Cansada de esperar, Carina decide ir atrás de seu amor. O único detalhe é que o pretendente dela está a bordo de uma nave exploratória com rota traçada para uma longínqua estação espacial.
Este conto está participando das Olimpíadas dos Contos, um c...
O suave alerta de alguém à porta fez Carina soltar um riso de satisfação. Dando uma alisada nas roupas - nesse momento, um simples conjunto de uma turista espacial -, ela correu para liberar o acesso. A pessoa que aguardava do outro lado, naturalmente, demonstrou espanto ao vê-la.
– Eu... Vim fazer um reparo. Não era para a senhorita estar aí...
– Blue! Sou eu! Não está me reconhecendo?
Ele não deu resposta, então ela o puxou para dentro.
– Moça, têm câmeras aqui! Os seguranças vão me prender! - ele exclamou desesperado.
– Não, ninguém vai fazer isso, eu te garanto. Pode fazer o seu trabalho. E enquanto isso a gente conversa um pouco...
Enquanto o rapaz remontava o console que ela havia desmontado de propósito, Carina esteve a interrogá-lo. Ela precisava entender como era a rotina dos funcionários técnicos ali.
A princípio, ela teve muita dificuldade para arrancar informações do desconfiado rapaz, mas aos poucos ele foi se abrindo. Assim, aquele foi o primeiro de uma série de encontros que eles tiveram às escondidas, porém um dos únicos no alojamento dela. Carina sabia que a presença constante do rapaz ali poderia ser um risco para ele, por isso tratou de arranjar um local seguro em um dos pontos cegos da nave.
Conforme os dois foram se conhecendo melhor, passaram a confiar um no outro. Mesmo porque Carina não tinha outros conhecidos a bordo da Pioneer. Como só tinha irmãos, ela estava acostumada a conversar com eles assuntos que iam desde Cosméticos até a Astronomia, e com Blue não foi diferente. E quando Blue demonstrou interesse pela ciência dos Gigantes Celestes, ela ficou muito entusiasmada, já que ali ela dispunha de material de primeira para compartilhar com ele.
– Tem toda uma mitologia envolvida nessa questão da data de nascimento, tanto que lá na Terra costumavam perguntar assim: Qual é o seu signo? Mas é fato que, a cada dia, o céu na Terra tem uma determinada configuração, porque todo dia, a Terra está em uma posição diferente em relação ao Sol e às estrelas. Nesse sentido usam muito as Constelações Zodiacais: Áries, Touro, Gêmeos... Enfim. Tá entendendo?
– Mais ou menos. O que eu queria mesmo é que você falasse mais dessa aqui... - ele apontou uma foto no tablet que ela tinha consigo.
– Essa? - Carina o olhou surpresa. – Por quê?
– Eu queria entender o que essa foto tem a ver com o seu nome...
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Ela sorriu e passou o dedo na tela, ampliando a imagem.
– Essa nuvem avermelhada é a Nebulosa do Homúnculo, e essa luz brilhante aqui no meio é uma estrela chamada Eta Carinae. Eu tenho o mesmo nome da constelação onde a Eta Carinae está. Entendeu? Carina é uma constelação e a Eta Carinae é uma das suas estrelinhas...
– Nome de constelação, que apropriado... E a Eta Carinae é a estrela principal?
– Ela é bem famosa, mas não é a principal. A estrela mais brilhante da Constelação de Carina é a Canopus, que é inclusive o meu sobrenome. Nos últimos anos, virou moda lá na Terra que as famílias adotassem sobrenomes de estrelas... O Victor, por exemplo, o sobrenome da família dele é Mirzam, que é a segunda estrela mais brilhante da Constelação de Cão Maior.
– Hum, agora entendi... - resmungou ele, e depois se levantou. – Não sei se venho amanhã. Tem muito trabalho lá.
– Tudo bem... Mas estuda as Constelações Zodiacais, na próxima aula vou te dar uma prova!
– Se a recompensa for alguma coisa de comer, até penso no assunto...
– Vou ver o que posso fazer por você...
Depois que ele se foi, Carina falou sozinha:
– Pode ficar tranquilo, Blue. Hoje mesmo vou ter uma conversa muito séria com o Victor, e as coisas por aqui vão mudar. Você não vai mais precisar se esconder como um rato!
ooOOOoo
Carina tinha acabado de sair do alojamento de Victor, depois de ter passado quase uma hora lá. Um tanto abismado, ele se recostou à porta recém-fechada, e logo precisou tampar a boca para não cair na risada. Mas, quando a mulher de olhos castanhos, que estivera escondida em seu vestiário, voltou a aparecer e o encarou com um ar sugestivo, ele não conseguiu mais se conter. Riu muito e demorou um bom tempo para recompor-se.
– Fala sério, Victor... Qual é o problema dessa garota?
– O que esperar da filha de um dos homens mais influentes do mundo?
– Patética...
– Falando assim parece até que você ficou com ciúmes.
– E eu lá sou mulher de me importar com esse tipo de coisa?
– Ah, agora sim falou a Nashira que eu conheço tão bem.
A mulher rolou os olhos, sem camuflar o desagrado.
– Mas não julgue a Carina tão mal assim. Esse jeitinho idealista dela é apenas a inocência de alguém que cresceu dentro de uma redoma e fora da realidade.
Nashira não fez outros comentários, apenas se esticou na poltrona e ficou quieta enquanto Victor se ocupava de terminar uma refeição.
– Mas você vai levar a queixa dela ao capitão?
– Claro que não! Quem sou eu para encher a cabeça dele com essas bobagens?
– Imaginei... - rebateu fria.
– Agora chega disso... Já recarreguei as energias e sei como te deixar mais bem calma.
