Capítulo 1

61 1 0
                                    





Convicta de seus princípios, raramente Maria Cecília abaixara a cabeça, é que acreditava que ainda estando errada, se entregar não era o certo, orgulhosa.

Maria Cecília era uma pessoa desconfiada, não confiaria tão facilmente nas pessoas conforme seu histórico de vida, que ainda que curta lhe ensinou, desventuras, confiava com excessão em sua melhor amiga Alice, moça formosa e educada que vivia em uma casinha de barro há poucos passos de sua residência, naquela pequena vila onde todos se conheciam já que dentre 200 cabeças, não era muito difícil se familiarizar. Era sua amiga desde a infância, eram tão próximas que quando Maria nascera sua mãe dona Rosa tivera complicações com a amamentação, então em um ato de solidariedade dona Aparecida a mãe da amiga, se oferecera para amamenta-la, tornaram se cumadres desde então.

As duas aprontavam muito, anos atrás quando se encontravam entediadas Maria Cecilia convidou Alice pra catar manga na única mangueira que existia no povoado, na casa do delegado. Eles estavam em festa nem se deram conta da presença das crianças, Maria Cecília subia até o topo tentando alcançar a fruta suculenta, ao tentar pisar em um galho perdeu o equilíbrio e caiu em cima da mesa da varanda, todos os presentes ficaram assustados, esse e outros episódios eram parte das peripécias inconfundíveis da dupla.

Alice estava prestes a se casar com José Miguel moço um tanto conhecido na região, alto, de pele morena com traços caboclo. O moço era apaixonado há muitos anos e só conseguiu a mão da moça em um jogo de sinuca, onde seu pai Paulo Gonzales estava caindo de bêbado, após o rapaz lhe pagar algumas rodadas de velho barreiro no boteco do seu joão.

     Maria Cecília era contra o casório pois ainda que José fosse formoso e afortunado, sabia que o mesmo era um galanteador que já havia beijado todas as mulheres da redondeza nos bailões do Picuinho. Alice, inocente que era, com seus 17 anos a flor da idade, não dava ouvidos por medo de futuramente não encontrar um pretendente melhor. Logo que os dias iam passando desde o noivado, o povoado de Aracati estava em um movimento danado, ninguém sabia explicar se era pelo noivado ou algo havia acontecido, as pessoas estava apresadas e o tempo andava de um jeito diferente.

  Maria Cecília no dia anterior tivera uma briga com José Miguel, os dois por coincidência acabaram se encontrando na casa do único curandeiro que ali morava, ele dizia que seria um bom marido para Alice e nada haveria de se preocupar, até que o silêncio reinou, ela não pensava mais em bater de frente o que restava era aceitar, por um instante (aquele instante que jamais seria lembrado por Maria) surgiu uma chama de esperança de que talvez sua amiga seria feliz. Isso foi um breve segundo, José Miguel deu um passo pra frente e insistiu em beija-la, ela recuo e logo ele tentou novamente Maria conseguiu fugir e tudo que conseguia fazer era chorar. Insegura com o seu futuro e temendo o de sua amiga, ela buscou refúgio no único lugar onde encontrava conforto, onde os covardes amedrontados com os problemas da vida, os solitários carregando exaustão e até as mulheres as quais a sociedade não olhava mais com esperança iam pra encontrar algum sentido noturno para a vida.
Ao chegar encontrou Raimundo o solteirão de Aracati ele contava sobre o acontecimento no povoado vizinho, os moradores relatavam terem sido atacados pelo chupa chupa, -Primeiro eram rodeados por luzes do céu, que desciam até os cidadãos até que algo acontecia e eles apareciam com uma marca no pescoço, igual vampiro.
Aliens afirmava Maria, -Minha avó já me falou muito disso, uma vez enquanto ela lavava a roupa um ser com cabeça de fogo apareceu a encarou fixamente nos olhos e saiu, com esse tipo de coisa não brinco.

Raimundo ria pois pra ele não passava de ficção do sertão, não acreditava nem em Deus, talvez acreditasse se dissessem para ele que Deus era mulher. Ninguém notou o silêncio de Maria, ela bebia cada dose de cachaça de forma amargurada e rápida, sem sentir o gosto ou cheiro, nem mesmo podia sentir o calor, não sentia.

Algumas doses depois confessava ao bar em alto em bom som que ela era quem os salvaria da desgraça, que previa que algo revolucionário iria acontecer no vilarejo -Os humilhados serão exaltados, seremos tão admirados quanto os falsificadores que trazem trambiqueiras para vender na região.
Dizia Maria Cecília, bêbada em plena terça-feira á noite, com os poucos gatos pingados que ainda restavam no bar. Quando o relógio marcou 3:00 horas da matina, a porta do boteco se abriu, era o Padre João que havia chegado.

O padre sempre no fim de seu expediente na igreja (que impressionantemente era longo) ia até o boteco do seu João para suas conversa filosóficas da madrugada.

Maria Where stories live. Discover now