Capítulo 8

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Capítulo 8

O comandante Henrique ainda tentava assimilar todos os parâmetros. Freitas Já lera o DNA inteiro e sabia que o tecanol pertencia ao Instituto Federal de Biogenética da Gávea. Estavam cruzando as informações para chegar ao biogeneticista. Deveria ser ele a testemunha. Matar um biogeneticista! Os drones haviam perdido o controle. Conectou-se com o Comando Estadual de seu próprio aparelho para denunciar Crasso. Apenas comunicaram-lhe que estariam recolhendo o ciborgue para avaliação dentro de 2 horas. – E por que não agora? "Ele está em operação nos limites da cidade, quando voltar, teremos respostas".

Não ficara nada satisfeito. Se tinha violado tantas normas deveria ser recolhido imediatamente. O que estava acontecendo com o Condão?

Repentinamente o alarme soou. O comandante virou-se abruptamente.

— O que está acontecendo?

— Tentaram invadir o banco de boletins de ocorrências. Temos o local físico. As portas foram travadas.

— Já temos câmeras?

— Sim comandante. Códigos 11, 14 e 18.

— CAM! ELEVEN! CAM! FORTEEN!

Uma câmera de rua e uma interna. A primeira pegava todo o salão.

— CAM| RIGHT! EIGHTEEN!

A segunda câmera agora apontava para a lateral do local. Havia uma porta aberta! Num instante a porta ficara atulhada de pessoas com roupas pretas engraçadas, salpicadas de pontos prateados. O terminal usado para o acesso já havia sido abandonado e as pessoas saíam do edifício às pressas.

— Por que esta porta está aberta? Aspirante Matta! Retroceda a câmera e veja quem estava no terminal.

— O garoto obedeceu e num instante estava revertendo o vídeo da câmera de segurança. Focalizou o terminal e aproximou a imagem. – Há dois deles! – Avançou. – Parece que partiram junto aos outros, misturando-se. A saída! Eles se abaixaram e se puseram no meio de todos! Não dá para saber quem são quando saíram. Vou tentar identificar alguma parte da roupa e estabelecer um link entre os vídeos.

3 minutos depois já havia vários drones aéreos no local. A porta estava vazia. Alguns jogadores de simulador haviam parado em frente à porta central, achando se tratar de algum acidente interno. Outros continuaram. Os drones seguiram os que avistaram. Alguns entraram em prédios outros provavelmente no metrô. Seguiriam todos, mas a urgência era o trem a vácuo. O comandante enviou seu drone. Reparou que havia mais dois ao seu lado seguindo na mesma direção, mas não havia mandado a ordem.

– Não acredito que aquele androide desmiolado vai querer atirar em alguém no metrô.

Por via das dúvidas, voltou seu drone para o drone à sua esquerda e disparou uma pequena carga eletromagnética. O drone se estatelou no chão. Viu que a nave à direita o escaneou e identificou o comandante no controle, que virou o canhão e atirou. Em uma manobra absolutamente improvável o drone escapou do comandante. Daria para fazer um jogo de gato e rato com tiros eletromagnéticos. Mas o risco de ferir alguém era demasiado para que o comandante aceitasse. Só restava uma última tentativa. Num mergulho direcionado por um feixe zimmer acertou o centro do drone por baixo. Nenhum dos dois chegaria ao metrô.

***

Crasso Estava suspenso no ar, cerca de 300 metros acima do Museu da Candelária, onde teria a chance de lançar escâneres para um vasto espaço.

— O comandante não compreende. Não tem conhecimento suficiente para entender. Seu raciocínio instintivo, intuitivo e emotivo não o permite ponderar todo o problema. Além disso, não tem as variáveis necessárias. – Argumentava sobre a informação enquanto processava as probabilidades de biogeneticistas prováveis de serem o suspeito. Restavam 30 fora do instituto e 70 dentro. Mandou um drone para a casa dos que estavam fora. Para cada um verificava todo o histórico de trás para frente para detectar quantos haviam pegado tecanol para consumo. Incríveis 75%. Mas sabia que os outros 25% poderiam tê-lo pegado longe das câmeras, em algum ponto cego encoberto. Tratavam-se de mentes aguçadas. Não havia QI abaixo de 160 no Instituto. Teria que refazer com mais cautela os passos de cada um. Também procurava comportamentos anômalos. Os drones acharam a maioria dos biogeneticistas em casa, dormindo, outros no metrô, outros fazendo compras ou no cinema. Nenhum comportamento estranho. Iniciou novamente a varredura das câmeras da cidade. A probabilidade de ser homem estava em 93%. Além da queda do edifício do cais ter sido de um ponto elevado, o fugitivo tinha se levantado muito rápido. Se fosse mulher teria que ser atlética. Começou a traçar o perfil feminino levando em consideração a velocidade do impulso na hora que se levantou da queda do edifício e depois, quando saltara para o lado no beco após o tiro eletromagnético. A imagem realmente havia ficado desfocada. A onda afetara a câmera, já que os drones aéreos não estavam regulados para disparar rajadas tão fortes frequentemente.

