Carina Das Estrelas

Capítulo 1 - Só por amor

Carina mal conseguia controlar a ansiedade. O coração saltitando contente só de pensar que depois de tanto tempo esperando pela folga de seu adorado Victor, em mais alguns minutos estaria finalmente frente a frente com ele.

Foi uma viagem longa. Convencer seu pai a deixá-la embarcar na disputada Pioneer, uma das naves exploratórias mais avançadas do Sistema Solar, apenas para encontrar seu amigo do colégio, não tinha sido nada fácil.

Exibindo um vestido de gala, cabelos arrumados em um bonito penteado, maquiagem perfeita, sapatos de salto, ela causava um curioso contraste com as mulheres e homens uniformizados com os quais cruzava. De repente, ela ouviu a já conhecida sirene que anunciava a abertura dos escudos de proteção das janelas da nave.

Ainda que o panorama sideral não a impressionasse tanto quanto nos tempos da adolescência, não conseguiu resistir à beleza do véu negro cravejado de estrelas. Ficou a contemplar a vista. Tinha ali um vislumbre privilegiado do percurso de Marte pela extensão da Constelação de Aquário e isso a fez pensar no quão distante estava de casa.

Sonhadora, imaginou-se casando com Victor no salão comemorativo daquela nave, com a imagem autêntica de bilhões e bilhões de estrelas no plano de fundo, e a cauda de seu vestido branco brilhando tanto quanto o rastro de um cometa. Sorria sozinha até que a intricada estrutura metálica do lado de fora chamou sua atenção.

– Ei! A antena de comunicação não devia estar do outro lado? Ai, não! Será que errei o caminho? Droga! Desse jeito vou me atrasar!

Angustiada, ela olhou ao redor. Estava em um corredor largo e não havia ninguém por perto. Ficou indecisa se voltava por onde tinha vindo, ou se seguia adiante, e foi então que um rapaz apareceu por ali.

– Olá! Por favor, o senhor saberia me explicar como faço para chegar ao Deck 17? Eu acho que me perdi...

O rapaz passou a encará-la como alguém diante de uma assombração.

– Oi? O senhor entende o que eu falo?

– Entendo sim! - ele respondeu de repente.

– Então sabe me dizer onde fica o Deck 17? É urgente!

– Na próxima sessão, pega o elevador, daí vai chegar lá.

Carina sorriu agradecida.

– Obrigada!

Ela passou pelo rapaz, andando o mais depressa que os saltos lhe permitiam, e em menos de cinco minutos, chegava ao tão procurado destino.

Tratava-se de um local de recreação, um tipo sofisticado de bar. Havia muitas pessoas ali, além de atendentes amistosos, nenhuma mesa vazia, e lá bem ao centro do badalado ambiente, estava seu príncipe, Victor Mirzam.

Ela se aproximou em um caminhar gracioso. Ao vê-la, Victor se levantou, se curvou educado, e depois veio puxar a cadeira para ela.

– Senhorita Canopus, mas como está deslumbrante!

– Ah, não precisa ser tão formal, Victor. Pode me chamar só pelo nome! Nós somos velhos conhecidos.

Assim que ela se acomodou, ele lhe sorriu e comentou:

– Sou mesmo um sortudo de ter a atenção de uma pessoa tão ilustre.

Carina demorava a processar as palavras açucaradas, mergulhada na doçura daqueles olhos cor de esmeralda. Como amava aquele homem! Ter suportado aquela autêntica odisseia da Terra à Lua, da Lua até Marte, aguardar por dias a chegada da Pioneer ao Planeta Vermelho para as rotinas de reabastecimento, e quando enfim subiu a bordo da nave exploratória, foram ainda vários dias para conseguir um tempo na presença de seu príncipe.