CAPÍTULO III - ENTRE UIVOS E GRITOS

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O cheiro infestava o ar. Era inconfundível. Maçãs frescas cortadas. Frango e carne bovino assados na brasa. Torta de amora, cobertas com mel. Um verdadeiro banquete estava sendo preparado em algum lugar ali perto, poderia ser a despensa, assim como o Mago Volpe o havia alertado. Pensou em dar apenas uma espiada e ver onde a comida estava. Sim, não havia problema algum. Poderia escapar com agilidade caso algo saísse de errado. E saiu.

Ali era a cozinha do castelo. Um lugar cheio de comida crua e fresca. Armários onde poderiam ser guardados as panelas e os pratos para serem usados na hora de cozinhar. Os mais variados temperos para dar sabor a comida. Todos armazenados ali, porém de forma organizada. A raposa olhava tudo aquilo maravilhada, seus olhos brilhavam em ver tanta comida reunida em um só lugar. Com certeza, era a maior quantidade de comida que havia visto em toda a sua vida. Viu ali, em cima de uma mesa, uma torta de maçã. Pensou em dar uma beliscada. Provar para saber que gosto tinha. Quando viu que a cozinha estava segura, subiu na mesa. Aproximou o focinho da torta e sentiu seu cheiro, muito apetitoso, por sinal. Deu água na boca. Sem pensar muito, atolou o focinho na torta e começou a devora-la.

O garoto deu umas três abocanhadas na torta. Ficou tão obcecado por ela, que não percebeu quando uma panela veio em sua direção e o acertou em cheio. Caiu no chão sentindo muita dor, enquanto ouvia os gritos do cozinheiro para assusta-lo e espanta-lo. Funcionou. Pois a raposa saiu correndo em direção à sala dos guardas e quando chegou lá, viu um molho de chaves em cima da mesa. Deu um salto e abocanhou a chave e seguiu em direção ao calabouço. No momento em que estava descendo as escadas sentiu algo estranho. Começou a sentir uma dor no estômago, que depois desceu até as pernas. Seu focinho estava tremendo, suas patas, igualmente. Estava começando, ou melhor, terminando sua transformação. A raposa, que outrora era criança, agora voltara ao seu estado inicial. Lá estava ele, o garoto Belgard, deitado na escada, com a chave em sua boca.

Quando um dos guardas veio em direção à escada, deu de cara com esta cena. Ficou assustado.

- Ei, garoto. O que está fazendo aqui?

O menino, que acordou de um sopapo, saiu rolando o resto da escada que faltava percorrer. Chegando lá embaixo, correu pelo corredor até a cela do lobisomem. O guarda gritou e correu atrás dele. Quando chegou em frente à cela do monstro, jogou a chave para ele, que ficou tentando ver o que estava acontecendo depois do grito do guarda. Não sabia quem era aquele menino que jogara a chave em sua direção, mas isso não importava agora, porque ele havia trazido algo que o libertaria.

O lobisomem tentou algumas chaves, quando finalmente encontrou a certa. A cela se abriu para o lado de fora, o guarda tentou sacar a espada quando percebeu que o monstro estava fugindo. Tarde demais, o lobisomem foi mais rápido e com sua garra, atravessou o abdômen do guarda, deixando-o cair no chão. O garoto assistiu tudo aquilo atônito. Então quando o lobisomem foi chegando perto dele o garoto gritou:

- Sou eu, a raposa!

O lobisomem parou e disse com sua voz de trovão:

- A raposa? Mas o que aconteceu?

- Não sei. Acho que a Magia encerrou o seu efeito. O Mago me disse que seria por um tempo essa transformação. Eu estraguei tudo. Queria apenas provar um pouco da torta que estava em cima da mesa, ela era muito saborosa.

Mais gritos foram ouvidos. Agora vindos de cima, da sala dos guardas. Quando eles chegaram no corredor do calabouço, viram o lobisomem solto, o garoto ao lado dele e o corpo de um dos soldados no chão.

Crônicas em HaravWhere stories live. Discover now