CAPÍTULO 23

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Eu sempre sonhei com a minha liberdade, poder sair de Salim e conhecer o mundo, explorar novas culturas e conhecer novas pessoas. Mesmo que naquela época o mundo se resumisse a alguns pequenos reinos ao Sul, denominados Reinos Bárbaros. Nunca entendi o nome, mas depois descobri que eram um povo leigo em relação a magia e com costumes brutos, optando pela violência no lugar de um diálogo civilizado.
Porém nunca pude imaginar o que me esperava além daquelas pedras brutas.
Não ganhei a liberdade que sonhava, mas ganhei alguma coisa mais importante, não sabia dizer se eram minhas novas amizades, meu dragão, ou a responsabilidade de comandar não só um reino, mas um império, como uma rainha guerreira, ocupando um lugar que se fosse em Salim, seria amarrada e queimada viva por simplesmente segurar uma espada, tendo uma vulva no lugar de testículos.
Isso preencheu meu coração e me fez feliz, feliz como eu nunca fui. Mas a preocupação começava a ganhar tamanho, tomando a linha de frente com a felicidade, e podia sentir que logo ela seria maior que qualquer outra emoção.
Um grande poder significava uma grande responsabilidade, e uma grande responsabilidade causava uma pressão emocional gigantesca.
Como Henri tinha me dito, eu podia carregar em meus ombros para sempre um fardo ou um trunfo. Tudo dependia de mim. Todos dependiam de mim. Mas não fui criada para salvar, fui criada para ser salva, não fui criada para proteger, fui criada como uma princesa frágil que precisava ser protegida, e mesmo sabendo que era a mais forte que a minha linhagem iria conhecer, não me sentia segura em ter tamanha responsabilidade em minhas mãos, vidas dependiam de mim. Eu não podia falhar e isso me apavorava mais que tudo, mais do que saber que eu tinha grandes chances de morrer.

— Eu aprendi que minha vida não importa, mas se eu morrer sem cumprir minha sina, pessoas inocentes vão pagar pelo meu erro — comentei com Henri um dia, enquanto treinávamos.

Senti que seus olhos procuravam ver minha alma naquele momento, procurando qual barragem tinha se rompido dentro de mim, fazendo dor jorrar pela minha voz.

— Sua vida sempre foi importante, não vê o que todos fizeram por você?

Sua resposta tinha sido vazia, pois não importava o quanto ele tentasse me fazer pensar de outra forma, a verdade sempre foi clara. Não importava em qual reino eu estivesse, qual posição eu ocupasse ou qual coroa eu usasse. Nunca se tratou de mim, e sim do que eu podia fazer. Ailyn era apta a casamentos vantajosos, Héstia apta a lutar até a morte por uma causa que não escolheu, mas abraçou por ser seu destino.
Nunca pensaram em quem Ailyn amava ou por quem Héstia escolheria morrer, apenas moviam as cordas da fantoche de cabelos brancos e ela fazia o que lhe era ordenado.

— Eles não fizeram por mim. Fizeram pela mulher da profecia, a escolhida para salvar homens e mulheres de ter seu sangue manchando a terra.

Naquele momento eu já tinha me acostumando com a sensação distinta de cada elemento dentro de mim. O fogo aquecia, e ar esfriava. Não era difícil encontrá-los, muito menos usar os dois juntos. Então ergui, entre mim e o General Gohann uma parede de ar e fogo, grossa o bastante para matar um cavalo que ousasse passar por ela.

— Mas isso acabou. Ninguém tomará decisões por mim mais. A Imperatriz da Lua tem um nome, e é bom que o conheçam, eu sou forte, eu sou poderosa, eu estou no comando — dizendo isso fiz um movimento com as mãos, separando ar e fogo, um de cada lado, apenas para voltar a chocá-los, formando um imenso furacão de fogo.

Eu não acreditava em nenhuma palavra que tinha dito, mas para o meu bem era bom que as pessoas acreditassem. Eu me tornaria essa rainha, essa imperatriz, e não tardaria. Se fosse pra lutar, eu lutaria para ganhar.

— Você é surpreendente. — Ouvi Henri dizer antes de dissipar meus elementos e dar as costas para ele.

Eu não precisava de sua permissão para sair, ele não mandava em mim. Ele não era nada meu, podia estar apaixonada por ele, mas seu irmão era meu noivo, e o general não estava com vontade nenhuma de lutar por mim, por nosso amor, ele disse que daríamos um jeito, que ficaria comigo. Mas não o fez, não falou com seu pai, com seu irmão, com ninguém.
Eu era preciosa demais para chorar por um homem que não tinha coragem de lutar por amor, mas que lutava por ódio.

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