Chapter XLII

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      Fora um momento completamente novo, diria. Não, de todo, acometeu-se a odiar aquele encontro; as perguntas, porém, o deixara incomodado, certamente; estaria mentindo se dissesse que não. Fora difícil no começo, o medo de errar e encontrar uma resposta adequada para a questão proposta, não existia, todavia, uma resposta correta, ora, aprenderia isso com o tempo e com outros encontros. Sim, mesmo que fosse de sua obrigação retornar e tratar-se, retornaria por mero prazer. Faria por ele mesmo. Ah! Demorou, de fato, até que chegasse a esse excelente pensamento; colocar-se-ia em prioridades. Despindo-se, em seu quarto, entretanto, tinha conhecimento que não havia cura para aquilo que apresentava, mesmo tomando os medicamentos, atendendo ao psicólogo, dizendo a si mesmo como e o que sentir, não se livraria daquele male; claro que não. Mentem aqueles que dizem que para a depressão exista um antídoto vitalício; não venceria seus demônios, aprenderia a viver acima deles. Colocava a outra vestimenta - cheirava forte de amaciante; detestava -, antes dobrada sobre a cama, tom verde claro, para passar o resto do dia como fizera ontem, e todos os dias antes deste. Era duvidoso, ainda, se a moça – linda, admitiria – o liberaria após sua primeira sessão. Tentaria não criar expectativas; era tarde demais, na verdade; já o havia feito. Do chão, bufando, apanhava as antigas roupas e as dobravam, estava impaciente pelo futuro. Pela segunda vez, queria viver um momento após aquele que estava. Era mais que um progresso – sorrira ladino. Pousava o tecido usado sobre a beirada da cama e assentava-se afrente da janela, sua mão tocava sua ferida a testa, movimento involuntário aquele, e de relance recordou-se como fora parar ali, o semblante amostrava a dor daquela lembrança, porém, não estava surpreso; não ficara quando aquilo o acometeu e não seria agora que aquilo, infelizmente, mudaria. Sequer queria saber onde se encontrava; seu pai, o traste humano.

      Ouvira o bater à porta – nada disse - e, em seguida, abrindo-se, evidenciava a corpulência do médico, o avental alvo e os sapatos de marca, papel e sacola azulada em mãos – não pôde ver o que estava dentro. Jungkook! – Espantou-se - Por que, ainda está vestindo assim? A dúvida era visível no garoto – não posso – continuava - permitir que leve a roupa do hospital para casa. Parou por um momento. Ouvira corretamente? As palavras repassavam em sua mente em busca de um significado. – Eu – gaguejava apontando para si mesmo -, eu vou para casa? Impedir a alegria e o sorriso, a ansiedade no imo peito, fora impossível. O coração acelerou-se e os olhos transluziam pelas gotículas pequenas; o médico assentira sabido. Rapidamente curvou-se em respeito, agradecendo-o. Agora - entregando-lhe a sacola, o homem pronunciava -, tomei a liberdade de pegar seus medicamentos – Jungkook espiava adentro -, sinto muito, não são poucos. Engolira em seco; há muito tempo, remédios eram, de certa forma, perigosos; poderia entupir-se deles. E isto – apanhava o papel – são os horários, a quantidade e a frequência, respectivamente, para tomá-los; ao final, como pode ver – o garoto seguia suas ordens -, está os horários de sua consulta e os dias da semana. Compreendera tudo. Por favor – frisava tocando-o ao ombro, surpreendendo-o -, os tome corretamente e qualquer coisa, retorne. Entendido? Jungkook assentia. Bom, vou estar aqui fora – escancarava a porta antes encostada -; vamos, vista-se, as roupas estão logo ali – apontava para o armário no canto esquerdo, um tênis e a sua roupa acima deste, dobrada. Está na hora - finalizou. E deixou-o. Ao ouvir o fechar da porta, comemorou tímido e sorrira. Largou tudo sobre a cama e, novamente, despia-se. Sentir o tecido de sua própria roupa era como tocar no passado, assim como outras coisas que gostaria de tocar e recordar-se. Riu maldoso. Estranhou tal pensamento, porém. Parecia limpa, a blusa, tinha certeza que a lavaram, a trazia para perto e cheirava-a, o cheio era característico. Tossiu forte – Por que colocam tanto amaciante? – perguntou livre.

       Abria a porta e não podia estar mais pronto para sair dali. Lado a lado, caminhavam em silêncio, ele e o médico, para o lobby, pelo corredor. Já acreditou que estava sendo liberado, o sentimento, agora, que crescia em seu íntimo, era outro: "...enfrentar o desconhecido" – recordava-se das palavras da Bonnie. E era verdade. Não! Tornar-se-ia fato; era como, pela primeira vez, ir à escola; amedrontado, pequeno, e o mundo acima. Respire – disse a voz ao lado, mãos no bolso -, do que tem medo? Ao final do corredor, estagnou-se, Jungkook, encarando ladino, perdido. Era aquele momento, o real momento, que tudo encaixava-se; - Eu não sei – respondia -, e se eu me perder? Questionava-o, parado defronte. Sinto um grande frio percorrendo meu corpo, é a ansiedade, certo? O médico riu. Tocou, novamente, seu ombro; encaravam-se: - Filho, é normal sentir-se assim --- naquele momento, uma quentura no peito, que sentimento antigo era aquele? Que sentimento bom e acolhedor era aquele? Nunca sentira algo igual há tempos, parecia sua mãe falando-lhe ---, ainda está se recuperando, poderia ficar perdido, poderia adoecer, não irei mentir, mas você tem mais que imagina; sorriu ladino. Sinalizou com a cabeça, apontando para algo ao longe. Confuso o seguia. Reconheceu, demorado, a corpulência ao fundo: Taehyung. Os olhos transpareciam surpresa. O homem felicitava com a melhora de seus pacientes, mas o garoto era especial ou tornava-se. Vá – dera a permissão -, eu cuido de tudo na recepção. Ambos se curvaram por diminutos segundos; o sentimento era grande; o respeito mútuo ia além de uma simples coincidência. E assim fora.

