Number three

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Estavam no quinto dia de viagem. Rafaella sorriu admirando a imagem que estava a sua frente, via o corpo escultural de Bianca em contraste com o azul do céu e o branco das nuvens. Estavam naquele momento no último ponto turístico que visitariam, a mulher tinha os braços um pouco abertos, os olhos fechados e parecia de alguma forma libertar-se. 

Após o momento no quarto, não tocaram naquele assunto, não se impuseram uma conversa para esclarecer o sentido de tudo aquilo. No momento em que a mais nova interrompeu o contato ainda com seus olhos fechados, sorrindo de forma tranquila e respirou fundo soube que não poderia exigir jamais alguma resposta dela. A mineira por si só não sabia ao certo se aquilo mudava algo, era um beijo, delicioso e viciante, mas somente um beijo. 

Alguns dias atrás... 

Bianca respirou fundo quebrando aquele contato tão agradável, tão seguro, tão incrível. Seus olhos fechados por um segundo como se de alguma forma pudesse eternizar em sua memória o toque dos lábios da mineira. Sorriu pensando no quanto era boa aquela sensação, ainda que apavorante. Em sua cabeça um misto de sentimentos, uma confusão de desejos e principalmente um julgamento interno por ter cedido a algo em tão pouco tempo. O que aconteceria se Diogo quisesse voltar? O que diria para sua mãe quando aparecessem em sua casa? Beijar Rafaella, por mais delicioso que fosse, não era o melhor naquele momento, não poderia ser. 

A mineira a viu levantar-se da cama de casal em silêncio e por alguns minutos se perguntou se aquilo era assim tão ruim de ter acontecido, perguntou-se se havia feito algo errado afinal, havia sido beijada há tanto tempo atrás. Viu a dona dos fios castanhos caminhar até o banheiro colocando seu celular na outra tomada que havia ali antes de retornar ainda desviando o contato com seus olhos. 

Suspirou. Era isso então? Como poderia exigir de sua vizinha uma explicação para aquela atitude, para aquele momento? Não sabia. Não tinha como saber e não se via no direito de perguntar. Viu novamente a mais nova caminhar até a cama e perguntou-se se naquela noite dormiria sozinha na enorme cama daquele quarto. 

-Bia?

Sua voz soou rouca, soou baixa, soou incerta. A carioca ouviu aquele som e não poderia descrever a sensação que foi o contato daquelas ondas sonoras com seus ouvidos, mordeu o lábio criando coragem de olhar para a mulher. Péssima escolha. Seus olhos verdes agora pareciam vidrados em si, seus lábios levemente avermelhados pelo recente beijo, sua respiração ainda descompassada, seus cabelos em um coque completamente mal feito e aquele sinal de nervosismo a deixando ainda mais linda. Suspirou incapaz de dizer algo. 

A mineira somente sorriu deixando que seu olhar percorresse a expressão em seu rosto, não parecia triste, só parecia em conflito? Definitivamente seus olhinhos não estavam tristes ou preocupados, ainda havia toda aquela alegria por ali então não acreditava que havia sido de fato ruim. Bianca sorriu ao ver que a mulher a analisava e se perguntou qual o preço a pagar se deixasse que as coisas fossem rolando.

Todos aqueles dias com Rafaella vinham fazendo tão bem para si que não queria, não poderia se impedir de continuar. Não saberia colocar em palavras o quão agradável era sua presença, o quão alegre se sentia quando a via sorrindo ou quando ouvia sua gargalhada por alguma piada. A verdade é que aquela mulher se fazia a cada instante uma presença que sabia que vinha privando-a de sofrer o fim do relacionamento. 

Ainda chorava, sentia sim que tudo estava uma bagunça dentro de si mas em certa escala era uma bagunça organizada. Não morreria por sentir aquela dor, não desistiria por estar sentindo isso e não pensaria mais que aquela dor era permanente dentro de si. Precisava de tempo. O tempo, o maior aliado dos corações partidos, mas também o pior dos trapaceiros, para o tempo não haviam regras, não haviam mandatos ou ordens, havia somente o acontecer. 

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