CAPÍTULO CINCO

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Ana deixou a Bélgica com a certeza de que jamais voltaria aquele lugar. Dormindo em um chão e acordando em outra cama, foi assim que ela começou o processo de dizer não a sua família.

Não seria ela a se sentir culpada por aquilo que a fizeram passar. E fez disso sua verdade enquanto trabalhava, estudava e planeja realizar seu sonho de ter uma livraria e biblioteca com espaço para que os clientes pudessem comer alguma coisa e ter um bom papo com alguém.

O amor por Calista permanecia ali, desde a primeira vez que a viu. Todos os dias na Bélgica, levaram ela a sentir de que alguma forma Cali não estava morta. Nos seus sonhos, encontrava o seu amor e acordava com a sensação de que em breve se veriam.

Todos os sonhos foram diferentes da realidade. Ao reencontrar Cali daquela forma, seu corpo respondeu: "Você não está louca". Uma menina em seu colo era a prova de tudo estava mais ainda fora do lugar.

Os olhos de Calista estavam sombrios e sua feição mais escura. Ela sentiu medo e com vontade de recuar. O que estava de errado?

De todos os medos, o maior estava escancarado: por que disseram que ela havia se matado?

A violência física e psicológica sofrida nos anos de aprisionamento no internato, Ana fora forçada a escrever a carta para Calista, mesmo sabendo o que aquilo poderia acarretar. Fora ela desgarrada de todo o seu eu, enquanto os castigos feito pelas freiras levaram-na questionar inúmeras vezes o motivo de estar passando por tudo aquilo.

Guardava ainda o que havia sobrado do namoro com Calista: o anel de casamento da mãe dela.

Olhando para aquele delicado objeto lembrava da conversa que tiveram naquele dia.

— Essa é a única coisa que guardo da minha mãe biológica e eu queria te dar – Disse Calista.

— Você está louca? Como eu poderia aceitar algo assim – Ana afasta a mão de Calista e ri.

As duas estavam nuas deitadas sobre uma colcha de retalhos, o sol beijava a pele das duas junto ao vento. Era primavera e aquela escondida clareira convidou as duas ao amor.

— Você não confia quando digo que independente de tudo nós iremos ficar juntas? – O firme sussurro de Cali fizera com que uma lágrima escorresse pela bochecha de Ana um tempo depois.

— Como pode ter tanta certeza disso? – O temor do que poderia acontecer com elas caso alguém descobrisse já começara a ser pressentido.

— Ana, eu te amo. Toda vez que olho nos seus olhos – Calista se inclina sobre o corpo de sua namorada e toca o rosto dela – Eu sinto como se te conhecesse há muito tempo e...

— O quê?

— Eu não posso deixar de viver esse amor e não importa se eu provar o inferno por anos.

Calista preenchia Ana. Sua firmeza era o que ela precisava para confiar que estava no caminho certo.

Lembrar daquelas palavras, levaram Ana ao choro enquanto questionava se era desse momento que seu antigo amor estava falando.

Não foi difícil para Ana encontrar o perfil do Instagram de Calista e por lá pode ver o quanto ela havia se desenvolvido. Suas fotografias estavam cada vez mais lindas e de alguma forma ela sentia que estivera presente em todas as fases de Cali.

Por um instante a tela mudou e se tratava da ligação de um número desconhecido. Ao atender, Ana foi surpreendida pelo silêncio.

— Porra, trote uma hora dessas? – Ela resmungou.

— Não desliga! – A rompante voz feminina assustou – Não desliga, Ana.

— Cali?

— Sou eu.

Antes que qualquer coisa fosse dita, a saudade falou mais alto enquanto as duas choravam em se dar conta de que aquilo não era um sonho. A realidade nua e crua havia se dado conta de colocar as duas mais uma vez juntas.

— Onde você está? Eu preciso ver você agora!

— Sempre tão impulsiva.

— Calista!

— Ana, eu estou na França. Vim a trabalho, mas assim que eu vol...

— Não importa, eu vou para a França.

— O quê? Como?

— Cali, eu não vivo mais um minuto sem você.

— Está falando sério? Você vem mesmo, Ana?

— Me responde uma coisa primeiro?

— O que você quiser.

— Eu ainda sou a sua menina?

— Sim.

sou.ve.nir

significa o eterno reencontro daqueles que de verdade prometeram ficar juntos.

Fim.

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