5 - Chuva

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Antes de tudo, desculpa por demorar a atualizar a história, e que eu tenho estado muito ocupado por conta da escola, curso e tals

Mas então fiquem com a história...





    Eu não sabia se devia explicar o que era o Cinema Bu, ou se devia deixar que ele descobrisse. Se calhar o melhor era esperar um carro passar. Há coisas que entram pelos nossos olhos e chegam aos nossos corações sem palavras de explicação.
     Um dia perguntaram à minha vó Dezanove o que era a poesia. Primeiro ela ficou muito tempo calada, então pensaram que ela não tinha resposta. Mas ela depois falou: a poesia não é a chuva, é o barulho da chuva.

– Já tomaste banho de chuva?
– Muitas vezes.
– Gostas mais da água que cai, ou do barulho da água a cair
    Ele demorou algum tempo para responder.
– Se estou dentro de casa, adoro o barulho da chuva. Se tomo banho de chuva, adoro ver o arco-íris chegar.
– Então gosta mais de qual?
– Dos dois.
– Há um que se gosta mais.
– Acho que se pode gostar mais de duas coisas ao mesmo tempo.

    Ouvi, ainda ao longe, o barulho de um carro. Olhei a parede em frente, como se já estivesse a começar o Cinema Bu. Ele olhou também, e estranhou que a parede continuasse branca. Na verdade, ela estava cinzenta, pois só a luz da lua alumiava a varanda.
     Um vento fraquinho abanou as folhas dos arbustos, as plantas e as flores. Um morcego passou bem rápido por cima de nós.

     Eram os sinais: o Cinema Bu estava quase a acontecer.

– Estás a ver o quê na parede?
– Já vais ver...

    Mas era um carro sem faróis acesos, e esses carros são inimigos do nosso cinema pobre. Assim o Cinema Bu não funciona. O carro fez a curva com uma velocidade boa, mas com as luzes completamente apagadas, nem já os faróis mínimos para aquecer a tela.

    A porta da varanda abriu de novo. Uma luz pequenina apareceu primeiro. Depois a mão bonita da minha avó. Depois os pés e o corpo. Eu falei rápido no ouvido dela:

*repara no pé esquerdo*
    – Tudo bem aqui na varanda? - falou só a minha avó, e regressou com a vela para dentro de casa.

    Deixei ficar o meu nariz perto dos cabelos dele. O vento soprou, como se fosse cena de cinema. Os cabelos dele voaram na minha direção. Por momentos, fizeram-me cócegas nos não olhos. Tudo cheirava bem: os cabelos dele, o vento, a noite.
    Eu sorri porque continuava na vontade de um beijo. Ele sorriu porque reparou nos quatro dedos do pé esquerdo da minha vó. Os meus olhos sorriram porque tinham tocado os cabelos dele.
    A  lua estava pendurada em cima de nós. O céu já não estava tão azul-escuro. Os morcegos brincavam de trocar de árvores, gritando - como crianças alegres - nessa brincadeira voadora, e os grilos grilavam muito perto.
    – Tem cheiro bom - eu disse.
    Ele pegou no cabelo, cheirou.

Uma escuridão bonita  [concluida]Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum