Chapter Fourteen

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[ Esse capítulo pode ser pesado para algumas pessoas, uma forma de gatilho.]

As horas se passaram e os dois conversaram e riram para destruir o medo dentro de ambos.

O prazo do intervalo poderia se inspirar a qualquer momento, os dois estavam com suas armas e de pé perto da lareira.

A chuva parava aos poucos.

A tensão ficou no ar, a respiração de Scarlet ficou um pouco alterada. O medo de não conseguir, de falhar estando tão perto do seu objetivo.

De sua liberdade, a liberdade do circo.

Victor pegou a mão da garota, fazendo ela o olhar. Um gesto para tentar acalmar o rosto tenso de Scarlet.

Victor estava com medo, de não ver mais sua irmã e seu melhor amigo. Não ligava mais para o seu pai, apenas para aqueles que realmente o amam.

E bem no fundo, estava com medo de nunca mais ver Scarlet. Ela parecia e mostrava ser uma boa amiga.

- Victor.- o garoto olhou para o rosto de Scarlet.- Você sabe o significado da carta que você pegou, no dia que nos conhecemos?

Victor se lembrou da carta, guardou a mesma na gaveta do seu criado mudo, não sabia o porque.

- O coringa? Não, não sei. Nunca fui muito bom em jogos de cartas.

- Ele significa...- antes de Scarlet terminar de falar, o fogo na lareira se apaga e a sensação de transporte atinge ambos.

Victor estava com os olhos fechados, quando não sentiu o aperto de Scarlet na sua mão ou sua presença, abriu eles imediatamente.

Victor estava em uma pequena sala toda branca, não tinha nem portas, nem janelas, nem móveis.

Estava sozinho.

Andou pela sala procurando algo de estranho mas não achou nada, socou cada parede vendo se alguma era falsa.

Porém todas eram de tijolos e cimentos, Victor percebeu quando seus dedos doeram.

Sua respiração estava acelerada, continuava a olhar para os lados procurando alguma saída, alguma criatura ou um sinal de Scarlet.

Nada.

Estava sozinho e esse era o medo de Victor.

A solidão.

O garoto continuou a andar pela pequena sala, seus olhos chegaram a doer pela claridade das paredes perfeitamente brancas, passou a mão diversas vezes nos cabelos pensando em algum jeito de sair.

Não tinha saída.

Victor apenas sentou no chão no meio da sala, o garoto repetiu diversas vezes mentalmente.

"Eu estou bem, minha irmã e Charles estão me esperando, Scarlet está em algum lugar tentando me achar, eu não estou sozinho."

Seu imprestável! Se não arranjar um emprego decente, acabará sozinho.

A voz do pai de Victor ecoou dentro da cabeça do mesmo, Victor balançou a mesma e voltou a repetir mentalmente.

"Eu estou bem, minha irmã e Charles...

Desculpa Victor, nós dois precisamos de dinheiro para sobrevivermos, achei que você fosse rico. Não quero me casar com você.

Agora foi a voz de Charity.

Depois veio à memória do dia que levou a primeira surra e esporro do pai.

O pai de Victor, o trancou dentro do porão da casa, a onde não tinha nenhuma luz. O garoto bateu na porta e implorou em lágrimas para o pai abrir a porta mas o mesmo o ignorou.

Ouviu Elisa protestar e o barulho de um tapa ecoar do lado de fora, a casa ficou em silêncio total.

Victor se encolheu em um dos cantos do porão escuro, jurava ver alguns vultos.

A memória da sexta vez que chegou em casa sem um trabalho, apareceu na mente de Victor.

O garoto abriu a porta levando um susto por encontrar seu pai, seu turno deveria ter acabado antes do que o planejado.

O homem emburrado olhou para Victor enquanto fechava a porta.

- E então?- sua voz era áspera.

O garoto apenas ignorou o pai e foi na direção das escadas.

- Mais é um bastardo.- Victor parou ao ouvir o resmungo do pai.- Sua irmã, que é uma mulher e mais nova que você, trás algumas moedas para casa com as roupas que faz. Você é um homem adulto, desempregado e ainda mora dentro da minha casa.- O pai de Victor soltou uma risada.- Não me surpreendo que nenhuma garota gosta de você.

Victor colocou as mãos na orelha e fechou os olhos, algumas lágrimas escorreram.

- Você fala como se fosse fácil, se mamãe estivesse aqui, tudo seria diferente.- Victor responde.

- Mas ela não está, está morta. Ambos nos casamos porque ela era a mais bonita das irmãs e eu tinha dinheiro, se me visse agora...também não estaria aqui.

- A culpa disso tudo é sua, não deveria ter gastado nosso dinheiro, a minha herança e de Elisa.- a voz de Victor levantou o tom, o garoto estava cansado, era sempre isso. Humilhado pelo próprio pai.

- Eu errei, mas o que vocês fazem das suas vidas não é problema meu. Sua irmã pode arranjar qualquer pretendem com grana, já você....- o homem olha a Victor com desdém, Victor podia sentir o cheiro forte de álcool mesmo distante.- Elisa vai se salvar, você pode morar na casa do marido dela.

- Chega.- Victor implorava baixo.

A imagem da irmã sendo casada com um homem veio na sua cabeça, ambos estavam rindo, felizes e com olhares apaixonados. Os dois estavam dentro de uma casa grande.

Victor via tudo isso da rua, sozinho. Com medo de entrar e a família do marido de sua irmã o confundir com um mendigo.

- Chega!- Victor diz pegando a pistola carregada e apontou para sua cabeça, o dedo pressionado no gatilho.

Os dedos tremiam, últimas lágrimas caíram dos seus olhos.

Acaba logo com isso, uma morte rápida é melhor que uma vida na solidão.

Deixe a morte te abraçar.

Então como um estalo, Victor se lembrou, do momento que sua irmã abriu a porta do porão e abraçou forte Victor.

De quando Charles o consolou  pelo termino com Charity.

Da forma que Scarlet o olhava quando estava distraído.

Victor abriu os olhos ainda com a arma apontada para a cabeça.

- Eu estou bem, minha irmã e Charles estão me esperando, Scarlet está em algum lugar tentando me achar, eu...- ele engoliu a seco e disse firme.- Eu não estou sozinho.

Apontou a arma para o teto e atirou no mesmo.

Para a surpresa de Victor, o teto se rachou como se fosse de vidro. O garoto cobriu seu rosto se protegendo dos cacos.

Victor sentiu algo balançar seu corpo repetidas vezes, seus sentidos se recuperavam aos poucos. Abriu os olhos e escutou.

- Victor!- Olhou para Scarlet ajoelhada ao seu lado com o olhar preocupado. O garoto apenas abraçou forte a garota, um alívio percorreu sua espinha.

Ele não estava sozinho.

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