Capítulo 13

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Capítulo 13

Passara de meia-noite quando o Comandante Henrique entrou no Comando Estadual. 'Muitos drones', pensou. Nunca houvera tantos. O comando era um lugar para homens, não máquinas. Há muito desconfiava que a humanidade corria perigo. Não era de bom tom brincar de criador. Conceberam a inteligência artificial e agora as máquinas eram superiores em raciocínio e força. Para que teriam necessidade do ser humano agora? Dali para a frente só precisariam deles mesmos. O líder Jeremias havia sido imprudente nesse aspecto. Era tão inteligente e não previra isso? Lembrou-se de quando os robôs substituíram todo o sistema jurídico.

"Durante a era de ouro ficou claro que não havia mais necessidade de promotor, juiz ou advogado. O Condão era capaz de julgar e sentenciar ao mesmo tempo. Como o programa estava estruturado sobre os princípios constitucionais, mantivera-se o contraditório e a ampla defesa, mas tudo no mesmo programa. A princípio foram indicados observadores para avaliar a eficiência da máquina. Dispensáveis, pois o programa sempre sentenciava na mesma medida. Decisões estritamente técnicas. No direito penal a dosimetria era baseada nos padrões fixados na lei, o que evitava uma exacerbação ou mitigação da pena. Pouco tempo depois, retiraram os observadores. Só havia o Condão na resolução jurídica. Alguns anos depois, embutiram o programa nos drones. A partir daquilo, o juízo ia até o cidadão. Qualquer problema de ordem jurídica era resolvido "in loco". Bastava chamar os drones. Não demorou para que o Condão fosse também inserido nos drones de segurança. A sentença era dada no local da apreensão, antes mesmo da detenção. "

O comandante ainda era tenente nessa época. Servira um bom tempo na Força de Segurança, colocando corruptos na cadeia. Adorava o Condão por tudo que havia proporcionado à sociedade. Mas a ferramenta também continha a semente da Inteligência Artificial. Via o perigo que os drones proporcionavam. Se aquela bola de neve continuasse rolando, não se saberia com que força atingiria seu alvo. Só duvidava que seu próprio amigo estaria envolvido. O que ele ganharia com isso a não ser a própria morte? Será que lhe prometeram algum tipo de imortalidade em um mundo virtual? Não acreditava que isso seria possível, conhecia-o.

Chegou ao salão do comando. Era um enorme espaço redondo sem nenhuma viga. Maravilha das novas ligas metálicas ultraleves. Aproximou-se do amigo. Só havia os dois na sala.

— Aldren. Ainda posso dizer que é bom revê-lo, apesar das circunstâncias.

— Henrique, meu amigo. Sua presença é sempre satisfatória, em quaisquer circunstâncias.

Apertaram fortemente as mãos.

— Gostaria de estar com o mesmo aspecto tranquilo que você. – Disse o comandante nervosamente. Suas mãos suavam e a perna não parava. – Não sei como não lhe encaixa isso na mente, mas as máquinas estão notoriamente tomando conta de tudo. Aquele androide. Até sua face parece viva. Hoje foi capaz de dizer algo que a humanidade vem negando, talvez num bloqueio próprio da mente. Aldren... – olhou para o amigo, angustiado.— Ele disse que se as máquinas quiserem podem exterminar toda a nossa espécie, mas que não estão preparando nenhuma revolta cibernética. Até quando? Em algum momento seremos dispensáveis. Admiro-me que ainda estejamos vivos. Temos que reunir todos os comandos e planejar o desligamento total da Central. Não tenho a mínima ideia de como fazer isso. Caso não consigamos, teremos uma guerra.

O Comandante Estadual suspirou.

— Henrique. Não haverá guerra. As máquinas não tem interesse em acabar com a humanidade.

— Isso não tem lógica, Aldren. Se não fizermos algo viraremos fósseis. E pior: não haverá sequer registro de que estivemos nesse planeta!

O amigo riu.

Condão   .Where stories live. Discover now