Prólogo

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Marcos estava preocupado. Enquanto dirigia em direção ao centro da cidade, não conseguia tirar da cabeça a discussão que teve mais cedo com o diretor da escola. Mas ele não estava errado, tinha certeza disso. Estava agindo corretamente. Mesmo assim, as palavras do diretor ecoavam em sua cabeça.

— Tem certeza que quer fazer isso? — o Sr. Penoza perguntara. Na verdade, não soara como uma pergunta, parecia mais uma ameaça.

— Diretor Cássio — ele respirara fundo —, o Bryan não é nenhuma criança. Ele tem ciência dos seus atos. Ele não presta atenção nas aulas, não faz os trabalhos, chega atrasado e está tirando péssimas notas nas provas...

— Professor Marcos — era a vez do diretor respirar fundo —, me deixa reformular minha pergunta: o senhor está me dizendo que quer reprovar o filho do prefeito?

— Eu não quero reprovar ninguém, diretor. O garoto mesmo se colocou nessa situação. Eu não tenho mais como fazer nada por ele.

— Tem certeza disso? Nenhum trabalho que o ajude a se recuperar? Nada?

— Se eu fizer isso vou estar sendo desonesto. Não posso por uma atividade extra, só para beneficiá-lo.

— Não é para beneficiá-lo, professor. — Ele suspirara alto. — É para garantir o seu emprego.

Marcos ficara surpreso com aquilo.

— Isso é uma ameaça, diretor?

— Não. — Ele baixara os olhos para o diário escolar. — É um conselho. De um amigo.

O professor não acreditara naquilo. Não entendia porque estava sendo colocado na parede daquele jeito.

— Eu não sei por que estamos tendo essa conversa — dissera. — Era para o Bryan e o pai dele estarem ouvindo isso e não eu.

— Você quer que seja eu que dê a notícia pro prefeito que o filho dele é um irresponsável?

— Você sabe a verdade, Cássio! — tentara apelar. — Não posso passar o garoto, só por ele ser filho de quem é!

— Você sabe como as coisas são aqui na cidade, Marcos. Existem sempre pessoas que estão acima de nós e precisamos obedecê-las.

— Então, é isso? Vou ter que escolher em ser honesto ou meu emprego?

— Eu sinto muito...

Marcos levara as mãos à cabeça, respirando fundo. O diretor observara seu colega e sabia que era uma decisão completamente difícil a se tomar de uma hora para a outra. Mas, infelizmente, era assim que as coisas funcionavam.

— Não precisa me dizer agora — o diretor falara. — Tire o fim de semana para pensar, mas na segunda-feira preciso de uma resposta.

O jovem não enxergara outra alternativa e achara melhor aceitar a proposta do diretor.

— Ok.

Não que ele se importasse muito com aquele emprego. Seu sonho nunca foi ser um professor de história de uma cidadezinha minúscula mesmo. Seu plano original era ficar ali até conseguir dinheiro suficiente para ir para São Paulo. Por sorte, como a cidade era pequena, costumava contratar professores com mais facilidade do que a cidade grande. Marcos ficaria ali por um ano e logo partiria. Esse era o plano...

Isso já tinha acontecido há três anos.

As coisas tinham mudado muito de lá para cá. Como era um dos raros professores daquele lugar, logo demonstrou interesse em um dos poucos pontos turísticos dali: o Museu da Cidade. Sim, aquela cidadezinha tinha um. Graças a seu repentino interesse no lugar e na história local, acabou conseguindo um emprego como curador do museu.

Chaves Tropicais [✔]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant