47. O resgate

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Gonçalo

Pensei que, a esta hora, estaríamos em caminhos de terra e seguiríamos até uma casa antiga no meio do nada, mas via - se exatamente o oposto. Paramos num condomínio fechado. Urbanizações modernas. Casas recém feitas.

O Dominic saiu do carro comigo e guiou - me até à terceira casa. A minha avó saiu com um sorriso malicioso e falso para nos receber.

A Anne apareceu com o Noah no colo e a sua aparência chorosa deu-me uma força extra para aguentar aquilo por ele e fazer com que voltasse à minha família o mais rápido possível. A sua cara estava vermelha assim como o seu pescoço e tinha vestido um casaco, que com certeza não fomos nós que colocamos, uma vez que os dias de calor predominavam. Fiquei logo preocupado com o seu estado, mas relaxei um pouco por saber que agora ele ia ficar bem com todos os que lhe querem bem.

- Já temos o que queremos. - a bolota tromba de elefante, assim apelidada pelas minhas loiras, devido ao grande nariz e ao seu corpo avantajado, fala entregando o meu filho ao agente. - Agora vou finalmente voltar a ter-te só para mim. - lançou-me um olhar demasiado malicioso e que me deixou muito desconfortável.

Ela puxou-me para dentro da casa que, apesar de grande, estava basicamente vazia. Sentou-me com um empurrão no sofá que adornava a sala. Decorei cada detalhe daquela casa, no caso de precisar de usar algum objeto ou fugir rapidamente.

A pouca decoração existente era antiga e com cores escuras. Os cómodos tinham pouca iluminação e as janelas e persianas fechadas e bloqueadas por tábuas de madeira que não ajudavam à entrada de luz.

- Nós vamos embora, mas não te preocupes que deixamos-te companhia. - a minha avó saiu da nossa vista e a Anne continuou com o seu olhar malicioso e atrevido.

- Temos um quarto lá em cima só para nós dois. - sussurrou escorregando as suas unhas afiadas pelo meu abdómen, o que seria sexy se fosse a Letícia a fazê-lo, não com a Anne. Repreendi-me mentalmente por um dia ter-me deitado com esta mulher. Se arrependimento matasse, eu já seria um cadáver há bastante tempo...

Lembrei-me também do meu anjo. Eu não dei valor à nossa relação. Nos primeiros dias do sequestro do Noah, a Letícia praticamente mudou - se para minha casa e ficou comigo a cada momento. Depois do início das minhas bebedeiras recordo - me que ela me dava banho e cuidava de mim todas as noites, mas pelos vistos cansou - se dessa rotina desgastante, até porque depois de todas estas minhas atitudes estúpidas não lhe pedia melhor. A minha primeira acção quando sair daqui será reconquistar a confiança da minha loira e convencê - la a morar comigo novamente.

Antes que ela continuasse com as suas provocações, a velha Campbell passou pela porta da sala acompanhada pelos pais da Ariel e o seu bebé. Ambos estavam assustados, apenas o bebé dormia tranquilamente. Parece que mais um membro tinha chegado ao mundo e eu nem disso soube devido ao meu "desaparecimento" para o bar.

Ela forçou-os a sentarem-se no sofá juntamente comigo.

- Para os que dizem que vos sequestramos, eu tenho apenas a dizer que isto foi apenas um acolhimento sem consentimento. Agora desejo-vos apenas boa sorte para sair daqui... VIVOS. - não entendi o que ela queria dizer, ela seria incapaz de matar alguém, certo?

As duas subiram para o andar superior e eu virei-me para a família desesperada que tinha sido feita refém por algo que nada tinham a ver. Elas realmente souberam usar os nossos pontos fracos a seu favor.

- Vocês estão bem? Elas fizeram - vos mal? - perguntei verdadeiramente preocupado pelo estado de choque em que eles se encontravam. Foram metidos no meio desta tragédia sem qualquer envolvimento.

- Não, elas apanharam-nos quando íamos a caminho da casa dos teus pais. - a mãe da Ariel foi rápida em responder enquanto segurava fortemente no pequeno com a grande proteção materna que tinha.

Eu assenti e encarei o chão enquanto pensava no que elas poderiam estar a tramar e em como nos iríamos salvar. É ridiculamente estúpido ver como uma avó consegue fazer tanto mal à própria família sem qualquer resquício de arrependimento. O dinheiro realmente vira a cabeça às pessoas... Quanto à Anne, realmente só tinha a lamentar as suas ações. Nunca lhe dei qualquer esperança de que fosse ter algum tipo de relação comigo, mas também me parece que ela só queria diversão e dinheiro. E se for pelo bem dos que eu amo, eu não me importava de ficar completamente pobre. Pelos vistos, o dinheiro só me tem trazido problemas e atrapalhado a minha vida.

- O Eric nasceu prematuro e tivemos alguns dias no hospital para garantir que estava tudo bem com ele. Queríamos ter ido mais cedo saber como estavam a correr as buscas pelo Noah, mas logo que saímos da maternidade íamos ter com vocês. Tudo o que as ouvimos dizer quando nos amarraram foi que seríamos bons reféns para vos assustar ainda mais. - Ela continou a desabafar e a explicar o ocorrido.  

- Esse pequeno mal nasceu e já está a sofrer. - lamentei olhando o rosto sereno de quem não tem noção do mundo cruel que o rodeia e o futuro lhe reserva. - Posso pegar? - o meu instinto paterno foi mais forte e senti vontade de segurar no colo aquele bebezinho.

Recebi permissão e ela passou o loirinho para os meus braços.

- É a cara da irmã. - Pensei alto e logo levantei o olhar para me desculpar, porque sabia que isso ainda os afetava. Mas ao contrário do que esperei, eles tinham um sorriso no rosto e concordaram comigo com um olhar meio que nostálgico. - Qual é o nome dele mesmo? - perguntei para que me relembrassem. Sei que eles já tinham referido, mas não tomei a devida atenção.

- Eric. Eric Flounder. - reconheci o nome das imensas sessões da Disney com o meu filho. Era o nome de dois personagens do filme da pequena sereia. - Quisemos que de qualquer forma o nome dele se relacionasse com o da irmã.

- Achei uma ótima homenagem. - sorri no meio de tanta turbulência e admirei-o enquanto ele abria os olhos. Eram de um cinza claro diferente e mais uma vez perdi a minha maturidade. Bebés são a melhor coisa do mundo.

Um cheiro forte começou a tomar conta de toda a sala. Era um odor tão intenso que até o bebé começou a tossir. Cobri parcialmente a sua cara com a manta amarela para que não ficasse tão incomodado.

Devolvi o Eric ao pai e levantei-me para procurar a origem do cheiro, que percebi ser gasolina. Vi - as descer as escadas com vários bidões de gasolina e um isqueiro a sair do bolso das calças de ganga da Anne.

O meu cérebro começou a entender tudo o que se passava. As madeiras pregadas nas janelas, as portas também tapadas, o ambiente meio vazio, e agora a gasolina no chão.

Elas iam pôr fogo naquilo. E eu só pensei: Estamos totalmente tramados!
 
♡♡♡♡♡♡♡

Sei que demorou, mas aqui está. Estamos na reta final do livro e já estou com uma dor no coração.

O que acham, meus pinguins🐧? Peço desculpa por não estar a minha melhor escrita, mas pretendo mudar e melhorar isso na revisão. Beijos da vossa autora🐇
 
 

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