Um

436 63 305
                                    

Aquele não era um dia como outro qualquer para Ak2Fw5.

Ele acabava de dar como finalizado todo o conhecimento que poderia adquirir sobre a Terra.

Achava que tinha absorvido o suficiente para a tarefa que o aguardava. Agora ele sabia, por exemplo, reconhecer e reproduzir todas as línguas que eram faladas por lá. Também conhecia todos os países, estados, cidades e, se pensasse por alguns instantes, até mesmo os bairros.

Havia ficado impressionado com o tamanho do planeta, se comparado ao seu próprio, porém, um pouco decepcionado com a capacidade limitada dos habitantes. Ak2Fw5 podia aprender sobre qualquer assunto apenas pensando sobre ele em um lugar silencioso e ficou desapontado ao ver que os humanos estudavam por anos e anos e, mesmo assim, não alcançavam o nível de conhecimento que tinham em Plutão.

Impressionante.

— Terminei — ele disse para seu superior. — Acho que já tenho tudo de que preciso.

— Louvável. Quando acha que poderá partir? — Quem respondeu foi Ec7Lm9, presidente de Plutão e superior imediato de Ak2Fw5.

— Se me permitir, gostaria de me despedir de minha família e poderei partir em seguida.

— Pedido concedido.

Com uma mesura, Ak2Fw5 deixou a requintada sala de seu presidente rumo à sua própria casa.

As coisas em Plutão não andavam nada bem e Ak2Fw5 estava determinado a salvar seu povo. Usando seu cargo de confiança da presidência, solicitara permissão para fazer uma excursão até a Terra. Se lá as pessoas eram felizes e lutavam pela vida, mesmo sem todos os recursos que eles tinham, o que estava faltando em Plutão?

Na Terra, havia defeitos que não eram vistos em Plutão. A ciência não era respeitada ou valorizada, talvez por isso eles demorassem tanto para obter conhecimentos. Em Plutão, todos trabalhavam juntos para alcançar o melhor para a comunidade.

Decidido a descobrir o que estava acontecendo, Ak2Fw5 passou os últimos dias aprendendo tudo o que podia e que julgava necessário para se passar por um humano. Enquanto isso, o serviço de inteligência do presidente ficou encarregado de toda a logística que envolvia sua viagem, incluindo sua adaptação à Terra.

Ele não sabia detalhes de como essa parte estava seguindo, nem como seria o seu ajuste à Terra, exatamente. Fazia parte do acordo que ele só descobrisse a maior parte quando chegasse lá, para que não tivesse tempo de pesquisar sobre o plano, o que poderia torná-lo artificial.

Andando pelas ruas escuras e geladas de Plutão, Ak2Fw5 refletia se teria sucesso nessa incumbência. Não sabia quanto tempo levaria e temia que, ao voltar, seus familiares já tivessem partido. Ele não assumia para si mesmo, mas receava ser tomado pelo misterioso apego pela Terra. Ainda que soubesse de todos os defeitos do planeta azul, e se gostasse de lá mais do que gostava de Plutão, como ficaria? Tinha visto, em suas pesquisas, pessoas tão felizes e alegres, divertindo-se em situações que em Plutão eram desconhecidas. Balançou a cabeça, em uma tentativa de se livrar desses pensamentos, empurrando-os para o fundo de sua mente.

Ainda refletindo, mal se deu conta de que já chegara em casa. Tinha passado dias no palácio da presidência e, agora, sua casa parecia até mais perto do que se lembrava.

Aguçou os ouvidos, tentando ouvir se alguém estava dentro da discreta casa de cores sóbrias, mas tudo que havia era o silêncio já conhecido. Em seu íntimo, Ak desejava ouvir mais a voz dos seus pais, ou da sua irmã, que ainda era uma adolescente.

Entrou em casa e encontrou sua mãe, que parecia ter acabado de voltar do trabalho. Ela disponibilizava fontes de alimentação para grande parte da população, e sua irmã a ajudava. O pai ainda não estava ali, fazia parte do grupo de cientistas do planeta e tinha uma rotina corrida.

Plutão ainda é um planeta? [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now