Memórias

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Quando Luffy chegou a porta da casa de Zoro, ele não bateu na porta de imediato. Se ele o fizesse, Zoro veria que ele estava com dificuldade para respirar — devido à correria — e que seus olhos estavam molhados e, possivelmente, vermelhos pelo choro que deixou escapar enquanto corria.

Luffy não podia deixar que Zoro o visse assim. Zoro era uma das poucas pessoas que o tratavam como um ser humano normal que por acaso tem câncer, e não como 'o garoto incapacitado'. Ele tinha que mostrar que ele ainda merecia ser visto dessa forma, ele não podia mostrar de jeito nenhum sua fraqueza, seu medo e sua insegurança. Ele tinha que mostrar que continuava sendo o forte e alegre Luffy de sempre.

Quando o moreno conseguiu respirar normalmente outra vez e limpar o seu rosto que ele esperava estar de volta a sua coloração comum, ele bateu na porta. Lá dentro, ele ouviu alguém se mover e os passos de, obviamente, Zoro se aproximando da porta.

Ao abrir, o esverdeado encarou com uma sobrancelha levantada o rosto sorridente de seu amigo mais antigo a sua frente. "Sabe que horas são?"

"Não é de madrugada, você não deveria estar reclamando, Zoro." Luffy disse após forçar uma risada. O menor entrou na casa sem nem a permissão de Zoro e se sentou no sofá, — que aliais estava em meio a bagunça que o amigo chamava de sala. — esticando os seus braços que doíam por ter carregado seu tanque de oxigênio até ali.

"Por que a visita?" O mais velho perguntou e se sentou ao lado de Luffy no sofá, trocando de canal como se a situação não o intrigasse. Mas ela intrigava, estava na cara.

"Eu não posso passar a noite na casa do meu querido amigo?" Luffy forçou outro sorriso e virou seu rosto completamente para Zoro na esperança de convencê-lo de que tudo estava bem.

Zoro nem virou seu rosto, ele só olhou para Luffy de rabo de olho rapidamente e voltou seus olhos a televisão a sua frente. O moreno segurou um suspiro que ele queria soltar devido ao alívio de Zoro não suspeitar nada.

"Eu te conheço a oito anos, aprendi a ler você como a palma da minha mão, Luffy." E lá se foi toda esperança que o moreno tinha em escapar de falar sobre seus problemas. "Você sabe que eu não me importo com você aqui, mas normalmente você aparece do nada na casa do Usopp, não na minha." Zoro enfim desligou a TV e se virou completamente para o amigo, seu olhar preocupado. "O que aconteceu?"

Luffy desviou o olhar para suas mãos como se elas pudessem lhe dar a resposta para aquela pergunta. Ele não queria que uma das únicas pessoas que o via como alguém forte pensasse que ele fosse indefeso, pensasse que ele merecia proteção. Ele não queria que Zoro começasse a fazer o impossível para ajudá-lo, aquilo só ia atrapalhar a vida dele, assim como atrapalhou o relacionamento de seu pai com ele e os seus dois irmãos.

"Eu sei que você tá pensando em mentir."

"E se eu tiver um bom motivo?"

"Quem se importa?" Zoro falou aumentando o volume de sua voz, levemente irritado pelo fato de Luffy simplesmente não contar o que aconteceu com ele.

"Eu fugi." O mais novo respondeu. Meias verdades ainda eram verdades, correto?

"Do Garp? Luffy, você não ia ficar tão estranho se você tivesse fugido dele outra vez. Não é só isso, é?"

Luffy grunhiu enquanto suas mãos começaram a coçar sua cabeça e a bagunçar seu cabelo em frustração, deixando o chapéu de palha cair em suas costas segurado apenas pelo fio ligado ao chapéu em volta do pescoço de Luffy. Ele realmente não queria fazer aquilo, ele não queria ter aquela conversa.

O moreno se levantou e pegou seu tanque pela alça de onde ele estava sendo carregado e começou a andar até a porta. Ele parou quando ouviu Zoro falar: "quais foram o resultado do seu teste de sábado?"

QuatervoisWhere stories live. Discover now