Destino Incerto | Rabia.

Onze

Manu, como sempre, foi a primeira a acordar dentre ela, Gizelly e Marcela. A baixinha abriu a grande porta traseira do caminhão e foi fazer sua higiene bucal. Risadas altas chamaram sua atenção enquanto ela desfrutava do sol da manhã e caminhou alguns passos, reconhecendo de longe sua irmã do outro lado da rua.

-- Bisbilhotando, huh? Que feio! -- Marcela gritou, assustando Manu, que desferiu três tapas no braço de sua irmã mais velha. -- Ouch! -- Disse, esfregando o lugar do tapa. -- O que tanto vê?

-- Rafaella está se divertindo. -- Manu disse como se fosse um segredo de estado.

Gizelly e Marcela arregalaram os olhos e olharam na direção do rio. Dali só se escutava risadas e, por esta razão, as garotas atravessaram a rua sorrateiramente, ficando apreciando o momento de um canto escondido, com sorrisos bobos nos lábios.

-- Não vale! Você tem os braços mais compridos. -- Bianca dizia enquanto jogava água em Rafaella. A mais velha ria alto diante da fúria de Bianca por ter perdido mais uma corrida.

-- Bianca... Para! -- Rafaella gritou ainda rindo enquanto virava seu corpo para não ser atingida por tanta água.

-- Havia anos que eu eu não a via desta forma. -- Manu sussurrou e o casal com ela suspirou bobamente.

-- E olha que a garota só passou três noites com a gente. -- Marcela disse, vendo Rafaella afundar na água e se levantar novamente atrás de Bianca, abraçando-a por trás para segurar seus braços. -- Eita, que elas estão de intimidade. -- Proferiu em um sussurro surpreso.

-- Me solta! -- Bianca disse rindo e se debatendo. -- Rafaella, não tem graça.

-- Te solto se prometer parar de tentar me afogar com esse monte de água. -- Rafaella disse firmemente, se controlando para não prestar atenção na pele macia de Bianca sob seu toque.

-- Não vou prometer nada. Agora me solta! -- Pediu entre um riso e Rafaella não soltou. -- Seus seios estão tocando as minhas costas e eu não responderei por mim se não me soltar. -- Disse de propósito, tendo o resultado que esperava: Rafaella lhe soltou no mesmo momento.

-- Acho melhor irmos, as garotas já devem estar acordando. -- Rafaella disse se esquivando do assunto e Bianca assentiu, nadando até a beira do rio.

-- Se divertiram? -- Marcela perguntou quando ambas saíam completamente nuas do rio e Rafaella se apavorou, empurrando Bianca na água novamente. A mais nova afundou e voltou à superfície irritada.

-- Rafaella! -- Bianca gritou, passando uma das mãos no rosto para retirar o excesso de água e Rafaella olhou sorrindo amarelo para a garota.

-- Certo. Virem-se todas! -- Rafaella disse e Bianca riu.

-- Para que se você está aí pelada na nossa frente?

-- Para que Bianca possa sair. -- Rafaella disse enquanto se secava com a blusa xadrez que usava por cima da outra.

-- Eu não me import... -- Bianca tentou dizer algo, mas Rafaella lhe olhou feio.

-- Vamos lá! Não temos o dia todo. -- Rafaella disse séria e as garotas se viraram.

-- Você a viu pelada. Por que está fazendo disso um teatro todo caso nós também a víssemos? -- Manu perguntou rindo, já virada de costas.

-- É diferente. -- Rafaella disse, vestindo a calcinha e estendendo a mão para ajudar Bianca a sair do rio.

-- Obrigada. -- Bianca sussurrou, vestindo sua calcinha e passando o vestido por eu pescoço desajeitadamente.

-- Vocês estão transando? -- Marcela perguntou confusa e Rafaella arregalou os olhos.

-- O quê? É claro que não! Por que pensaria algo assim? -- Rafaella respondeu prontamente, meio aturdida. Biamca sentiu uma pontada de decepção naquela fala. Por que seria claro que não? Ela era tão feia assim aos olhos de Rafaella?

-- Foi só uma pergunta, branquela. Calma!

-- Está na hora de irmos. Já comeram? -- Perguntou.

-- Ainda não. -- Marcela informou.

-- Bi, você comeu? -- Rafaella perguntou e ganhou um sorrisinho contente de Bianca pelo novo apelido.

-- Na verdade, não.

-- Vamos lá então, te preparo algum sanduíche e então partimos.

-- Por que só vai preparar para ela? -- Marcela questionou.

-- Ela é a convidada. Vocês são de casa. -- Rafaella respondeu séria.

-- Tem certeza de que não estão transando? -- Gizelly perguntou confusa. Rafaella nada respondeu, apenas saiu resmungando algo dali e foi para o caminhão.

-- Hey... -- Bianca disse ao entrar no caminhão atrás dela. -- Obrigada pelas risadas. -- Rafaella apenas sorriu-lhe contida. -- E acredite ou não, este está sendo o melhor aniversário da minha vida em muito tempo. -- Rafaella franziu o cenho e lhe encarou.

-- Aniversário? -- Perguntou surpresa. -- Hoje é seu aniversário?

-- Sim. -- Bianca disse. -- Parece que estou alcançando seus vinte e sete, hm? -- Brincou rindo.

-- Por que não me disse?

-- Disse o quê? -- Marcela invadiu o caminhão, passando por trás de Bianca para ir para a boléia.

-- Hoje é o aniversário da Bianca. -- Rafaella informou.

-- Glória a Deus! -- Marcela disse entusiasmada. -- Já sabe, não é, Rafaella? Pare em algum ponto de venda e compre algumas bebidas e algo gostoso para comermos. Ah, você parará de dirigir hoje por volta das sete.

-- Gente, não precisa disso tud...

-- Você realmente não conhece nossa família. -- Marcela a cortou rindo. -- Se tem uma coisa que fazemos é ter consideração pelos aniversários e esse foi o único motivo de Rafaella nunca ter desaparecido de vez de nossas vidas. -- Falou em meio ao riso.

-- Já agradeceu à Virgenzinha por mais um ano de vida? -- Rafaella perguntou animada.

Era estranho, Rafaella nunca estava animada.

-- Eu, uh, meio que não acredito nisso. Mantenho a minha fé somente em Deus, mesmo. -- Disse, recebendo olhares surpresos. Manu e Gizelly conversavam animadamente algo do lado de fora do caminhão e Bianca desejou poder sair dali e ir conversar com as
garotas. Ela se sentiu intimidada pelos olhares das irmãs dentro do caminhão.

-- Bem, agradeça à Deus então. -- Rafaella disse sorrindo docemente.

-- Garotas, hoje tem festa! -- Marcela gritou.

-- Festa? -- Gizelly perguntou com uma interrogação no meio da testa.

-- Bianca está completando vinte e seis anos. -- Rafaella disse sorrindo.

-- Oh, meu Deus. É dia de festa! -- as garotas disseram animadas, subindo às pressas no caminhão e fechando a porta.

-- Pois é. Subam porque hoje a noite promete. -- Rafaella disse rindo e Bianca se viu em uma espécie de universo paralelo onde Rafaella agia daquela forma. Quem era aquela e o que tinha feito com a Rafaella séria e grosseira?