      Os passos tímidos aproximava-os e a mente criava, neste momento, incontáveis situações que poderiam ocorrer dali. E em todas elas, gostaria de abraçá-lo. Taehyung fitava o chão, distraído o suficiente para não notar as pessoas que transitavam pelo local; Jungkook precisou chegar perto o suficiente, tocá-lo ao braço para que sua concentração dispersasse. A surpresa, já esperada, ora, fora gratificante e os impulsos, que Taehyung normalmente tinha de conter, tomaram, do imo peito, conta. Nenhuma, de todas as possibilidades ponderáveis, teve o abraço iniciado pelo outro; porém, fora isto que ocorrera e sequer teve a chance de responder abrindo os braços. Taehyung, após os olhos saltarem de ânimo, o abraçou forte – não se incomodava, todavia, -, o nariz afundava em seu pescoço e o aroma era tão inexplicável e, por isto, era bom. Queria permanecer naquele aspecto de tempo. Ah! Como gostaria de lembrar-se de tudo. Afastando-se, notou, sobre os ombros do garoto cheiroso, um menino, cabelo colorido, assentado, encarando-os com um sorriso ladino; estaria muito perto para ser um simples desconhecido. Este aprumava-se e Taehyung convidava-o para o reencontro, balançando o a mão. Jimin, afortunado de vê-lo novamente, sim, ousou de caminhar em sua direção e, também, abraçá-lo; seria uma memória a ser criada, pelo momento, pela pessoa, pela circunstância; Jungkook, entretanto, a cada passo que o outro dava, o corpo esfriava e, próximos o bastante, arredou-se assustado. Um passo para trás, as mãos, segurando as coisas, em guarda - alarmado. Tudo bem. O garoto de fios coloridos esperava por isso; de sua parte, burro fora tentar algo igual. Jungkook sentia o peso das mãos de seu único conhecido aos ombros e o olhar confortando-o - ou tentando. Era o suficiente. Reparava-o, lento, movendo a outra mão e o outro, atento, assentindo. Poderia entender? – ponderava sozinho, surpreso. Outra dor súbita, a face expressava a memória: - Me ensina? – a voz ressoava na mente, desaparecendo no fim. Piscou brusco, o peso ao ombro sumira, e vira Taehyung indo, em direção do médico, para atrás de si. Estava, agora, com Jimin.

      - Desculpe – engolia em seco -, pelo... – Imitava um abraço no ar – Eu não devia – arrancou um riso ladino de Jungkook. Fofo, até.

      - É que não estou acostumado – uma pausa -... ainda – respondia enquanto o outro assentava-se. Preferiu ficar de pé, porém. Fora visível que enquanto pronunciava as palavras, Jimin expressava um grande sorriso; como se se orgulhava de algo. – Por que está rindo? – não se continha em perguntar. Não percebia que estava sendo, com as palavras, direto.

      - Não escuto sua voz há um tempo, Jungkook. Senti falta. – Não podia, ainda, ser mais sincero em sua resposta; mesmo sua vida com os problemas que apresentava, percebia que perdia mais do que apenas um afeto, estaria perdendo dois. Jungkook não conseguia responder a tal, ou pelo menos à altura – já sabia o seu; fora preferível, somente, assentir.

      - Você consegue entendê-lo? – questionava quebrando o silêncio, rendendo-se e assentando-se ao lado.

      - Bom – mesmo sabendo que fizera a pergunta num, não tão distante, passado, respondera como se fora a primeira vez; deixaria fazer quantas questões precisava -, ele é rápido, mas, sim, consigo. Não vou mentir, às vezes, é difícil. - Jimin, sentia o peso daquele olhar; os olhos do outro estudavam-no em busca de um começo, uma centelha que o fizesse recordar. Jungkook conseguia lembrar-se, arduamente, ele afrente de si, chorando em uma mesa, descontrolado. Não conseguia, entretanto, lembrar-se do motivo. Guardaria para si esta conquista, e não tocaria no assunto; a memória, mesmo incompleta, doía um pouco; imagina no outro. Recompôs-se.

      - Eu queria poder entendê-lo – olhava para Taehyung ao fundo, movimentando as mãos e o sorriso, no rosto, saltitando –, poder dizer o que sinto. Num tom surpreso, percebera o que acabara de proferir – similar a um erro grave; deixou-se levar; não conseguia entender, repentino, o descuido. Não tinha coragem de olhar para Jimin novamente, a vergonha queimava suas bochechas.

Gargalhou baixo. – Acredite, Jungkook, ele já sabe.

I HEAR YOUWhere stories live. Discover now