Então o chamado veio. Haviam tentando acessar o BO dos garotos eliminados. Enviou dois drones aéreos que estavam próximos ao local. Chegaram em 3 minutos e 30 segundos. Demorou 3 segundos para mandar os drones para o metrô pois queria ter certeza de ter escaneado tudo. Acessou a câmera da estação imediatamente. Havia duas pessoas com roupas de borracha andando normalmente para a plataforma. Percebera um terceiro drone indo para o local e repentinamente um dos seus drones fora derrubado. O comandante pilotava o terceiro robô e parecia determinado a não permitir o cumprimento do novo protocolo pelo androide. Desviou-se facilmente do próximo tiro dado, enquanto observava os dois emborrachados aguardando o trem. Mas não esperava aquele novo passo do rival. O robô aéreo do comandante focou o raio zimmer diretamente no centro do seu drone aéreo. Não havia como desviar de um foco de raio zimmer precolisão, só quando fosse atingido. E foi o que aconteceu. Com as máquinas danificadas no chão, observou o exato momento em que os dois fantasiados pegavam o trem em direção à Praça da Bandeira.

O aspirante Freitas também observara o par de uniformizados pegando o metrô. Mas enquanto o comandante apressava-se agitadamente em enviar um pelotão de terra e ar drônico para a próxima estação a fim de interceptar os fugitivos, o garoto fazia algo diferente. O comportamento dos dois não condizia com uma fuga. Retrocedeu ainda mais a câmera da estação. Pronto. Dois indivíduos com uniformes pretos emborrachados apareceram correndo, cerca de 5 minutos antes dos segundos. Deviam ser estes.

— Comandante, outro par de fantasiados pegou o trem anterior. Provavelmente os que realmente procuramos.

O comandante parou por um momento. Não poderia interromper a primeira interceptação. Mas também não havia meio de parar os trens. Um trem a vácuo só é detido por uma força de ar comprimido contrária, que age como freio, mais ou menos intenso, dependendo de sua rarefação. Impossível parar apenas um trem em um sistema 100% sincronizado. Teria que parar todo o sistema e não estava disposto àquilo. Mesmo porque seria difícil alcançar o trem no tubo.

— Descubra em que vagão entraram e se já chegaram à próxima estação. Manterei o pelotão de interceptação na Praça da Bandeira.

— Esse é o problema, Senhor. Não parece que entraram no trem e nem saíram da estação. Meu palpite é que conseguiram de alguma forma encontrar um ponto cego e trocaram de roupa. Se entraram no trem, teremos que descobrir com que vestes.

Começou a fazer uma catalogação do filme de todos que entraram nos vagões e que desceram as duas escadas à plataforma. Cruzariam os dados para identificar a diferença. Eram mais de 300 pessoas entrando na composição, muitas aglomeradas. Criou rapidamente um algorítimo de otimização e pôs para rodar. 2%. 3%. Parecia que demoraria uns 15 minutos.

***

Crasso também percebera a anomalia comportamental. Estava acostumado a analisar respostas humanas emotivas às manifestações ambientais e aquela, em particular, não parecia se enquadrar em nenhuma resposta lógica. No vídeo, achou os dois fantasiados correndo na direção do trem 5 minutos antes e já identificara que não haviam entrado com o uniforme. Calculou peso e altura de cada um, descontando o excesso do uniforme. Acessou a gravação do grupo de 9 vídeos de cada um dos 10 supervagões, 150 pessoas por vagão, aproximadamente 1500 passageiros. Mas a análise era simultânea. Iniciou o cálculo de peso e altura individualmente, cerca de 5 segundos em média. Levaria no máximo 11 minutos para detectá-los.

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