Chapter One

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14 anos atrás...

Era uma noite fria de inverno, a escuridão tomava as ruas pela falta de lamparinas. A maioria do povo estava em suas casas tentando se aquecer ou comer algo quente.

No final da rua Delcampor, havia uma casa, a mais simples daquela rua. Em um dos quartos no segundo andar, o jovem Victor de apenas 10 anos escrevia mais uma carta deitado de barriga para baixo no chão gelado e com uma vela o ajudando a enxergar.

A carta, ele escrevia todos os anos dês dos sete anos quando aprendeu a escrever com a ajuda um velho vendedor de relógios, que conheceu na praça de sua cidade. Ele escrevia para o grande Circo Arabeta vir a sua cidadezinha, para que ele possa levar a irmã mais nova, Elisa.

A irmã tinha 5 anos, dormia serenamente na cama que os dois dividiam. A mãe de ambos morreu a dois anos por causa de uma doença que afetou parte do país, o pai virou alcoólatra e não trás dinheiro suficiente para casa por conta do seu trabalho como empregado de uma casa de ricos que não lhe pagavam bem.

O circo Arabeta era o mais famoso do mundo, diziam que usavam magia de verdade nos truques, as noites de espetáculos eram longas, a comida parecia vir de outro mundo e a alegria nunca se encerrava.

Todos queriam ir e Victor queria levar sua irmã para a alegra-lá, fazê-la rir de novo.

O menino terminou de escrever a carta com erros ortográficos e a colocou debaixo do travesseiro. Deitou ao lado da irmã a aquecendo por causa do frio, na manhã seguinte ele iria enviar a carta.

9 anos depois...

Victor cresceu virando um garoto de 15 anos que fazia apenas uma coisa da vida: Roubar.

Com as poucas riquezas da família caindo, Victor não conseguiu emprego que lhe agradasse então sua última opção era a vida criminosa.

De simples maçãs até os mais belos cordões nos pescoços das donzelas. Victor achava que era um talento que nasceu com ele, mas era só prática.

Sua irmã ainda brincava de bonecas feitas de pano, roubadas por Victor. Seu pai Erick frequentemente batia no garoto, o chamando de vagabundo e emprestável.

Victor continuava escrevendo as cartas, não perdia a esperança. Persistência era uma palavra que lhe caracterizava, uma vez por mês mandava a carta escrita a mão mas não tinha resposta.

O sol já passava do meio dia, Victor andava pelo centro da cidadezinha procurando um alvo.

- Estude seu alvo e descubra suas fraquezas.- o rapaz repetia a frase dentro da sua cabeça.

Seus olhos logo bateram em um homem de terno, em seu pulso brilhava um relógio que Victor chutou ser de prata. O homem estava distraído na barraca de doces de uma velha senhora.

Victor ia se aproximar quando alguém o chamou.

- Ei garoto!- ele olhou para os lados.- Você mesmo, chegue mais perto.

Victor olhou para o lado e viu uma garota aparentemente da sua idade. Possuía cabelos pretos como a noite e amarrados em uma trança caindo sobre seu ombro direito, olhos cor de mel que possuíam um brilho diferente e usava roupas esfarrapadas. A garota estava sentada em um banquinho de madeira e com os cotovelos apoiados em uma caixa do mesmo material.

O garoto se aproximou colocando as mãos nos bolsos das calças surradas.

- O que quer?

- Quer jogar um jogo?- a garota diz tirando um baralho do bolso da saia e colocando em cima da caixa que servia de mesa.

- Olha, eu tenho coisa melhor para fazer.- Victor se vira e viu seu roubo do dia indo embora da barraca até entrar em uma carruagem.

- Parece que não.- a menina diz e Victor a olha com um pouco de raiva.- Um jogo apenas.

- Tá.- o garoto diz revirando os olhos. A garota embaralha as cartas e Victor até arregala o olhar pela velocidade que ela conseguia embaralhar.

- Escolha uma carta.- a garota diz abrindo o baralho na mão virado para baixo. O garoto bufa e tira uma do meio, era o Coringa.- Coloque no baralho novamente.

O garoto colocou e novamente o baralho foi embaralhado. A menina as vezes intercalava seu olhar no garoto e no baralho.

- Estende a mão.- Victor fez e a menina apenas coloca o baralho todo na palma de sua mão.- Procure a sua carta.- a garota diz cruzando os braços com um sorriso malandro.

Desconfiado, Victor abre o baralho e não acha a sua carta em nenhum lugar.

- Cadê ela?

- Talvez seja porque você está olhando muito de perto.- A garota se levanta.- Quanto mais perto se olha, menos se vê.- o garoto olha confuso e até pensou que a menina era louca, a garota apenas tirou o baralho de sua mão.- Muito obrigada e tenha uma boa tarde.

A menina sai andando como se nada tivesse acontecido.

- Menina malu...- Victor colocou a mão no bolso direto de trás da calça e sentiu algo nele, o pegou e viu que era a carta Coringa.- Como ela fez isso?

Victor saiu correndo virando a esquina que a garota virou mas não tinha nenhum sinal dela.

- Quanto mais perto se olha, menos você vê?- o garoto repetiu passando a carta coringa entre os dedos da mão esquerda.

Circus of cardsWhere stories live. Discover now