Medo ao Amanhecer

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Na manhã seguinte, uma aglomeração se forma em frente à academia Campbell. Atrás de uma faixa amarela escrita "CENA DO CRIME NÃO ULTRAPASSE" na entrada, curiosos espiam o interior do estabelecimento bastante agitado, porém não por clientes malhando como de costume e sim por policiais.

A xerife Cassid Hooper não demorar a chegar ao local, em sua viatura. Ela passa pela multidão, pedindo licença, e em seguida, por debaixo da faixa.

— Bom dia, Xerife Hooper — diz Kevin Nakata, um novato asiático de vinte e dois anos bastante entusiasmado. Ele possui um bloco de notas em uma mão e uma caneta na outra, além de um sorriso no rosto.

— Nem tanto, rapaz — a mulher fala, não estando de bom humor como o jovem. Ela tira os óculos escuros de aviador e pendura no bolso da camisa. — O que temos aqui?

— Assassinato — ele responde e lê o bloquinho de papel, repassando as informações. — A vítima é Justine Friedkin, dezoito anos. Ela trabalhava aqui, no último turno, como atendente. Foi morta depois que a academia fechou, por volta das 23h, no vestiário. — E aponta com a caneta para o lugar. Ambos vão até lá. — Quem a encontrou foi outra funcionaria, do turno da manhã.

— Coitada. — Cassid lamenta assim que vê o corpo da moça com os órgãos para fora. O chão e as paredes de azulejo, que antes eram brancos, agora estão vermelhos, cobertos de sangue. Um membro da perícia tira fotos da cena. — Ela tem a idade da minha filha. As duas deviam se conhecer.

— É bem possível — diz Kevin. — A Elena está participando do Miss Redlake, né? — Hooper assente. — A Justine também, ou melhor, estava. Eu sei disso porque minha irmã é uma das concorrentes. Mas voltando ao homicídio, a vítima teve o tendão do pé direito cortado. O assassino fez isso pra ela não fugir. Depois a estripou, abrindo-a do peito até a virilha. Ele provavelmente usou uma faca de caça pra isso, mas a levou junto com celular da garota.

— Encontraram digitais, fio de cabelo, uma pegada? — A xerife pergunta.

— Nada. — Ele balança a cabeça em negativa. — Parece até que ela foi morta por um fantasma.

— Não, foi só um crime bastante premeditado. Já verificaram as câmeras de segurança?

— Sim. As gravações da última semana foram apagadas.

— E a porta da entrada ou a dos fundos? Estavam abertas ou com sinais de arrombamento?

— Fechadas e intactas.

— O assassino conhecia Justine e tinha acesso fácil ao local. Pode ser alguém que trabalha ou frequenta aqui.

— Ou que seja próximo da vítima.

— Exatamente. Quero que interroguem todos que possam ter tido contato com ela: funcionários e clientes da academia, parentes, amigos, namorado atual ou antigo, colegas de classe, e inclusive meninas concorrendo à miss.

— Pode deixar.

— Em todos esses anos trabalhando na polícia de Redlake, eu nunca vi um crime tão brutal.

— Eu sei. Não é emocionante?!

***

Elena Hooper encara o próprio reflexo ao ser prensada contra o espelho do minúsculo provador, que agora parece menor ainda com Zoe ali, tentando fechar a parte de trás de seu vestido azul marinho.

A adolescente combinou de se encontrar mais cedo com Zoe, antes do horário da escola, na alfaiataria da família da amiga, os Shyamalan — os únicos indianos da cidade —, para ver se a vestimenta que usará no Miss Redlake precisaria de algum ajuste. Sua mãe, Cassid, lhe deu carona até a loja, localizada no centro comercial. A mulher, que gostaria de acompanhar a filha em tudo que envolvia o concurso, precisou seguir para o trabalho por conta de uma emergência.

SEU SANGUE LHE CAI BEMWhere stories live. Discover now