Capítulo 02

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Olho para trás, apenas checando se as minhas duas novas sombras estão me seguindo. Meu pai simplesmente pirou quando soube do assassinato da senhorita Linetty e pirou ainda mais quando descobriu que eu aceitei o caso do filho dela. Ele fez um escândalo para que eu largasse o caso, mas bati o pé e disse que ele poderia fazer o que quisesse, que eu não largaria o caso.

O que ele fez foi por dois brutamontes nas minhas costas. Não que eu me importe, os dois são quietos como sombras, muitas vezes nem percebo a presença deles.

- Você tem que admitir que seu pai escolheu dois galãs de filmes de ação para serem seus seguranças – Agatha comenta, enquanto anda do meu lado. Estávamos indo fazer a nossa primeira visita a Heitor, o filho da senhora Linetty.

- Agatha! – censuro ela, porém não deixo de concordar com seu posicionamento.

Meus seguranças se chamavam Félix James e Dylan Woodwork. Félix deveria ter um pouco mais de quarenta anos, parecia uma muralha de tão forte que era. Mantinha o cabelo ruivo sempre bem aparado e o terno impecável. Logo nos nossos primeiros dias juntos já havia pedido para não chama-lo de senhor ou pelo sobrenome. Já Dylan Woodwork... Não sei, mas Woodwork parecia o irmão rebelde de Félix.

Nos poucos dias que eles estavam comigo, já havia flagrado Félix dando algumas duras em Woodwork em relação ao seu cabelo preto sempre desarrumado, o jeito que sua gravata sempre parecia torta e sua barba por fazer. Woodwork também era mais novo, deveria estar beirando os trinta. Era forte, mas não uma muralha como Félix. Fazia muito mais o meu tipo.

- O investigador Byork está me enrolando de novo com a entrega do relatório da morte da senhora Linetty. É incrível a incapacidade dele! – Agatha estava fazendo o que sempre fazia: reclamar de Byork. – Eu não sei como sempre temos o azar de pegar ele como investigador dos nossos casos.

- As vezes acho que você só escolhe os casos que ele investiga – brinco, dando um meio sorriso. Byork e Agatha vivem brigando como gato e rato, a não ser quando eles estão se pegando escondidos. – Aposto que você só quer ficar perto dele – provoco a minha amiga.

- Nina, não abuse! Você pode ter os dois DiCaprio ai te seguindo, mas garanto que eu ainda faria um estrago dos grandes! – Agatha esbraveja e eu sou obrigada a rir.

- Senhorita Gatsby? – escuto Woodwork me chamar, assim que chegamos próxima a sala aonde vamos encontrar nosso cliente. Me viro e encaro o moreno.

- Ah sim! Vocês dois podem esperar aqui! – indico um sofá na entrada da sala.

- Não podemos lhe deixar sozinha, senhorita – Woodwork me relembra. O encaro por um minuto, lhe desafiando. Fiquei muito boa nisso durante os anos, quando você tem que manter uma postura séria e refinada, muitas brigas são ganhas por encaradas.

- Claro que podem – digo, um pouco sem paciência.

- Seu pai deu ordem restrita de seguirmos a senhorita em todo lugar – Félix comenta, um pouco sem jeito. Apesar de ser um verdadeiro armário, Félix não é de muitas palavras.

- Eu só quero ver quando você precisar ir no banheiro, Nina. – Agatha debocha, rindo da situação.

- Eu vou entrar agora nessa sala, conversar com meu cliente a sós e vocês vão sentar e esperar nesse sofá. Vocês não podem, e nem tem o direito, de entrar nessa sala comigo! Vocês já ouviram falar sobre sigilo profissional? – esbravejo.

- Nina, calma garota! – Agatha fala, segurando o meu braço. – Eles não fizeram nada demais.

No fundo, eu sabia que não fizeram. Eu sabia que não havia motivo para ficar com raiva deles, afinal eles só estavam seguindo ordens. Mas eu estava com raiva de toda a situação. Eu estava com raiva de ter que andar com seguranças atrás de mim, eu estava com raiva da sociedade em que vivemos não ser justa, eu estava com raiva de Heitor estar preso por algo que ele não fez. Mais, acima de tudo, estava com raiva pela senhora Linetty ter pagado pelos pecados do filho.

IncertezasWhere stories live. Discover now