Capítulo 11

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Capítulo 11

O comandante Henrique inquietou-se. Já havia 9 minutos que os drones buscavam sinal dos três rapazes nas encostas e nada haviam conseguido. Virou-se para Freitas.

— Aspirante. Algo está errado. Os drones não demorariam tanto para encontrá-los. Eles devem ter tomado outro caminho. Reveja o vídeo e tente achar o ponto de descontinuidade.

Verificou novamente a rua. Não havia nada, a não ser as portas dos prédios e as entradas para as galerias subterrâneas, intransponíveis, já que só abriam com as íris dos técnicos. Ordenou 22 drones de terra para esquadrinhar os 11 edifícios do lado esquerdo da via. Nesse ínterim, um civil se aproximou da rua, distraidamente. Os drones bloquearam sua passagem. O comandante virou-se para ele, pacientemente, e disse.

— Infelizmente você não pode passar, amigo. Esta área está isolada pela segurança estadual.

— Mas eu moro aqui.

— Houve uma fuga de três perigosos indivíduos. Não podemos pôr em risco cidadãos do Rio. Espere alguns minutos e tudo será resolvido.

— Perigosos? Então não podem ser os técnicos que desceram à galeria. Não pareciam nada perigosos. Mas estavam sem uniformes.

— Que técnicos? – O comandante sobressaltou-se.

— Os 3 que desceram aquele alçapão – apontou para a tampa no chão.

Correu para o local. Percebera como o mundo havia mudado. Dependiam das máquinas para tudo, para a vigilância, para as decisões. Agora, ironicamente, uma pessoa resolvera o problema. Interrogar ficara bastante raro há tempos. Tudo era inferido pelas máquinas através de deduções ou de provas adquiridas por elas. Cada vez mais se sentia culpado e na obrigação de esclarecer o que ocorria. O Comando Estadual ouviria o que tinha a dizer. Parou a frente do alçapão. O código era SG345777PH. Gritou o comando "OPEN" e repetiu a identificação. Seu dispositivo conectou-se à Central e o comando remoto abriu o alçapão. Chamou dois drones pela lente ótica, mas não esperou. Desceu correndo as escadas em direção à galeria. "Onde isso vai dar? Essas galerias são enormes". Pelo tempo que haviam sumido, cerca de 20 minutos, teriam corrido no máximo 8 quilômetros, isso se fossem atletas. No entanto, as subgalerias tinham muitas curvas e cruzamentos, além de abranger a cidade inteira. Crasso chegara junto com os drones do comandante, seguido por mais 2.

— Por que acha que vieram por aqui, senhor? A porta só abre com a íris dos técnicos.

— Ironicamente, alguém em quem você não confia me contou. Um humano.

Crasso controlava 2 drones de terra, ordenou que soltassem todas as aranhas. Cada drone tinha 7. O que somava 28, adicionando-se os drones do comandante. Era suficiente por enquanto. Mantiveram o formato de esferas, ligaram os escaneres e partiram, rolando em todas as direções. Alcançavam até 170 km/h em locais fechados e cobririam a área de 8 km de raio em menos de 3 minutos. Enquanto isso, Crasso acessava os mapas dos túneis. Existiam diversas portas para vários tipos de serviço. Acessou a rede de conexões de dados e cruzou com a das galerias auxiliares. Depois cruzou com a gigantesca malha de tubos a vácuo. De repente se deslocou para frente.

— Diabos, Robô! Reporte-me! – Disse o comandante, praguejando por não conseguir acompanhá-lo com a mesma velocidade.

— Creio que sei onde foram, comandante. – Parou em frente à porta metálica e abriu-a com facilidade. As luzes de emergência estavam acesas. Desceu à plataforma. Faltava um trem. Acessou novamente o mapa de tubos.

— Irei na frente com os drones de ar. Nos encontramos na estação de metrô a vácuo de Cascadura.

O comandante saiu logo atrás do robô ordenando, pelo dispositivo auricular, seu pelotão a entrar rapidamente no drone de transporte de tropas e esperá-lo ao lado do alçapão. Ao sair ainda pôde ver o androide disparando pelo ar. Seu drone de transporte não demorou a chegar.

Crasso levara apenas 3 minutos para chegar em Cascadura, passando sobre os limites da Cidade Abandonada, marcados pela antiquíssima Linha Amarela. Ninguém cruzava mais os limites havia alguns anos. Não havia interesse. Na mídia dizia-se que a população se concentrara no centro e Zona Sul e que nos bairros além da linha amarela havia pouquíssimas pessoas morando. Sua população era cada vez menor. Ninguém se interessava em passear por ruínas abandonadas com um número extremamente baixo de habitantes. As estações de trem a vácuo foram desativadas e as supervias desligadas. Os carros elétricos voltaram a funcionar para deslocar a ínfima quantidade de moradores. Tudo isso era verdade. Até há 2 anos, quando se iniciou o protocolo 23.

O robô desceu diretamente sobre a estação. Com uma enorme velocidade atravessou a plataforma e empurrou a porta de aço, quebrando-a e atirando-a ao chão. O trem estava lá, seus passageiros não.

Voltou a subir e lançou seus escâneres. Tinha feixes gama, mas no alcance resumido de 1500 metros não encontrou nada. Agora os outros drones mais lentos estavam chegando, inclusive o do comandante. Sobre todos, um enorme drone escâner gama com alcance de 10 km. Radiografaria os ossos dos fugitivos e os localizaria. Levar-lhes-iam sob custódia.

— Crasso! Diminua a Intensidade do feixe. Uma quantidade alta de raios gama pode esterilizá-los.

O androide achou aquela observação curiosa. Esterilizar não era um crime.

— O risco de fuga é grande Senhor. A chance de esterilizá-los é de apenas 12%. Temos que fazê-lo. – O comandante praguejou. Novamente estatísticas atropelando a vida e a integridade humana.

O escâner disparou feixes em um ângulo de 360º abaixo dos drones. Começou com um pequeno círculo de 1 metro e foi-se abrindo até que o círculo tivesse 10 km. Cuidadosamente, não permitiu que os feixes ultrapassassem o limite da cidade.

— Não há forma humana viva em um raio de 10 km. Muito estranho. Nem com um carro conseguiriam chegar tão longe. A única possibilidade é de terem entrado profundamente na terra ou conseguido um meio de bloquear o feixe.

— Que diabos – Praguejou. Desde a madrugada anterior aquele rapaz conseguia escapar dele e, mais surpreendentemente, do androide. Tinha que dar o braço a torcer. Ou era muito inteligente ou muito sortudo. – Continue as buscas, Crasso. Vou ao Comando Estadual. Algumas coisas precisam ser esclarecidas.

Condão   .Where stories live. Discover now