Capítulo 4 - Destino

121 26 109
                                    

Victor logo soube que estava beijando uma mulher muito inexperiente, e isso despertou seus instintos mais torpes. Então, ele derrubou Carina na cama estreita e deitou por cima dela. Beijou-a intensamente, distribuindo pelo corpo esbelto carícias bem mais ousadas do que carinhosas.

– Não, Victor. Por favor, para com isso...

– Se você me ama mesmo, não pode estar querendo que eu pare...

– Assim não, Victor. A gente tem que... Que casar primeiro.

– Mas que bobagem... Em que época você vive, hein?

Carina começou a se contorcer e Victor percebeu que estava perdendo o controle da situação, porém, preferiu ignorar a relutância dela. Mas, de repente, ele sentiu algo ser encostado em sua nuca.

– Se você sair de cima dela agora, vai continuar tendo cabeça.

O espanto com a presença de alguém ali, muito mais do que o bom senso, foi o que impediu Victor de se virar cotovelando quem quer que fosse que teve a audácia de atrapalhá-lo. Mas sem a certeza do que estava encostado em seu crânio, ele achou melhor obedecer. Levantou-se devagar e ergueu as mãos para o alto. Ao mesmo tempo, Carina escapou da cama e sumiu do campo de visão dele.

– Fica calma. Daqui a pouco a segurança vai estar aqui.

Victor não conhecia aquela voz, mas soube que só podia ser o tal mecânico.

– Sai daqui - o infeliz disse para Carina.

– Não sem você! - ela rebateu nitidamente preocupada.

Apesar do inconformismo, Victor era um oficial treinado, e ele não desperdiçou aquele instante de distração entre os dois para inverter os papéis. Numa manobra veloz, ele se virou e desarmou aquele que até então o ameaçava, e assim que percebeu que a suposta arma não passava de um pedaço de ferro, tremeu de ódio. Fitou então o rival, reparando que, apesar dele estar muito magro e ser consideravelmente mais baixo - a estatura era quase a mesma de Carina -, o infeliz exibia um físico bem delineado.

– Você disse que chamou a segurança? Pois então me poupou o trabalho...

Apesar da fúria, a voz dele saiu controlada. Então, sem aviso, ele sacou uma arma.

– O que é isso, Victor? Você ficou louco? - Carina exclamou.

– Veja lá... Você decide se aliar a esse tipo de ralé humana e o louco sou eu? - ele rebateu sem disfarçar a indignação.

– Seu fingido! Não estava mesmo falando sério! Mentiroso! Desgraçado!

– Carina, você é tão sem noção que chega a ser ridícula... O que te faz pensar que gente como esse cara pode fazer parte do nosso mundo?

Ela emudeceu e vidrou os olhos.

ouvindo, sujeito? Explorar o espaço não é coisa pra gente da sua laia!

– Como se eu me importasse.

A indiferença no tom do rapaz só aumentou a indignação de Victor.

– Claro que não... - disse ele e apontou a arma.

Na mesma hora, Carina se posicionou a frente do rapaz.

– Não vou deixar, seu monstro! Você é um monstro! E eu não acredito que estive apaixonada por você por tanto tempo!

– Sai da frente... - ameaçou ele.

– Não saio!

Victor analisou friamente a situação. Pensou que se atirasse em Carina em um ponto não vital seria muito simples curá-la depois. E, ao mesmo tempo, aquilo certamente faria o rapaz reagir, então ele o acertaria, e tudo estaria resolvido. Quando os guardas chegassem, ele teria algo muito conveniente para relatar. Decidido, ele pressionou o dedo no gatilho e teria atirado se as luzes não tivessem se apagado repentinamente. E o curto tempo que Victor gastou para entender o que tinha acontecido foi mais que suficiente para que os dois fugissem.

ooOOOoo

Carina e Blue foram buscar refúgio em seu esconderijo, mas Victor logo os encontrou.

– Rato desgraçado! Peguei você!

Foi a ameaça que Carina ouviu antes de Victor agarrar Blue pelo pescoço. Desesperada, ela tentou avançar contra o perverso, mas se deu conta que estava algemada a uma das tubulações do local. Blue já estava pálido, e ela começou a gritar por ajuda.

Inesperadamente, Blue reagiu e, em um movimento quase acrobático, ele conseguiu se soltar do mordaz aperto. Depois, ele se afastou alguns passos e olhou ao redor a procura de algo com que pudesse se defender. Mas antes disso, Victor avançou contra ele e lhe deu um forte chute na barriga.

Carina observou Blue desabar de joelhos, totalmente engasgado, e Victor apontar a arma para a cabeça dele. Ela fechou os olhos, incapaz de presenciar aquilo, e ao ouvir o disparo ela gritou histericamente.

Quando Carina enfim teve coragem de abrir os olhos, não avistou Blue e viu que Victor estava tombado no chão. A algema castigava seu pulso e mesmo assim ela tentava inutilmente se soltar. Então ela acompanhou com os olhos Blue avançar contra Victor como um lobo enfurecido, socando-o repetidamente.

No entanto, no quesito combate corporal Victor era superior e, em um contra-ataque rápido, ele conseguiu derrubar Blue. Porém, antes de estar inteiramente estirado no chão, Blue puxou Victor consigo. Caíram os dois e, na sequência, Carina escutou mais um disparo. Em completa angústia, ela balançava a cabeça em negativa até que viu Blue empurrando o corpo maior para o lado.

– Blue, você bem? Vem aqui me soltar!

Pela perspectiva dela, os poucos metros que os separavam pareceram astronomicamente distantes. Assim que se viu livre, ela se achegou a ele, e perguntou afoita:

– Está sangrando?

– Não, esse sangue é dele... Carina, eu juro que não atirei. A arma disparou quando ele caiu em cima de mim. Não era pra isso ter acontecido! Eu não queria que ele morresse. Eu só queria ter machucado ele. Machucado bastante pra ele não conseguir mais chegar perto de você...

Ao ouvir aquilo, Carina ficou extremamente surpresa e abalada. Mal podia acreditar que Blue estava lamentando a morte de um homem que a menos de cinco minutos tentava obstinadamente matá-lo. Comovida, ela começou a chorar e se agarrou a ele.

– Não chora... Por favor...

Blue pedia manso, alisando os cabelos dela, então Carina engoliu o choro e sorriu.

ooOOOoo

Bem mais tarde, na ala médica da nave, Blue estava acomodado em um leito, seus ferimentos eram leves, mas a medicação o deixou sonolento. Carina o observava com ternura.

De repente, ela pensou nas tantas coisas pelas quais havia passado desde o dia que decidira deixar seu lar e partir em busca de uma paixão mal resolvida. Ainda era difícil acreditar que por pouco não perdera o verdadeiro amor de sua vida pelas mãos do homem com quem sonhara se casar.

– Carina, eu vou ser preso?

– Não! Lógico que não!

– E quando eu sair daqui, a gente vai poder continuar conversando sobre as suas estrelas?

Ela sorriu emocionada, e confirmou:

– Vamos sim.

– Que bom... Espero que não demore muito.

Carina suspirou de leve, e depois se inclinou para frente e beijou Blue, completamente apaixonada. Sentia-se feliz e bem convencida de que embora nada tivesse saído como planejado, tudo tinha valido a pena.

~ Fim ~

4974 palavras

Carina Das EstrelasWhere stories live. Discover now