44. As Horas Passadas

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Thiego estava sentado nas escadas em frente ao casarão, esperando por Thábata e Carlos. O garoto balançava a Chave Gêmea entre seus dedos, tentando ocupar a sua mente. Tudo que queria era que sua irmã e o rapaz estivessem bem e voltassem logo para a casa.

Até que ele sentiu uma mensagem chegando até ele.

Beto está bem... Era a voz de Thábata. Estamos voltando para casa. Nem vai acreditar o que aconteceu...

Thiego sorriu com aquilo.

Ok, venham logo, respondeu.

O garoto ficou observando a rua através das barras de ferro do muro e do portão. Ele ouviu alguns passos atrás de si, aproximando-se. Patrícia desceu um degrau e se sentou ao seu lado. Sorriu para o adolescente e se voltou para frente.

— Como você tá? — ela perguntou.

— Tô bem. E você?

— Bem também. — Suspirou.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. Era estranho falar com Patrícia. Thiego não tinha nenhum grau de intimidade com ela e quase não conseguia enxergar assunto para manter com a mesma.

De repente, sorriu ao pensar em uma coisa.

Se fosse há um tempo, por conta da sua timidez, ele nem mesmo teria respondido a pergunta da mulher. Concordaria com a cabeça e provavelmente seria sua irmã que teria respondido. Mas ela não estava ali e Thiego... Não era mais aquele menino. Estava diferente. Estava mudando. Tudo estava diferente.

Ironicamente, Sombria deu um pouco de luz a ele.

O garoto se virou para a advogada, observando-a. Havia algo que queria falar com ela e achou que o momento não poderia ser mais oportuno.

— Patrícia? — a chamou, o que a deixou surpresa. — Posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Sobre hoje, mais cedo — começou —, quando César contou a verdade pra vocês. Você tinha dito que acreditava nele...

—Sim?

— Você... acreditou mesmo? Digo, antes de eu usar a Chave do Gênero, é claro.

Patrícia olhou para frente, pensativa.

— Eu acredito que sim. Uma parte de mim sempre acreditou no sobrenatural. — Ela se virou para ele. — Não é só porque eu gosto dele.

— Eu não quis dizer isso.

A advogada deu um sorriso fraco.

— Eu sei. — E voltou a olhar para frente. — Mas é que isso tudo... é bem complicado.

— Eu imagino.

Ela deu um sorriso, como se lembrasse de algo.

— Sabe o que é mais engraçado? — falou. — Todos nós de Sombria crescemos ouvindo histórias... Sobre velhas fantasmas que viviam em prédios abandonados, crianças malignas embaixo de pontes, velhos carrascos escondidos nos bosques, espíritos... demônios.

Ela se tremeu todinha e espanou os ombros de um jeito engraçado. Thiego mordeu os lábios para não rir. Não seria certo, não quando Patrícia parecia bem séria. Mesmo assim, não tinha deixado de ser engraçado.

— Enfim — continuou —, fomos ensinados a termos medo. Desde pequenos. E quando crescemos, acabamos se esquecendo de algumas dessas histórias. Uns mais que os outros. Mas o sentimento... ele permanece.

— Você se esqueceu?

— Não completamente. — Suspirou. — O medo sempre esteve lá, sabe? Latente. Dormindo. E agora... Descobrir que tudo é real... Eu não sei. Continua assustador, mas ao mesmo tempo, intrigante... — Ela se virou para ele. — Como você consegue? Digo, como você consegue não sentir medo?

Chaves Tropicais [✔]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن