Cinco

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— André? Parece bom. — Ak testava a pronúncia, empolgado. — Sim, gostei!

— Ótimo! A propósito, eu me chamo Lúcia. — Involuntariamente, ela sorriu quando viu que ele também pronunciava seu nome baixinho. — Venha, vou te mostrar o quarto onde você vai ficar.

Lúcia levou Ak2Fw5, agora André, até o quarto de hóspedes que usava quando um de seus amigos ou de seus familiares dormia em sua casa.

Não era um simples quarto de hóspedes, como Lúcia teimava em dizer. Na verdade, ela tinha feito um grande trabalho de decoração ali, dedicando-se por horas em cada detalhe para que todos que ali ficassem sentissem um pouquinho de sua essência. O suave tom de azul, misturando-se ao branco e tendo apenas alguns pequenos detalhes em cores fortes, trazia muito mais de Lúcia do que ela podia dizer com palavras. Lembrava a ela um dia feliz na praia ou apenas uma noite inesquecível com pessoas que amava.

— Você pode mudar as coisas de lugar, caso precise. E o banheiro fica ali. — Ela disse, apontando para a porta em uma das laterais. — O que foi? Não gostou de alguma coisa?

— Não, muito pelo contrário. — Os olhos de André iam de um canto a outro, passando por todos os detalhes enquanto lembrava vagamente das cápsulas de descanso rápido disponíveis em Plutão. — É sensacional!

— Ah... — Lúcia dá de ombros, timidamente. — Não é tudo isso, mas eu gosto de decorar os cômodos... Aqui, pegue.

— A escova de dentes que ela entregou para ele gerou curiosidade em André, que a analisou por alguns segundos. — Os outros produtos de higiene você pode encontrar no banheiro. Hum... Você está habituado com eles?

— Não... — Ele sorriu, apressando-se em tranquilizá-la: — Mas vi sobre eles e posso aprender, não se preocupe.

— Perfeito! — ela respondeu, claramente aliviada. — Vou deixar você em paz para arrumar suas coisas. Se precisar de algo pode me chamar, meu quarto é o do final do corredor.

— Tudo bem. Obrigado mais uma vez, Lúcia.

André parecia verdadeiramente grato quando Lúcia o deixou e, ao ficar sozinho, pôde olhar com calma o quarto à sua volta.

Com cuidado, deixou no chão a mochila que carregava. Disseram que ali haveria tudo que ele pudesse precisar na Terra referente a burocracias. Esperava que estivessem certos, porque, até então, humanos pareciam bastante desconfiados.

Feito isso, começou a andar e a analisar cada objeto presente no cômodo. Era tudo bem diferente dos ambientes vazios de Plutão. A decoração, para eles, não tinha a menor importância, sequer ficavam tanto tempo em casa para poder admirá-la. Por isso, para a maioria dos itens que viu ali, André não conseguiu achar uma utilidade. Para que serve uma pintura pendurada na parede?

Ao sentar-se na cama, surpreendeu-se por ser tão confortável. Tinha visto muitas imagens sobre elas, mas não tinha entendido seu funcionamento. Naquele momento, refletia que poderia dormir assim que se deitasse, mesmo nunca tendo dormido antes. Em Plutão, tudo era muito mais prático e rápido, não havia tempo a perder.

Decidido a deixar isso para mais tarde, foi até o banheiro, curioso para conhecê-lo. Será que lembraria, de alguma forma, as cabines de desinfecção de Plutão? Achava que não.

Surpreendeu-se novamente ao ver, pela primeira vez, seu reflexo em um espelho.

Não tinha muitos parâmetros para a estética humana, mas, pelas fotos que havia visto em suas pesquisas, avaliou que tinham feito um bom trabalho.

Calmamente se virou para o chuveiro, ficando emocionado ao encontrá-lo. Era uma das invenções humanas que mais tinha chamado sua atenção e, é claro, não existia em Plutão. Será que seria como a água da chuva?

Plutão ainda é um planeta? [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now