Nem tão insuportável assim

69 5 6
                                    

Esse capítulo pode conter gatilhos para assédio/abuso sexual.

Ao invés de ficar paralisada, eu corri. Corri até meus pulmões doerem sedentos por ar. Corri em uma direção aleatória. Corri até não saber mais onde eu estava, e até mesmo quem eu era...

Dois anos antes

Martin Patterson era um velho amigo da família. Braço direito e sócio do meu pai nos negócios. Ele administrava toda a empresa, e basicamente fazia todo o trabalho pesado para o meu pai. Tinha acesso a todas as nossas contas, documentos e afins.

Tudo começou quando em meio aos jantares em casa, eu comecei a perceber olhares maldosos vindos dele em minha direção. E depois mensagens nas redes sociais. Até que acabei pressionada contra a parede de um depósito da empresa de meu pai. Martin tinha me puxado da confraternização de fim de ano dos funcionários, me levado a um depósito e escancarado um envelope cheio de fotos minhas, de Margot e Elliot atrás da arquibancada do ginásio da escola. Até aí tudo bem. A não ser pelo fato da foto mostrar uma Rosie segurando um cigarro de maconha enquanto ria com os amigos. E naquele momento eu soube que ao pegar o cigarro da mão de Margot apenas para que ela pudesse amarrar os cabelos eu tinha cometido um erro que poderia me custar muita coisa. Meus amigos, infelizmente entraram na onda dos cigarros de maconha, e sempre que as aulas se encerravam eles iam fumar, algumas vezes eu fui junto, mas nunca tive coragem de experimentar, e justo quando aquela maldita foto foi tirada, eu estava fazendo o favor de segurar o maldito cigarro para Margot. O que meu pai iria pensar? O que minha avó iria pensar? O que até mesmo minha falecida mãe pensaria de mim se ainda estivesse aqui? Se aquela foto fosse divulgada seria o fim pra mim, eu estava no meio do meu processo de recuperação, depois de receber indicações do médico para me afastar de tudo aquilo que vinha fazendo, e eu tinha consciência de que o consumo de drogas é algo muito sério, e não queria aquilo para mim. E muito menos submeter a minha família a passar por essa situação. Se é que posso chamar o que somos de família.

- O que você estava pensando? – gritei – Não pode sair por aí me vigiando e tirando fotos minhas e de meus amigos sem permissão! Isso é crime!

- Eu tentei chamar sua atenção de todas as formas baby girl. Ver você crescendo e se tornando essa gostosa me deixou louco. Pensei que tinha entendido os sinais que eu venho tentando te dar. Os olhares, as mensagens, respostas nos seus stories... – Martin disse calmamente enquanto me jogava contra a parede, prendia meus pulsos frágeis com uma só mão, e passava a outra delicadamente sobre a minha bochecha esquerda, o que me deixou com vontade de vomitar. – Tive que tomar medidas drásticas para que você começasse a me notar.

- Você cogitou mesmo a ideia de que algum dia eu iria notar e querer uma pessoa como você? – falei desacreditada e automaticamente ele enroscou meus cabelos com a sua mão esquerda e puxou. Eu queria gritar, queria sumir dali, mas de nada ia adiantar, ele havia me imobilizado contra a parede, a música estava muito alta e ninguém iria me ouvir, mas mesmo assim eu tentei.

- Me deixe sair! – gritei – Alguém me ajuda!

- Shhhhhh! – ele sibilou enquanto passava o dedo em meus lábios. Uma escuridão repentina tomou conta de seus olhos, e eu percebi que gritar não havia sido a decisão correta. – Não adianta gritar florzinha, ninguém vai te ouvir. – ele disse enquanto corria os dedos em meu cabelo. – Mas eu posso te fazer gritar de uma outra forma. – falou e colocou a mão por baixo do meu vestido preto, alisando o cós de minha calcinha e depois a minha intimidade. – Você vai ter que ceder Rosie. Ou Daniel receberá suas fotos chapando com seus amiguinhos nos próximos minutos. Já carreguei todas as mídias no celular, e basta apertar o botão enviar. – ele deu uma pausa e tirou uma mecha de cabelo que cobria meu olho direito. – Vamos, não vai ser tão ruim assim, eu fiquei louco por você desde que comecei a notar a mulher que você está se tornando. Não posso mais aguentar esse desejo Rosie.

Antes que o Verão Acabe (HIATO)Onde histórias criam vida. Descubra agora