Chapter Ten

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Victor abriu os olhos sentindo seu rosto encostado no chão gelado de pedra. Ele levantou o corpo sentindo um pouco de dor nas costas e em seu tornozelo pela queimadura.

Deu uma breve olhada em volta e percebeu que estava na vila do circo, mas ela estava apagada e mais sombria. Algumas casas estavam destruídas e barracas arruinadas, não tinha música e a iluminação era feita por apenas postes de luz amarelada.

Na sua frente um pouco mais distante, o corpo de Scarlet ainda estava deitado. Victor se levantou devagar.

Se ajoelhou perto da garota.

- Scarlet! Scarlet!- ele balançou a mesma que abriu os olhos respirando fundo. Ela fez a mesma coisa que o garoto, olhou para os lados vendo a onde estava.- Você está bem?

- Vou ficar.- a menina disse se sentando, soltou um gemido de dor quando seu ferimento na panturrilha ardeu.- E você?

- Também.- o garoto a ajudou a se levantar.- Onde estamos? É uma nova fase?

- Não, parece que é aqui que vamos ficar durante o intervalo. A vila do circo só que...destruída, abandonada e triste.- Scarlet diz ainda olhando ao redor.

- Temos que arranjar algum lugar para ficar.- o vento gelado abraçou os dois, fazendo eles tremerem.- E fazer uma fogueira talvez.

- Boa ideia. Vamos para aquela casa.-Scarlet aponta para uma casa a poucos metros.

Ambos andaram pela rua quase escura.

- Será que o circo vai ficar assim se a magia acabar?- Scarlet diz parecendo preocupada.

- Espero que não e não fique pensando muito nisso.

Os dois entraram dentro da casa abandonada, vasculharam cada canto e não acharam ninguém.

Eles foram para o segundo andar, para um quarto que tinha uma lareira apagada, sem mobília e com a única janela inteira. O resto estavam quebradas e não tinham portas em nenhum lugar.

Eles juntaram alguns pedaços de madeira que acharam pela casa, Scarlet estalou os dedos e o fogo ardente apareceu.

Os dois se sentaram próximos ao fogo, Scarlet colocou seu arco e flechas no chão ao seu lado e estendeu as mãos perto do fogo pegando o ar quente.

Victor fez o mesmo sentindo a sensação quente entrar por sua mão e ir para todo o seu corpo o aquecendo.

- Pelo menos minha magia funciona aqui.- Scarlet diz tirando a bota, ela puxou a calça até o joelho e começou a curar o ferimento fazendo expressões de dor.

Mas foi interrompida com o barulho de um sininho que ecoou pelo ambiente, parecia vir do lado de fora. O sininho tocou três vezes e depois voltou ao silêncio.

- O que foi isso?- Victor diz com sua mão próxima a uma das suas adagas.

- Mortes, três pessoas morreram.- Scarlet diz olhando para o menino e depois voltando para o seu ferimento.- Está ferido?- a garota perguntou assim que terminou de se curar.

- No tornozelo, nada grave igual o seu.

- Me da.- o garoto tirou o sapato e puxou um pouco a calça revelando a área bem avermelhada. A garota pegou seu tornozelo com cuidado e começou a cura-lo.- Parabéns por enfrentar o seu medo de altura.

- O que era aquela criatura?

- Seu medo, mas em forma de criatura, sem o dom que eu te dei você não veria ele. Da onde veio o seu medo de altura?

- Não sei, talvez...- o garoto relembrou algumas lembranças passadas.- Uma vez quando eu era pequeno, sem querer joguei a bola que brincava no telhado, eu escalei e peguei a bola. Mas quando eu olhei para baixo, era tão alto para mim naquela época, fiquei até o anoitecer preso no telhado sem conseguir descer.

- Como desceu então?

- Um casal me viu e o homem me ajudou a descer, minha irmã estava dentro de casa e meu pai estava trabalhando.- a menina terminou de curar e tirou a perna do garoto do seu colo.

- Só uma pergunta, você não tem medo de baratas né?- a garota diz colocando sua bota de novo.

- Não, por que?

- Nada, eu não iria gostar de enfrentar baratas, bichinhos asqueroso e nojento.

- Tem uma do seu lado.- o garoto diz e Scarlet se levantou em um pulo.

- Onde?!- ela diz se afastando e olhando o chão pouco iluminado, mas apenas recebe a risada do menino como resposta.- Canalha!

A garota bateu de leve na cabeça de Victor que continuava rindo, ela se sentou no mesmo lugar só que mais perto do fogo e abraçando seus joelhos.

Quando o garoto terminou de ri ambos ficaram em silêncio apenas ouvindo a madeira estalar no fogo.

- Minha irmã está vendo o espetáculo enquanto três pessoas morreram, a coisa mais cruel?

- Deve existir. Se eu assumisse o circo, eu iria exterminar esse jogo.

- Você não vai poder assumir?- ela negou.

- Meu pai sempre dizia que amava ter uma filha, mas sei que ele sempre sonhou em ter um filho para assumir os negócios da família.

- O que ele planeja para você?- Scarlet fez uma careta.

- Ele arranjou um casamento com o filho de um Juiz, mas quando o garoto viu quem eu era de verdade, cancelou o casamento e disse que eu era uma mulher impura e não era digna.

- Quem você é de verdade?- Victor perguntou olhando para a menina que ficou alguns segundos em silêncio.

- Uma mulher travessa que gosta de aventura, que não se importa em ser a filha ou esposa perfeita, não sei cozinhar, arrumo meu quarto as vezes e quase não costuro. Sou uma pessoa que não quer ficar presa por causa de um filho e ter um marido folgado que não me trata como igual.

Victor parecia fascinado como a garota se descrevia, realmente ela era diferente de todas que já conheceu.

Até sua irmã falava que queria logo se casar, cuidar da casa e seu marido.

- As vezes eu acho, que eu não pertenço a esse século.- Scarlet diz olhando para Victor.- Deve estar me achando maluca, desculpe por ter te falar a verdade.

- Não se desculpe por quem você realmente é, acho que você está certa. Eu lembro da minha mãe falando que eu deveria respeitar qualquer tipo de mulher e nunca a machucá-la. Infelizmente ainda temos homens que veem as mulheres como prêmios e não como iguais.- Scarlet sorriu para Victor e voltou a olhar para o fogo.

- Sua noiva tem sorte de ter você.

- Não tenho noiva, nenhuma chegou a ganhar meu coração.- Victor recitou uma frase romântica brincando.

- Meloso.- os dois riram ainda olhando o fogo que ficava mais acesso.

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Lembrando que essa história se passa no início do século XIX (1801-1900), então a cultura da época era o homem pedir a moça em casamento ou ter um casamento arranjado.

Tendo amor ou não na relação.

A mulher da época cresceu aprendendo a serem dona de casa, seu único papel era ser mãe e esposa, não possuía ambição profissional.

Sobre os negócios, se o homem não tivesse um filho para herdar, os negócios iam para o homem mais próximo da família.

Beijo 😘

Circus of cardsWhere stories live. Discover now