00 | introdução.

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8 ANOS DEPOIS

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8 ANOS DEPOIS

— Cheguei!

Anuncio ao abrir a porta de casa, fechando-a logo em seguida. Retiro meu sobretudo preto úmido com agilidade e o penduro no mancebo ao lado da porta, jogando o molho de chaves na mesinha de vidro. Uma trovoada entrecorta o ambiente silencioso e eu agradeço por já estar dentro de casa. Eu peguei um pouco do início da chuva voltando do café, mas, em compensação, escapei de uma tempestade daquelas.

Subo as escadas até o segundo andar, caminhando até a segunda porta de madeira branca, na direita. Ela está fechada, então eu abro apenas uma fresta. A luz da pequena luminária ao lado da sua cama ainda está acesa, como de costume — apesar dela já estar dormindo. Adentro o cômodo rosa e me aproximo da sua cama, espiando seu rostinho adormecido antes de desligar a luz. Seu braço está agarrado ao seu bichinho de pelúcia favorito, a coelha chamada Sra. Rodriguez, e sua cabeça levemente apoiada nela. Quando me dou conta, estou sorrindo.

Essa era, com certeza, o tipo de cena que eu nunca me cansaria de ver.

Curvo-me de leve e deixo um beijo na sua testa. Depois, desligo o abajur e me retiro, encostando a porta com cuidado para não acordá-la. Inspiro fundo e desço as escadas, rumando até a cozinha iluminada. Como eu esperava, encontro Liam escorado na pia, secando algumas louças — provavelmente do jantar. Um sorriso brota em seu rosto ao avistar-me, e eu escoro-me no arco da cozinha, lhe retribuindo um refreado. Eu estava cansada demais até para mostrar os meus dentes. Sentia como se meu corpo houvesse sido colocado em um triturador.

— Dia corrido no café? — ele perguntou.

Soltei um suspiro. Meu rosto falava por si só.

— Bastante, mas não posso reclamar — respondi, cruzando os braços. — E como foi com a Mary? Desculpe por te pedir isso de novo, é que as coisas com o café andam tão estressantes e...

— Eu já disse que eu amo estar com a Mary, Maeve. Não é problema algum eu ficar com ela — ele me interrompeu, e eu me calei. Eu não gostava da ideia de depender de outra pessoa para cuidar da minha filha, mas Liam era uma das poucas pessoas que detinham da minha confiança para isso. Depois do colegial — especificamente, no dia da nossa formatura — de alguma maneira, nós nos aproximamos bastante. Desde então, ele tem sido um pouco de tudo para mim. Meu melhor amigo, minha babá e meu conselheiro nas horas vagas. — Além do mais, nós nos divertimos muito hoje assistindo à Pocoyo — a imagem dos dois jogados no sofá assistindo ao desenho animado passa pela minha mente e eu sufoco um sorriso. É realmente agradável e eu gostaria de ter visto-a pessoalmente. Às vezes, eu odiava meu trabalho. Porque era por causa dele que eu perdia momentos como esse. — E quer saber da novidade? Ela disse que eu sou o tio preferido dela.

A forma como Liam se gabou com orgulho daquilo, estufando o peito, me fez soltar uma risada verdadeira.

— Ela é uma criança, Li, vai falar qualquer coisa por pizza e doces — rebati, como quem não quer nada, e Liam se calou automaticamente em uma desviada de olhos. — Ah, não. Você realmente caiu nessa?

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