Capítulo 3 - Sedução

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Blue e Carina estavam tendo sua primeira discussão.

– O que você tem na cabeça? - gritou ele. – Que história é essa de exigir salário pros ratos da ala mecânica?

– Vocês não são ratos, Blue! São pessoas!

– Você nunca entende, né? Não aceita que eu não sou gente que nem você.

– Blue, me escuta: Foram eles que colocaram isso na sua cabeça! Claro que você é gente que nem eu! E tem direito de ser tratado como tal! Logo irei me casar com um dos oficiais de alta patente aqui. E, acredita em mim, essas injustiças vão acabar!

– Você é louca...

Ela o encarou com ar magoado, mas ele não amoleceu, ao menos não na expressão.

– Blue, você não tem curiosidade de saber se você tem uma família? Ou quem é a sua mãe?

– Eu sei tudo que preciso saber sobre a minha família! Sei que a mulher que me pariu, pariu outros vinte também! Tudo embrião congelado! Eu já te disse que somos peças descartáveis! E só existimos porque somos mais baratos que os robôs. Porque eles não querem saber de usar robôs caros pra fazer serviços que os sub-humanos aqui fazem tão bem!

Chocada, Carina começou a balançar a cabeça em negação.

– Mentira! Isso é mentira! Você só está tentando me assustar...

– Por que você tem que dizer essas coisas?

– Blue... Eu só quero o seu bem!

– Escuta, você precisa voltar pro seu mundo. As pessoas daqui são ruins e falam coisas feias de você...

– Mas que história é essa?

– Quando a gente chegar lá na Estação de Ganimedes, pega uma nave e volta pra Terra! Porque aqui não é lugar pra você!

Sem olhar para trás, Blue deixou o esconderijo, torcendo para ter sido cruel o bastante. Ele já tinha se afastado alguns passos, quando foi derrubado por um inesperado solavanco da nave.

– Mas que droga foi essa? - praguejou e correu para seu posto de trabalho.

ooOOOoo

Totalmente furioso, Victor encurralou Nashira contra uma parede e soprou entre dentes:

– O que você disse a ela?

– A verdade... Que você sorri quando está com ela, mas ri dela pelas costas!

– Sua vigarista desgraçada!

– Ah, vai querer jogar esse jogo agora?

– O que deu em você? Vinha se portando como alguém que tinha as ambições certas, e do nada coloca tudo a perder desse jeito? O que estava achando? Que eu ia casar com uma cadela sem pedigree como você?

– Seu imbecil!

– Bem coisa de mulher isso... Perder a cabeça por ciúmes! Acha mesmo que vai chegar ao posto de capitão assim? Nem em mil anos!

– O que vai fazer?

– Consertar o estrago que você fez, é claro!

– Ha! Nem perde seu tempo. Ela te odeia agora! E até já arrumou outro com quem se consolar! E você nem imagina o quanto ela abaixou a régua depois que essa sua máscara de santo caiu!

Victor a apertou com mais força.

– Que história é essa?

– Uma que eu não via a hora de jogar na sua cara! Sua cadelinha de raça anda abanando o rabinho pra um dos ratos da ala mecânica... - exclamou ácida, deixando-o desconcertado.

– Até parece... - disse ele.

– Duvida? Mas alguém com as suas credenciais consegue descobrir fácil se estou mentindo ou não.

Com um olhar gélido, Victor a soltou sem muitos cuidados e deixou o local.

ooOOOoo

Depois de ter escutado uma discussão entre seu chefe e o chefe da Engenharia, Blue ficou bastante preocupado. Ouviu que na estada em Marte, uma displicente equipe de manutenção injetara combustível à base de carbono na Pioneer, e era isso que estava causando as constantes panes em diversos decks.

Intuiu que aquilo poderia virar um problema sério. Claro que ele mesmo não podia muito, mas talvez Carina pudesse. Entretanto, estava sem coragem de procurá-la depois da briga que tiveram. Passou horas refletindo, e quando o alarme disparou, indicando o término de um ciclo de 12 horas, decidiu que precisava agir.

Um tempo depois, Blue estava à porta do alojamento de Carina, porém seu cartão clonado não liberou o acesso.  Na mesma hora, pensou que ela não o queria mais ali, e chegou a se afastar alguns passos, mas algo em seu íntimo parecia piscar em alerta. Então, voltou depressa e reprogramou o console e, sorrateiramente, invadiu o lugar. Logo percebeu que ela não estava sozinha.

– Já chega, Victor... Não foi ninguém que me contou. Eu estava lá e ouvi você!

– Eu sei! Mas mesmo assim eu vim te pedir perdão. Eu sei que não dei a devida importância ao caso, mas é porque esses anos aqui no espaço me embruteceram, me fizeram esquecer minha origem.

– Por favor, Victor, para...

– Carina, o que estou tentando dizer é que agora eu entendi que a sua luta pela causa desses trabalhadores é justa! E eu quero ajudar você!

– Acha que vou acreditar que você se importa com eles?

– Mas é verdade! Tenho certeza que juntos podemos mudar as coisas por aqui. Principalmente, se você estiver disposta a se casar comigo e entrar para a tripulação da Pioneer.

– Casar com você? - ela repetiu assustada.

– Sim, casar comigo! Não foi por isso que você veio até aqui? Para resgatar nosso amor do tempo do colégio?

– Foi! Mas eu só vim porque você disse que ia casar comigo, Victor! Você disse que ia!

– Eu sei. E você nunca desistiu de mim... Carina, eu tenho uma licença de um ano que posso usar a qualquer hora e já pensei em tudo! Vamos ficar na Estação Ganimedes e de lá embarcamos para a Terra. Em alguns meses estaremos lá, e daí eu faço como nos tempos antigos e peço pro seu pai sua mão em casamento.

Blue pôde perceber os olhos de Carina brilhando.

– Está falando sério, Victor?

– Claro que estou! Aquilo tudo foi uma armadilha da Nashira pra me afastar de você. E eu fui um cego por não ter me dado conta antes! Você não tem ideia do quanto me arrependo de ter dito aquelas coisas.

– Victor... - ela sussurrou angustiada, e se agarrou a ele.

Blue trincou os dentes, inconformado com a ingenuidade dela. E o que veio na sequência o fez tremer de raiva. Carina não foi capaz de resistir à sedução daquele sujeito, e não ofereceu qualquer resistência quando ele a beijou.

Continua...

Carina Das EstrelasWhere stories live. Discover now