Capítulo 1 - Shoyo

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Deus do céu, por quê que você nasceu?

Você é ridículo.

Você é patético.

Você é uma vergonha para o seu clã!

Você vem aqui extremamente puto da cara em plena manhã de sábado disposto a começar a Terceira Guerra Mundial e se desmonta todo só porque o cara é bonito?

Muito bonito.

Ridiculamente bonito...

Você dá para o garoto o que devia ter sido o sorriso mais sem graça, forçado e amarelo que ele já viu na vida. Sim, garoto. Ele deve ter em torno da sua idade mais ou menos, o que o deixa com uns vinte e poucos. Embora fosse pequeno o suficiente para te fazer ficar na dúvida. E claro que os seus 1,86m de altura não tem nada a ver com isso.

Ele ergue as sobrancelhas e pisca, surpreso, o seu invejável par de olhos cor de mel. Você acha que vai rir da sua cara e você riria com ele e choraria em desgraça em seguida. Mas ele apenas alarga o sorriso, mostrando uma sequência de dentes alinhados que com certeza pediram alguns anos de aparelho.

— É claro. — ele diz, educado. — Só me dê um momento e... oh, Shoyo! Não faça isso!

É a sua vez de piscar surpreso, olhando-o com uma expressão de beirava a idiota. Até sentir um uma fileira de dentinhos afiados no seu calcanhar.

Olha para baixo e se depara com uma bolinha de pelos pretos. Bastardinho! Pensa involuntariamente, agradecendo dos deuses por não ter soltado aquilo alto. A cargo de curiosidade, não é um chiuaua anorexo nem uma cria de pitt bull. Na verdade, você não faz a mínima ideia do que ele seja.

É bonitinho, tem que admitir. Minúsculo o suficiente para caber na sua mão, o pelo negro e liso, patinhas curtas e gordinhas, e orelhas caídas e fofas. A criatura estava se dividindo entre mordiscar seus dedos dos pés desprotegidos pelos chinelos e tentar arrancar a sua tornozeleira hippie de pano. E tudo o que você consegue fazer, é olhar para ele abobalhado.

— Ai meu Deus, me desculpe por isso... — ouve o vizinho dizer, enquanto a porta é aberta por completo.

Por todos os deuses do Olimpo, ele está só de cueca!

Okay, não só de cueca, tem um sofisticado e elegante roupão fino nos seus ombros, mas que não se enrolava ao resto do seu corpo, deixando toda a pele escura e bonita da sua barriga desenhada e coxas grossas para você ver.

E você viu direitinho.

— Eu sinto muito... — ele murmura com uma cara de culpa, depois de pegar o filhote nos braços, embora tenha tido de lutar para desenganchar as presas dele da tornozeleira. O bichinho começa a mascar o seu roupão caro imediatamente e ele não se importa. — Ele tem só 45 dias, ainda está na fase de testar os dentes, quer morder absolutamente tudo. — explica, segurando o filhote de barriga para cima, como se fosse um bebezinho, fazendo um carinho distraído nas suas orelhas. — Espero que não tenha machucado você...

— Ah, não! Estou bem, estou bem. — você diz um pouco rápido demais, ainda olhando para aquele projetinho de criatura mortífera, tentando bravamente não fitar muito descarado a sua barriga sarada ou aquelas linhas sensuais nos seus quadris, desaparecendo atrás da boxe preta. — Shoyo? — pergunta antes de pensar, se lembrado de como o chamara há pouco.

O rapaz dá uma risada breve e gostosa, balançando o cachorro nos braços. Os cabelos dele teriam dançado se fossem longos, eram pretos e completamente lisos, do tipo que não se bagunça nem num sábado de manhã.

— Talvez eu goste demais de comida japonesa. — ele confessa, ainda sorrindo. — Qual o seu nome?

Você pisa a toa, calado. Jesus, qual é seu nome mesmo? Você provavelmente não sabe nem o caminho do seu apartamento mais. Tinha algo a ver com os romanos e um mês do ano...

O Garoto da CoberturaWhere stories live. Discover now