Desespero

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 À noite, quando Ruby chega ao trailer, carregando algumas sacolas de mercado, as luzes do interior do lugar estão acessas, diferentes de como as deixou antes de sair. A mulher coloca as compras sobre a mesa e se dirige a outro cômodo também iluminado, o quarto de Beverly. Lá, a mulher encontra a jovem apressada colocando de qualquer jeito as roupas em uma valise e em uma mochila. A adolescente, de costas para ela, não nota sua presença.

— O que cê tá fazendo? — Ruby pergunta.

A garota sobressalta de susto e se vira para a mulher. Ao parar de fazer as malas, solta:

— Indo embora. Vou morar com uma amiga.

— Alguém quis ser seu amigo? Eu tô bem mais chocada com isso do que com o fato de você tá vazando daqui. Essa menina por acaso tem algum problema mental?

— Pode me provocar o quanto quiser. Eu não ligo.

— Uma hora cê vai voltar e perceber que precisa de mim.

— Você é quem precisa mim! Sem eu ou o Hector vendendo suas drogas, você não é nada!

— Sua parasita do caralho! É só eu entrar numa crise que você já corre pra outra pessoa com condições melhores. Mas sabe de uma coisa? Vai chegar um momento em que sua "amiga" vai te chutar como seus pais fizeram porque ninguém se importa com você além de mim!

— Até parece. Você só se importa com você mesma! E agora tá desesperada, mas ainda assim não perde a pose, né? Nem no fundo do poço deixa a soberba de lado.

— Essa é a sua chance de desfazer suas coisas. Se atravessar aquela porta com elas, vai se arrepender.

O celular de Bev vibra e ela verifica o que é: uma nova mensagem de Dana.

— Minha carona chegou — a árabe avisa Ruby e termina de guardar as roupas restantes. Então pega as bagagens e passa pela mulher. — Até nunca mais.

***

Zoe cobre o último manequim com um lençol de plástico fosco para que não empoeire as roupas. Como passou o dia livre por não haver aula, a indiana se ofereceu para ficar no turno da tarde para a noite e fechar a alfaiataria. Seus pais hesitaram em deixa-la sozinha na loja, porém a adolescente os assegurou que ficaria bem, afinal o Hector está preso.

Alguém bate na porta da entrada. Zoe vai verificar quem é e se depara com Caleb em frente ao estabelecimento acenando para ela. De olhos arregalados, a adolescente paralisa de medo.

— Cê não vai me deixar entrar? — Impaciente, o rapaz chacoalha a maçaneta.

— Vou sim. — Com as mãos trêmulas, ela pega as chaves sobre o balcão e abre a porta. O atleta entra. Enquanto tranca a porta novamente, a garota olha a rua de um lado para o outro na esperança de haver uma viatura estacionada próxima dali, mas infelizmente não há, afinal já pegaram o assassino de Justine e Samara. Não existem mais motivos para a polícia lhe vigiar. — O que tá fazendo aqui?

— Depois do que aconteceu ontem no teatro, eu vim ver se você tá bem. Você nem respondeu minhas mensagens. Então eu fui na sua casa e seus pais disseram eu cê tava aqui.

— Eu precisei de um tempo sozinha. Ainda tô meio abalada com tudo que rolou.

— Relaxa — Caleb se aproxima da indiana e a segura pela cintura. — Vou fazer você se sentir melhor e esquecer tudo isso. — E começa a beijar o pescoço dela.

— Hoje eu não tô no clima — Zoe diz tentando se desvencilhar dele.

— E quando é que você tá no clima?! — O atleta a solta, irritado. — Ultimamente tá sempre arrumando uma desculpa pra não transar: a primeira vez foi a menstruação, a segunda foi dor de cabeça, agora é a garota que morreu e você nem era amiga.

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⏰ Last updated: May 26, 2020 ⏰

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