Capítulo 2

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— Acho que você está falando com a Any Gabrielly errada. Não tem porquê uma duquesa estar procurando por mim. — Subi até o assento do motorista e ele fechou a porta depois que coloquei a perna para dentro, tentando dar um sorriso. O sorriso ficava estranho no rosto dele, como se não estivesse acostumado a fazer aquilo com frequência. Abaixei o vidro e tentei devolver o cartão a ele, mas ele sacudiu a mão sinalizando que eu deveria guardá-lo.

— Você é Any Gabrielly Soares, bióloga de animais selvagens, especialista em aves de rapina? Estudante de pós-graduação, filha de Priscila Soares?

— Ah, sou, mas… — Sacudi a cabeça quando ele se aproximou um pouco mais da janela.

— Faço meu trabalho muito bem, Senhorita Soares. Mandaram-me encontrar Any Gabrielly Soares, e eu encontrei. A duquesa tem seus motivos.
Ele encolheu os ombros.

— É claro que a falcoaria é um esporte muito importante em nosso país. Talvez tenha alguma coisa a ver com isso.

— E que país é esse? — Olhei de novo para o cartão, como se pudesse encontrar alguma resposta ali.

— Lilaria.

  Ele se afastou do carro e balançou a cabeça para mim. Olhei para ele confusa. Por fim, joguei o cartão no banco do passageiro e coloquei a chave na ignição.

— Tudo bem, Duvall. Talvez eu vá ao jantar, mas sou uma pessoa bastante ocupada. Preciso olhar minha agenda primeiro. — E então engatei a marcha à ré na caminhonete e me afastei.

— Claro.

  Ele balançou a cabeça para mim quando mudei a marcha e saí do estacionamento. Pela maneira como sorriu para mim, tive certeza de que ele sabia que eu estava mentindo sobre estar ocupada.

  Eu o observei entrar em seu carro preto, notando, pela primeira vez, as bandeirinhas no capô. O que será que uma duquesa queria comigo? Como é que fui descoberta por uma pessoa da realeza? Minha cabeça estava procurando motivos para que alguém de um país que eu mal sabia que existia quisesse falar comigo. Talvez ela estivesse interessada no centro de pesquisas. Mas por que viria atrás de mim? Não faria mais sentido se ela entrasse em contato com o Dr. Geller? Ele era o responsável em lidar com as doações ou com qualquer outro tipo de envolvimento da parte dela. Ele não estava na cidade e talvez tivesse se esquecido de me dizer que essa senhora viria até aqui.

  A caminhonete falhou quando mudei o rumo e entrei na rampa de acesso à rodovia. O relógio no painel marcava quase cinco e meia. O Dr. Geller ainda devia estar no campo, portanto não adiantava ligar para ele para descobrir o que estava acontecendo. Eu teria que improvisar. Suspirei e acelerei a caminhonete. Não tinha muito tempo para me trocar e voltar para a cidade.

  Talvez ela quisesse ajudar o centro de pesquisas. A equipe estava se virando para usar apenas metade dos suprimentos necessários para reabilitar as aves de rapina machucadas e em tratamento. As gaiolas eram muito menores do que precisavam ser e os medicamentos eram caros. Sempre cortamos coisas do orçamento para podermos comprar mais medicamentos ou equipamento de treinamento.

  Ao me aproximar da pequena casa que dividia com Shivani, suspirei e parei no meio-fio. Seu namorado estava parado na minha vaga de novo, não que aquilo tivesse alguma importância, já que eu sairia logo. Tirei a chave da ignição, pulei para fora da caminhonete e peguei minha mochila. Quando abri a porta da frente, o cheiro de chile chegou até o meu nariz e eu gemi. O cheiro era delicioso. Soltei a mochila e tirei as botas antes de entrar na cozinha.

  Bert usava um avental florido e mexia o chile com uma grande colher de pau, enquanto Shiv estava sentada no balcão ao lado dele. Ele levantou a colher para ela experimentar e ela riu quando um pouco da comida caiu em suas pernas. A pequena TV estava ligada em um canal que parecia de notícias, o que me surpreendeu. Shiv gostava de assistir a todos os programas pré-jogos. Quando me viu, ela sorriu e acenou para mim.

Suddenly Royal •Noany• [✔]Onde histórias criam vida. Descubra agora