Souvenir

CAPÍTULO UM

Calista se preparava para mais um dia de trabalho. As semanas estavam se tornando cada vez mais cansativas e suas olheiras expressavam isso.

A filha única do casal Parker, Juno, chorava no berço próximo a cama. Calista se aproxima, pega a criança e une ao seu corpo. Apressada, pega sua mochila fotográfica e sai dando passos largos na direção da sala.

Por sorte, a babá não havia se atrasado. A jovem universitária Rosalie Chaney conversava com o empresário musical John Parker, marido de Cali.

— Bom dia, Rosie! – Anuncia Cali ao se aproximar dos dois.

— Olá pequena, Juno – Brinca a babá com a criança e a pega do colo de sua mãe – Olá, dona Calista.

— Senhora só se for a sua mãe – Brinca Cali enquanto se serve de café – Já conversamos sobre isso – Sorri.

— Não pressiona nossa mente brilhante – John ri e beija o topo da cabeça da esposa.

— Hm... Mente brilhante? – Se interessa Cali e olha curiosa para os dois – Estou percebendo que em breve teremos algo a comemorar.

— Queria muito que vocês dois estivessem na minha formatura – Diz Rosie em tom apaixonado e entrega os convites – Vocês foram uma das melhores coisas que me aconteceram nesse tempo.

— Claro que estaremos lá – Cali sorri em agradecimento e com o convite nas mãos, admira-o.

— Parabéns, Rosie! – John paternalmente bagunça o cabelo de Rosie e dá um longo gole em seu café – E vamos depois sair para beber em comemoração.

Calista esteve todo esse momento com um sorriso forçado em seus lábios. Desempenhando um papel que Rosie intimamente sabia que não era o seu.

Era tudo forçosamente demais para ela. A casa dos sonhos, marido perfeito, vida financeira estável e uma linda filha.

De longe, muitos diriam que Cali havia ganhado na loteria. Não tinha do que reclamar. Mas por que o cansaço era constante?

Tudo parecia fora do lugar para Cali. O que ela queria não estava naquela casa avaliada em mais de 1 milhão de dólares.

Com seu completo equipamento para fotografia externa, Cali chegou ao parque da cidade. Um importante editorial de moda havia contratado ela para fazer as fotos de aniversário de 50 anos do periódico para mulheres.

Como sempre deslumbrante, Carmen Briggs estava preparada para ter atenção dos olhos de Cali. Esta admirava o trabalho de Carmen como referência e apoio a mulheres transgênero. Como uma das embaixadoras da ONG, Cali usava da sua arte através das lentes para elevar a autoestima das mulheres que naquela organização buscavam apoio emocional e psicológico.

Os assistentes corriam de um lado ao outro pelo gramado, enquanto silenciosamente Cali ajustava seus equipamentos.

— Eu e Ethan mais tarde vamos preparar um jantar, quero você lá – Carmen assustou Cali, tirando-a de seu mundo privado – Também convidamos Rosie.

— Ah – Cali esboçou um pequeno sorriso e concordou com a cabeça – Por favor, não complica as coisas para mim.

— O que foi? Todos nós gostamos de Rosie – Disse em tom divertido, parecendo não se importar com o casamento da amiga.

— Também gosto dela – Respondeu para si e olhou pela lente de sua câmera.

Testando a abertura da lente em cliques esporádicos, Cali ouvia o que Carmen tinha a dizer sem dar o devido valor.

Um velho hábito levava aquela mulher de longos cabelos castanhos a esquecer do que estava tumultuando seu coração. Cali, varria o perímetro apenas olhando ao seu redor e capturando o que gostaria de lembrar depois.

Na sua cabeça, tocava a música Otherside de Red Hot Chili Peppers. Sua favorita desde o seu lançamento.

Quando o ensaio fotográfico começou, Cali tornou a pensar nos seus tormentos. Ao longo pensou em não retornar para casa à noite, nem mesmo comparecer ao jantar da família Briggs.

Sua vontade naquele momento se resumia a whisky, cigarros e a sua Harley Davidson Fat Boy. Já que há muito tempo havia se encontrou entre a cruz e a espada para abandonar a forma como gostaria de viver.

Ao fim do trabalho, Cali sabia que estava perto do horário do seu segundo compromisso do dia, mas permanecei por mais algum tempo caminhando pelo parque. Acendeu um cigarro e com uma câmera Fujifilm afastou todos os incômodos.

Risadas se espalharam pelo parque. Muitos estudantes se encontravam naquele parque para fazer aquilo que talvez não pudessem fazer na presença de seus pais.

Isso lembrava Cali dos momentos em que se via livre por 1 hora. Era o único momento que não precisava ser a irmã mais velha de Caleb e a filha exemplo para seus pais.

Posicionada ao centro da ponte que garantia o acesso aos dois lados do parque cortado por um rio, Cali assustou-se ao ouvir uma antiga risada.

Olhou de um lado ao outro, mas logo parou sentindo o seu coração pesar.

Não poderia estar ouvindo aquilo.

Nem mesmo dizer aos outros que havia ouvido a risada de Ana.

Ana estava morta e ela tinha que com isso se conformar.

Calista guardou sua câmera na mochila, de lá tirou um ansiolítico e engoliu a seco. Nada de whisky por hoje e apenas responsabilidade.

Não havia mais nada ali para aquela mulher.

## ★ ##

Carmen Briggs, 30 anos.

John Parker, 31 anos.

Rosalie Chaney, 20 anos.