentando transmitir certeza, mas não sabia ao certo se havia conseguido.

Não parecia suficiente, eu queria falar mais, era como se as palavras estivessem entaladas na minha garganta e toda a coragem que eu tinha tivesse ido embora, não era justo ser daquele jeito já que sabia tudo que estava sentindo, mas não conseguia usar minha voz.

— Pelo jeito que você tá falando acho que já se resolveu com ele, não me admiro ele parece que tem uma boa lábia.. com todas.

Eu sabia que ele estava falando aquilo com a intenção de ser maldoso, eu poderia perdoá-lo por aquilo, já que Guto era sempre legal e doce comigo e eu não podia culpar ele por não sentir as coisas como eu sentia, por não ser como eu.

— Não vim aqui falar sobre o Henrique, vim aqui falar sobre nós. – agora sim eu havia conseguido transmitir certeza.

Sua boca estava contorcida e ele espetou o nariz no ar, enquanto apoiava as mãos no banco como se fosse se levantar, mas ele apenas virou o tronco para mim, aquilo me deixou de certo modo aliviada, seja lá o que eu ainda fosse falar ele parecia interessado em ouvir.

— Eu gosto de você.– ele disse docemente, com a voz baixa. — Você é uma pesso.. amiga muito importante pra mim e é difícil me esforçar pra ficar com raiva de você. 

Se esforçar?

Dei um sorriso de alívio.

— Eu não preciso me esforçar muito pra ficar com raiva de mim, eu sempre acabo fazendo alguma besteira e ás vezes demoro demais pra perceber, eu queria ter falado com você antes até, mas aconteceu tanta coisa. – falei igual um robô e ele sorriu. — Eu sei que é meio estranho eu ter seguido você e estar atrapalhando sua aula, eu nem sabia que você também curtia essas coisas de música.

Ele balançou a cabeça.

— Eu vou me apresentar no final do ano no teatro aqui da cidade com minha turma, vai ser uma apresentação bem longa e se a gente conseguir se classificar talvez até possamos nos apresentar em outras cidades. 

Olhei para ele com um misto de surpresa e ânimo, não imaginava que Guto gostava daquilo ele sempre me pareceu tão reservado, mas talvez a verdade era porque eu nunca havia notado ele de verdade e qualquer traço de sua personalidade que eu achava que sabia havia sido moldado pela minha própria cabeça.

— Poxa, isso parece muito bom.. eu vou assistir sua apresentação pode ter certeza. – falei o fazendo dar um sorriso tímido.

Estar com ele era muito mais leve tanto que eu nem sabia porque estava tão tensa e nervosa, Guto era tão calmo e acolhedor, eu não precisava me desesperar pra escolher as palavras certas porque elas vinham naturalmente e nossa conversa se desenvolvia assim, não parecia que tinha ido até ali para pedir desculpas, não parecia que estávamos mal um com o outro.

— Posso arrumar um ingresso pra você e no máximo pra Duda e a Grazy também, mais ninguém. 

Virei o rosto para esconder o sorriso.

— Eu já entendi o recado, ele não vai estar lá e eu até acho melhor vocês não ficarem no mesmo ambiente por enquanto, já que não se gostam tanto.

Aquilo era no mínimo um eufemismo.

— Bem.. azar o dele porque eu vou na sua escola para o show de talentos e se ele tiver algum problema comigo lá, o problema vai ser todinho dele. – disse ele com a voz grave.

Senti minha respiração ficar mais pesada.

— Você sabe que eu não vou me apresentar. 

Ele revirou os olhos e fez uma careta engraçada de desaprovação.

— Você é uma ótima cantora e tem muita chance de ganhar, e tem muita gente que te apoia, sei que não sou a melhor pessoa pra aconselhar sobre isso, mas você vai precisar deixar seu medo de lado, vai precisar fazer isso.

Encarei o mesmo.

— Por que?

— Porque você esta viva e é isso que as pessoas fazem quando estão vivas, elas arriscam. – suas palavras traziam motivação eram quase como alguma droga.

Eu me sentia quase considerando a ideia, eu gostava de cantar e aquele concurso havia me animado de certa maneira, mas eu não queria competir com minha prima porque de certa forma era como se estivéssemos sempre competindo.

— Sei no que você está pensando.

Claro que sabe.

— E o que é?

— Sua prima, eu sei que ela é bem assustadora quando quer ser, mas você não tem que ligar pra isso, eu acho que você tem potencial pra ganhar dela, esquece os outros anos e se concentra nesse.

Talvez ele tivesse razão e se no fundo fosso isso que eu quisesse? Eu ainda não sabia direito precisava pensar com calma naquilo, e em muitas outras coisas, mas acho que não faria mal eu pensar primeiramente em mim antes de qualquer coisa, talvez fizesse um bom tempo que eu não fazia aquilo.

— Eu vou pensar sobre isso. Eu juro.

Sua boca se curvou em um sorriso, e eu tomei coragem para segurar sua mão foi tão rápido que ele nem tocou quando eu peguei ela com minhas duas mãos, seu rosto ficou ligeiramente vermelho e lá estava aquele Guto tímido que eu conhecia.

— Obrigada por isso, eu pensei que você ia me odiar ou não ia querer papo comigo, mas eu estava enganada, como em muitas outras coisas.

Como Arrumar Um Namorado Em 17 DiasWhere stories live. Discover now