30 - Não há como fugir da dor

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Algumas horas depois de Yoongi e Jungkook chegarem, Namjoon fechou a loja e todos foram para atrás do trailer arrumar o espaço. Yumi, encarando o trailer, foi levada por um instante para exatamente uma semana atrás, quando ela viu sangue na mão de seus três amigos. Rapidamente, afastou a imagem da cabeça. Tinha os perdoado, estavam juntos novamente, tudo estava bem.

Ou talvez não estivesse. Com tudo já arrumado e sentada ao lado de Taehyung, a mente de Yumi estava longe dali. Só pensava no quanto havia se enganado nas últimas semanas. Ela não estava bem, aquelas pessoas ao seu redor não a curaram. Não poderiam, não é assim que funciona a mente e a dor. Por dias, Yumi pensou que todos os seus problemas haviam acabado, já que tinha amigos, uma família ali. Mas a dor não some simples assim.

— Peguei esse refrigerante para você. — Namjoon disse, esticando uma lata na direção da garota e tirando-a de seus pensamentos.

— Ah... Na verdade, hoje vou querer uma cerveja. — Disse Yumi, com uma voz desnorteada.

— Mesmo? Você quase nunca bebe. — Namjoon sorriu de leve e trocou a lata por uma garrafa de cerveja.

Yumi apenas deu de ombros.

— Yoongi, você a estragou. — Taehyung disse ao seu lado com um sorriso.

A garota sentiu um pesar em seu peito. Mais cedo, não contou à Taehyung que estava num bar, mas por que? Ela ainda não tinha entendido, mas estava com vergonha. Sabia que não estava bem e que começou a usar o álcool para diminuir sua tristeza, aquilo a envergonhava.

Num toco de madeira cortado, Jungkook estava sentando com uma lata de refrigerante na mão. Sem álcool, Yumi se surpreendeu. Yoongi bebia, Taehyung e Namjoon não. Taehyung estava dirigindo, então não podia beber. Namjoon não bebia porque na última vez que o fez, causou uma cicatriz no melhor amigo.

Sangue. Yumi começou a ver sangue descer pelo rosto de Taehyung. Aquela imagem a fez voltar para o passado mais uma vez. Um passado tenebroso, que ela se esforçava ao máximo para esquecer.

Estava em seu antigo apartamento. Gustavo não estava em casa. Horas antes, ela tinha visto em suas redes sociais uma foto que a mãe postou com seu novo bebê. Um novo filho. Ela não foi capaz de amar Yumi, mas agora estava feliz com um bebê no colo. A mãe tinha literalmente dado Yumi para o irmão criar e a deixaria lá para sempre se ele não tivesse sem dinheiro. Quando Yumi viu aquela foto, com aquele sorriso de sua mãe... seu coração partiu em mil pedaços. Se sentiu a pessoa mais inútil e descartável do mundo.

— Eu não fui capaz nem de ser uma filha para a minha mãe... — Ela balbuciou em voz alta.

Começou a se sentir zonza, como se algo tivesse lhe dado uma pancada na cabeça. Cambaleando, ela caminhou até a varanda do apartamento e olhou diretamente para baixo. Dez metros de altura. Pode matar, mas não é certeza. A morte dói muito? Yumi se perguntou. Não queria cair e continuar viva, sofrendo por muito tempo. Queria que fosse rápido...

Talvez de cabeça, ela pensou mais uma vez. Não estava decidida de nada, mas só o fato de estar pensando nisso a deixava constrangida, assustada e... aliviada por um momento. Ainda olhava para baixo quando seu telefone tocou. Tirou-o do bolso e viu o nome de Gustavo na tela. Não era ligação, apenas a notificação de uma mensagem que dizia:

"Já estou saindo do trabalho. Vou comprar um bolo para comemorar seu aniversário, só se faz 19 anos uma vez. Se quiser mais alguma coisa, pode falar, essa noite vai ser uma festa. Chego em meia hora. Te amo."

E foi Gustavo que a salvou naquela tarde, mesmo que ele não soubesse e nunca saberá.

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GoldenWhere stories live. Discover now