Capítulo 19

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Alex tirou os óculos escuros caminhando na direção de Elisa e ignorando a fila ao seu lado. Pôs as mãos no balcão e soltou o ar como um touro prestes a partir o toureiro ao meio.

_Sai detrás da droga desse balcão Elisa! _Alex desferiu com voz grave e gutural.

Elisa encarou o homem que estava atendendo lhe entregando seu pacote de pão.

_Nove reais senhor... _Repetiu o preço ignorando a presença de Alex.

_E quanto ao seu telefone? _Ele perguntou, também ignorando a presença de Alex. Claro que ele não sabia que alí estava seu marido, ou melhor seu ex. 

E a cara que Alex fez definitivamente lhe assustou.

_SAI DETRÁS DA DROGA DESSE BALCÃO AGORA ELISA! _Alex deu com a mão no balcão com força fazendo com que ela tivesse um sobressalto.

O olhar de espanto do cliente abusado e as caras mais esquisitas de todos na fila  e definitivamente fôra pega de surpresa com a presença dele alí. Estar frente a frente com ele depois de tudo a deixava trêmula e vê-lo falar daquela forma depois do que lhe fizera lhe causava indignação.  Passara a vida obedecendo as ordens daquele homem, atendendo suas necessidades e saciando seus desejos e mesmo com tudo isso ele lhe tratara como uma qualquer. Mas agora era outra, ele a tinha transformado e por mais que doesse mais que tudo, tudo que lhe fizeram, agora sentia-se dona de sua própria vida e aquele sentimento de subserviência e submissão ficara no passado. Afinal era muita cara de pau da parte dele... o que ele queria alí depois de tê-la expulsado de casa?

Uma tremenda ousadia depois de tudo ainda querer mandar na sua vida.

_Vai embora daqui Alex. _Elisa pronunciou por entredentes.

_Eu não vou repetir novamente Elisa. Tira já a droga desse uniforme vergonhoso e sai detrás desse balcão! _Ele lhe encarou ameaçador.

_Próximo por favor. _Elisa voltou-se para a fila.

_Bem, estou esperando meu troco. _O tal cliente abusado lhe sorria com uma pitada de atrevimento.

_Ah, me desculpe senhor. _E Elisa pôs a mão no caixa retirando uma moeda. _Tenha um bom dia senhor.

_Sim, terei, mas apenas se me der seu telefone.

Tenha santa paciência...

Elisa arfou viu Alex se voltar para o cliente com uma cara que dispensava comentários e logo previu um pandemônio.

_Alex por favor vai embora.

_É você que vai sair daqui. _Se voltou para ela possesso. _O que quer com isso Elisa? Me ridicularizar ainda mais? Já não foi o suficiente? Eu sei o que pretende com isso, pôr meu nome na lama, como o vilão cruel que abandona a esposa à míngua.

_Vai embora Alex!

_O que está fazendo é ridículo! Está pondo a vida do meu filho em risco.

_Hugo está muito bem obrigada. Agora se me der licença a fila continua crescendo e precisa andar.

_Bom, meu caro e você não está na fila não é mesmo? _O cliente falou diretamente para Alex. _E no caso eu sou o primeiro da fila.

Elisa viu Alex se empertigar.

_Senhor, mais alguma coisa? _Elisa encarou o cliente vendo sua paciência se esgotar.

_Sim, claro. O seu telefone por favor... _Riu com naturalidade lhe estendendo a caneta que estava no porta treco e um pedaço de papel de seu bloco de anotações.

Naquele momento sentiu suas mãos gelarem, a última coisa que queria era um Alex surtado fazendo barraco em seu local de trabalho já que o via alí chocado encarar o tal cliente abusado...

E lembrar do que ele fizera com Pedro além de deixá-la muito nervosa também lhe deixava com muita raiva.
E nesse exato momento Alex tomava a caneta das mãos do cliente e simplesmente a quebrava ao meio.

_O que quer aqui Alex!? _Elisa perguntou com raiva. _Já não foi suficiente pra você? Fala? Você me humilhou o suficiente acredite. Vai embora!

_Acha mesmo que ainda me importo com você? Estou aqui pelo meu filho a quem tem posto contra mim! Hugo não quer ir pra casa comigo e isso é culpa sua. Como ousa condenar meu filho a essa miséria? Acha mesmo que trabalhando de atendente de padaria pode dar um futuro a ele? Chega de se comportar como uma adolescente birrenta Elisa. Larga a porra desse emprego ridículo e vai cuidar do Hugo porque ele precisa de atenção.

_Me deixa cuidar da minha vida Alex. Em primeiro lugar eu preciso de um emprego pra cuidar do meu filho. Em segundo lugar, você não tem nada haver com isso!

_Ele é meu filho! E eu não vou permitir que ele passe dificuldades porque eu o amo e pelo visto você  que é uma egoista imbecil não pensa no bem estar dele.

_Vai embora daqui Alex!

_Você sabe que não precisa da droga desse emprego Elisa. Eu tenho dinheiro, sabe que só precisa pedir...

Elisa o encarou engolindo com dificuldade. Então era isso que ele queria? Vê-la se humilhar?

_Vamos Elisa. É só pedir...

_Eu... _Elisa fungou com ódio. _Eu morreria... a ter que te pedir esmola!

E ele a encarou longamente.

_Você não vai conseguir... sabe que não vai... não sem mim. _E pondo a mão dentro  do blazer retirou um maço enorme de notas e depositou em cima do balcão. _Você sabe que precisa. _E a encarou em desafio.

_Leve seu dinheiro com você Alex...

_Vamos Elisa. Foram três dias sem nenhum centavo, sem suas roupas, sem telefone, sem um teto pra chamar de seu... vivendo do favor de outras pessoas. Quer mesmo continuar assim?

_Leve seu dinheiro Alex.

_Não.

Possessa Elisa  pegou o maço de notas e retirando o elástico fez algo totalmente inesperado.
No segundo seguinte uma chuva de notas azuis caia por todo o ambiente da padaria. E não era só Alex que a encarava chocado, todas as pessoas pareciam incrédulas com aquilo, mas já era, no segundo seguinte todo mundo se estapeava para pegar as notas enquanto Alex ali parado a encarava estarrecido e o outro abusado estava de boca aberta embasbacado.
Elisa apenas olhou de um para o outro.

_Eu não estou a venda!

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