A descoberta

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Tenho que admitir que acabei gostando da festa no celeiro em comemoração ao aniversário de Lavínia. Logo após a dança com Kile, Lavínia chamou todos para o momento dos parabéns e afins, logo após comi bolo sentada em uma das várias poltronas espalhadas pelo celeiro enquanto tentava não olhar para uma das amigas de Carmen paquerando Kile descaradamente na minha frente (e não me pergunte o porquê de me importar com isso).

Depois de muito tentar me afastar e me manter neutra, Kile me encontra sozinha do lado de fora do celeiro encostada em uma caminhonete velha esperando algum sinal divino de celular para que eu consiga ligar para meu pai vir me buscar.

- Está esperando o príncipe encantado vir te buscar?

Reviro os olhos.

- Como se algum caipira desse fim de mundo fosse chegar a esse padrão. – provoquei. Ele ri e coça a cabeça ao mesmo tempo com uma expressão que não consigo definir. – Não precisa ficar nervoso, eu estou só brincando.

Ele demora alguns segundos para formular um pensamento e mais alguns para formular uma frase, e antes que essa conversa ficasse muito mais atrapalhada, Lavínia chega com sua mãe me salvando.

- É bom finamente conhecer a filha da minha velha amiga – Julie Sanders falou me cumprimentando com um abraço apertado.  – Fiquei afastada da festa porque vocês adolescentes tem uma síndrome de isolamento de adultos em eventos do tipo, mas estava ansiosa por esse momento. – ela falou e Lavínia corou com um sorriso no rosto, Kile também riu mas se manteve afastado.

- É bom te conhecer também! – falei enquanto ela me soltava.

- Você me lembra muito ela. – falou fazendo referência a minha falecida mãe enquanto eu torcia para segurar as pontas e não chorar na frente de todos, sempre que alguém se lembrava da minha mãe e me comparava a ela meu coração se enchia de amor e angústia ao mesmo tempo, por ela não poder mais saber o quanto sua flor do dia se tornou parecida com ela. – Vou levar vocês para a fazenda dos Crawford enquanto Lavis guarda o que sobrou da festa. – Julie falou depois de um cutucão que levou de Lavínia, minha nova amiga provavelmente notou em meus olhos a dificuldade que eu teria em manter uma conversa com esse assunto em pauta, e aí eu tive certeza não só que seríamos boas amigas, mas que já éramos. – Você também vem? – Julie falou para Kile tentando contornar o assunto.

- Eu ia pegar carona com uns amigos. – ele disse, mas antes de se despedir, por algum motivo, depois de olhar nos meus olhos e perceber o quanto eu não queria ficar em um carro sozinha com uma Julie provavelmente muito ansiosa para falar de sua velha amiga agora morta, ele mudou de ideia. – Mas, na verdade... – ele hesitou buscando alguma confirmação em meus olhos. – Acho melhor ir com vocês. – ele disse depois de uma quase súplica expressa em meus olhos pintados de sombra marrom e um leve aceno meu.

Me despedi de Lavínia e segui para uma caminhonete branca com meus companheiros de viagem. Enquanto Julie se sentava no banco do motorista e eu acenava para Lavínia, Kile em um ímpeto comportamento de cavalheirismo, abriu a porta do carro pra mim, e enquanto passava por ele e me sentava no banco da frente percebi que ele desviou um olhar preocupado e sincero.

Quando chegamos na porteira da fazenda de vovó, dei um abraço desajeitado em Julie enquanto Kile já descia do carro. Não falamos muito durante o percurso, a não ser pelas perguntas da velha amiga de minha mãe sobre o que eu estava achando da cidade. E sobre isso vocês já devem saber a resposta, porém, dei o meu melhor para ser educada e gentil com essa mulher maravilhosa que com certeza minha mãe amou muito. Acenei para ela de fora do carro enquanto Kile abria a porteira para entrarmos.

- Obrigada por ter me acompanhado. – falei para quebrar o silencio enquanto caminhávamos à luz da lua já pela varanda da casa principal, a uns duzentos metros, havia uma luz acesa na casa em que Kile morava com a família onde provavelmente sua mãe o esperava acordada, por um momento pensar nisso me deixou com inveja dele. Kile tinha as duas mãos nos bolsos da frente de sua calça jeans e me olhava cautelosamente. – Foi importante pra mim. – falei enquanto desviava a bota de uma das centenas poças de lama no chão. Por um momento tive a sensação de que Kile mantinha as duas mãos nos bolsos para evitar tirar a mecha de cabelo que cobria meus olhos.

Antes que o Verão Acabe (HIATO)Where stories live. Discover now