| reflexões. 1 ▪︎ o vento e eu |

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O vento abraça a minha pele e parece querer sussurrar algo, normalmente são coisas indizíveis - disparadamente as minhas favoritas.
Eu sinto que ele lê meus pensamentos; Seria ele capaz de me abraçar quando eu pedisse, caso não os lêsse?
Ah, eu o vejo traduzir os lamentos inexprimíveis da minha alma, transformando-os em sussurros invasivos e arrepiantes.
É, é assim a intensidade do que temos por dentro:
queima em nossos átrios;
palpita em nosso peito.
E o que a natureza vive tentando me dizer é que o que eu sinto é real.
Que eu existo e que inevitavelmente deixarei de existir.
As ondas me levam a relembrar que sim, não há nada que me impeça de ir.
Sou vulnerável,
e o toque carinhoso de uma brisa leve nos meus fios capilares, me faz sentir acolhida ao ponto de fechar os olhos e abrir os braços - e em seguida fechá-los como se pudesse prender o ar entre eles e abraçá-lo.
Não sei explicar o quanto isso alivia as minhas dores, os meus medos, aflições. Obviamente, ser fruto de uma escolha errada não é uma coisa que nos permita ter um analgésico onipotente capaz de nos proteger de todas as dores que possam existir.
Ora, não é notório que o que tem vida não pode se abster da dor?
Tudo o que dói, vive e tudo o que vive, de vez em quando dói.
Isso faz parte.
O ar frio em movimento levando consigo murmúrios noturnos, também faz parte.
Entretanto, não só de lamentações vive o vento.
Se fosse assim, não me faria querer fechar os olhos para sentí-lo mais vivo; mais que isso, acho que posso ouví-lo.
O meu coração sente que entende o que ele diz, mas a minha mente ainda não decifrou a sua mensagem.
Sigo tentando e vivendo, e amando, e doendo.
Assim eu sigo, sendo o que sei ser:
algo vivo, que vive porque dói
e porque dói, sabe que vive
- inclusive para amar.

25/07/2018.

Fragmentos MeusWhere stories live. Discover now