37. Nossa Pequena Ariel👼

937 63 20
                                    


Letícia

Acordei com o barulho ensurdecedor de um telemóvel. Vi o Gonçalo com o meu telemóvel e olhava - o com uma cara assustadora.

- Quem é? - perguntei sentada na cama enquanto esfregava os olhos. Recordei - me da última vez que recebi uma chamada a estas horas da madrugada e não tinham sido Boas notícias. Esperava que o mesmo não acontecesse desta vez...

A sua face estava pálida e ele continuava a olhar para o visor. Saltei da cama e peguei o telemóvel da sua mão.

Na tela piscava o nome da mãe da Ariel e atendi com as mãos a tremer.

- Sim? - também a minha voz estava trémula e ouvi um soluçar do outro lado da linha.

- A nossa menina.... - deu uma pausa que só fazia o meu coração acelerar ainda mais. - a nossa menina foi - se. - desabei nos braços do Gonçalo que me me agarrou forte.

Os pais da minha bebé tinham - nos informado ontem sobre o estado de saúde da Ariel ter avançado muito rapidamente. Mas nada nos tinha preparado para que este momento acontecesse logo no dia a seguir.

Eu não conseguia controlar a minha emoção. As lágrimas não paravam de escorrer, as minhas mãos trémulas agarravam o meu namorado para que não caísse e o meu coração parecia não bater mais.

Hoje uma parte muito grande minha tinha morrido e seria impossível de recuperar. A morte é algo que nunca estamos preparados. Vem sem nem avisar. E quando chega mata-nos simplesmente, mas os que nos amam morrem lentamente e dolorosamente. É um sofrimento sem previsão de data final.

Não sabia o que fazer. Não saberia o que dizer quando visse os pais dela ou quando a visse. E neste momento, só queria os braços do meu homem e os meus bebés no colo, infelizmente um deles já não poderia mais ter. Então corri até ao quarto do Noah e abracei-o fortemente. Voltei para o quarto onde anteriormente estava e vi o Gonçalo suspirar por ver que não tinha fugido, possivelmente.

Deitei-me com os dois seres mais importantes da minha vida e assim fiquei até ao amanhecer. Não preguei olho um segundo sequer.

O Gonçalo acordou e viu - me sentada, com um olhar perdido e o coração vazio. Também ele estava destruído por dentro, eu sabia. Ele apegou-se a ela também. Ela espalhava o seu amor por onde quer que fosse. E hoje tornara-se um anjo que espalhará o seu amor no céu.

《♡♡♡♡♡》

Estávamos os dois no carro. Os meus pais e sogros já tinham entrado na capela, mas eu ainda não tinha tido coragem de ir até lá. Quando eles souberam da notícia também eles quiseram vir e eu agradecia imenso por isso. Também eles se apaixonaram pela nossa princesa.  Durante toda a viagem, o Gonçalo segurou a minha mão como demonstração que estava lá para mim.

- Não precisas de dizer nada. Todos entenderão a tua dor. Podes apenas mostrar aos pais da Ariel que eles têm quem os possa ajudar. Nós estamos cá. Nestes momentos não são precisas palavras... - Eu beijei levemente os seus lábios e encostámos as nossas testas.

O nosso olhar transmitia compreensão, amor e companheirismo. Era tudo o que precisava no momento.

De mãos dadas, seguimos até à pequena capela de pedra, onde algumas pessoas estavam aglomeradas no seu exterior. Todas elas num traje preto. Eu vestia um vestido rosa. A própria Ariel tinha-me dado este vestido e disse que eu teria de o usar quando fosse hora de a assistir ir para o céu. Nunca quis pensar nesse dia, mas agora que ele tinha chegado eu queria cumprir o que ela me tinha pedido.

Ao entrar, o ar estava pesado, e reparei nos pais da Ariel também com os seus trajes cor de rosa. Ela tinha preparado tudo para este dia, apenas nós não nos quisemos convencer disso.

Aproximei-me da Christine e do Tom e abracei aquela mulher que sofria mais que eu. Eu não queria nem pensar na dor de perder um filho... O marido pedia - lhe que ela se acalmasse, porque poderia prejudicar o bebé.

Abracei todos e, de seguida, caminhei até ao caixão. A sua cabeça já não continha nenhum cabelo. O seu corpo vestia um vestido amarelo que eu tinha comprado juntamente com ela. E ao seu lado estava o seu inseparável urso de peluche.

As lágrimas eram incontroláveis e eu queria mais que nunca abraçá - la. Pedir - lhe que abrisse os seus lindos olhos e que viesse para perto dos bebés que ela tanto gostava. Ela precisava de ver o irmão nascer, cuidar dele como ela dizia sempre estar a preparar - se...

O padre entrou para dar início à cerimónia. Todos se reuniram em torno daquela princesa agora sem vida. Caminhamos em silêncio até ao lugar onde ela seria enterrada. A minha sogra e a minha mãe amparavam-me, uma vez que o Gonçalo se tinha disponibilizado para carregar o caixão.

Na hora do enterro, era bem audível o choro da mãe da Ariel. Ela estava aos prantos e o marido mostrava-se forte por ela. Os dois saíram do cemitério para que ela se acalmasse. Era tão difícil ver uma mãe chorar pela morte de um filho.

Mas de seguida vieram as minhas lágrimas e a dona Eduarda abraçou-me com o mesmo carinho da minha mãe. Senti os seus braços saírem do meu redor, mas logo senti outros braços mais fortes me abraçarem.

Ainda agarrada a ele, fui até o buraco onde estava o caixão a ser colocado. Atirei a minha rosa para o lado de muitas outras.

Este era o Adeus. O Adeus à nossa pequena Ariel. Adeus minha pequena Sereia! Obrigada meu amor!

Não sei vocês, mas eu chorei muito a escrever este capítulo.
Espero que vos tenha transmitido toda a emoção.

Capítulo pequenino para vocês, meus pinguins🐧 Beijos da vossa autora 🐇

❤ O café que eu entornei ❤Where stories live. Discover now