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B R A N C A 

 
Nos filmes americanos sempre começam com a garota delicada, magra que usa roupas largas e que todo mundo zoa por ser estranha e depois como num passe de mágica no outro dia ela está simplesmente perfeita e todos os garotos babam por ela e o garoto que a zoava cai em seus pés, o típico filme clichê.

Bom não é bem assim que minha história foi, na minha adolescência inteira eu fui gorda e sempre recebia uma piadinha ridícula e confesso me sinto bem tola de me deixar abalar daquela forma na época, hoje sei que isso não é ofensa, nunca foi! Mas não digo que minha vida era um verdadeiro inferno, e quem a transformou assim? Nicolas Chávez.

Por muitos anos era horrível até que no último ano depois de tanto insistir eu me mudei para Ribeirão Preto lá eu comecei a minha terapia, minha vida havia mudado, nunca mais ouvir falar de Nicolas ou de sua turminha, virei outra pessoa confesso que emagreci, reconheço meu corpo e isso não muda quem eu fui no passado, eu evolui, amadureci e sei que me basto, isso me conforta.

Estou voltando para São Paulo para fazer faculdade de Psicologia decidi fazer por tudo que passei e por querer muito ajudar quem viveu algo semelhante.

Já estou no carro do meu pai com Pedro babando nele, Pedro é gay, conheci ele lá em Ribeirão e estamos grudados até hoje.

Ah a propósito me chamo Branca.

— Para de dar em cima do meu pai! Bicha depravada! – Sussurrei no seu ouvido.

— Não estou fazendo nada demais. – Ele sussurrou de volta.

Não? ‘’O senhor faz academia, você tem braços fortes’’. Não, isso não é dar em cima.

— Filha está me ouvindo ? – Meu pai me tirou de minha reclamação interna.

— Ãn? Desculpe, estava pensando.

— Está tendo um churrasco lá em casa pra você, eu sei que tá cansada, mas sabe como Dona Elena é né?

—  Ela deve tá empolgada, fico uns 30 minutos e depois subo. 

— Lá tem comida? – Pedro pergunta se está fingindo de sonso.

— É obvio buraco negro. – Bato em seu ombro.

No resto do caminho meu pai foi falando as coisas que mudaram lá em casa e Pedro foi dando em cima dele o caminho todo e meu pai? Só ria.

— Chegamos.

Olhei a casa à minha frente lá de trás, dá pra ver a fumaça de churrasqueira, olhei ao redor tantas memórias que me bateram como um soco.

Como senti falta! – Pensei.

— Vamos, quero conhecer minha família, sou adotado agora, seu pai que falou. 

— Ai Jesus! Por que eu não te joguei pela janela? – Questiono.

— Porque não vive sem mim bebê. – Pedro responde convencido.

Meu pai e Pedro pegaram as malas e levaram lá pra cima, olhei a casa ao redor.

Nem tanta coisa mudou aqui. 

— Mais a piranha vai ficar brisando mesmo? – Conheço essa voz desde meus 11 anos.

— Marina sua vaca! – Gritei e corri até ela, Marina minha melhor amiga desde quinta série, quando fui para Ribeirão ela entendeu perfeitamente, não nós vemos desde as férias dela que a mesma passou comigo lá em Ribeirão, ela e Alana outra do nosso quarteto, trio no caso éramos amigas da Julia mais a mesma se afastou depois da escola e depois que fui embora as meninas não mantiveram contato com ela.

— Ah! Como eu senti sua falta. – Ela me abraçou apertado.

— Que gritos de galinha são esses? – Alana diz vindo em nossa direção.

— O amor da sua vida chegou. – Falei olhando pra mim mesma.

— Comida não fala. – Alana retruca olhando as unhas.

— Depende do tipo de comida. – Marina disse maliciosa, era sempre assim quando estávamos juntas sempre acabava saindo putaria da boca uma da outra.

— Ninfomaníaca. – Alana fez uma careta. – Vem cá o cara de cabrito. – Saio correndo e pulei em seu colo. – Ai! Menina tu é pesada.

— To com fome, não comi nada. – Reclamei.

— Metade da comida que compramos pra comer. – Pedro diz descendo as escadas em seguida meu pai.

— Ih nem parece que pediu o pudim da mulher no ponto na cama dura. – Digo olhando pra sua cara de cínico.

— Ela estava fazendo cara de cu pro pudim, pedi mesmo. – Ele deu de ombros.

— Filha, vamos logo, seus tios, tias, primos estão todos aqui. – Meu pai chama.

Segui meu pai até a área de trás, estava uma bagunça crianças correndo, minhas tias bebendo e rindo que nem hienas, meus tios jogando cartas.

— Ei! – Meu pai gritou. – Olha quem voltou! – A atenção foi toda voltada pra mim, minha mãe veio correndo em minha direção. 

— Minha bebê. – Ela me apertou contra ela.

— Calma amor, vai matar a sua única filha. – Meu pai brincou.

— Nem fale uma coisa dessas Eduardo! – Minha mãe o repreendeu. – Fico tão feliz que está de volta.

— Eu também sou mãe. 

— Tenha que agradecer a uma certa pessoa que cuidou da minha menina. – Ela passou por mim e abraçou Pedro. – Você é um ótimo namorado para minha filha.

Namorado? O Pedro? A bicha que pega mais pau que eu?

— Mãe... O Pedro é gay. – Ela ficou vermelha, Pedro sem graça.

— Desculpe, eu não sabia. – Ela responde sem jeito.

— Está tudo bem Dona Helena. – Pedro disse.

— Gente to com fome, vamos comer.  – Alana disse cortando o clima constrangedor.

Estava conversando com minha prima Daniela e vejo Marina vindo com um olhar que sei que é problema

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Estava conversando com minha prima Daniela e vejo Marina vindo com um olhar que sei que é problema.

— Que foi? – Perguntei ela parecia tensa. – Que cara é essa Marina? – Eu pergunto desconfiada.

— Promete não surtar? – Ela perguntou.

— Surtar com o que? – Assim que eu perguntei eu vi por cima do seus ombros a minha prima Alícia com um homem de mãos dadas.

— Eu não vou surtar por causa dela. 

— Não é por causa dela que você deve surtar. – Marina avisa.

— E você deveria enxergar direito Branca. – Daniela disse.

Olhei novamente para Alicia e segui meu olhar para o homem de mãos dadas com minha prima, minhas pernas bambearam, meu coração parecia que ia sair pela boca, era ele, Nicolas.

Através do espelho [✓]Where stories live. Discover now