Quatro

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Ak sentia-se amedrontado com a humana que tinham escolhido para ele. E se ela negasse ajudá-lo com sua missão e colocasse tudo a perder? Toda sua família poderia morrer caso ele falhasse... Poderia perder tudo o que lhe aguardava em Plutão.

Apesar de ele poder continuar do lado de fora, pois a chuva o encantava, seguiu para dentro da bela casa pintada em um tom pálido de rosa em que ela mora, vasculhando sua mente em busca das melhores palavras para convencê-la a ajudá-lo.

O negócio estranho e peludo que ela dizia se chamar bato andava junto dele, quase enroscando-se em suas pernas. Tinha gostado dele e pensava que seria bom ter um em Plutão. Pelo jeito, ainda que tivesse estudado muito sobre a Terra, tinham faltado inúmeras coisas.

Um pensamento desesperador passou por ele ao refletir sobre o que mais tinha ficado para trás nas horas que dedicara a seu aprendizado e quantas fariam falta em momentos cruciais.

Eles adentraram em um cômodo cheio de coisas que Ak2Fw5 tinha visto em seus estudos, mas que também não existiam em seu planeta. Era o que chamavam de cozinha e onde, aparentemente, os alimentos eram preparados. Tudo seria muito mais simples se eles tivessem uma Comida Expressa...

Lúcia sinalizou para que ele se sentasse em uma pequena mesa que ficava encostada na parede e ele o fez, deixando sua pequena mochila em uma das cadeiras. O bato logo pulou em seu colo.

Pôde perceber que Lúcia não estava totalmente à vontade com sua presença, achando melhor ficar quietinho, apenas fazendo carinhos em seu novo amigo, enquanto ela mexia nos aparelhos estranhos da cozinha. Já tinha falado até demais e desconfiava que tinha feito o contrário do que fora instruído; sua chegada fora espalhafatosa e não repassara as informações com nenhuma calma.

— Parece que Julieta gostou de você. — A voz de Lúcia o assustou e ele olhou confuso, sem saber do que exatamente ela estava falando. Impaciente mais uma vez, ela apontou para a gata em seu colo.

— Não era bato? — Ak não conseguia entender a mudança radical de nomenclatura.

— Gato — Lúcia o corrigiu. — É a espécie, mas o nome dela é Julieta.

Então, humanos eram donos de outras espécies? E as nomeavam?

Curioso...

— Como faz para ter um?

Lúcia suspirou, ainda de costas, pensando que seria difícil se tivesse de explicar para ele cada detalhe sobre o mundo.

Agora, ela já não sentia tanto medo. De alguma maneira esquisita, começava a acreditar nas coisas que ele dizia.

Não era ela que queria uma mudança total para a própria vida? Talvez tivesse conseguido uma. E das grandes.

Da próxima vez, lembraria de especificar bem o que queria dizer com mudança.

— Vamos lá, primeira lição sobre a Terra: há muitos animais abandonados. Nós os adotamos de pessoas que os acolhem até que apareçam novos donos. — Ela explicou da forma mais resumida que pôde, torcendo para que ele não fizesse um monte de perguntar sobre isso.

Estranhando o silêncio que seguiu sua explicação, Lúcia virou-se para encará-lo e conferir se ele havia entendido. O que viu quase a fez correr novamente, dessa vez para fora da casa.

Os olhos de Ak estavam brancos e desfocados. Foi por muito pouco que ela não gritou da mesma forma como quando o vira em seu jardim.

— Ei... — disse baixinho, temerosa. — Você está bem?

— O medo estava tão presente em sua voz que quase parecia um quarto elemento em sua cozinha. Se ele morresse ali, na sua casa, como explicaria para a polícia? Como iria falar que andava recebendo alienígenas em noites chuvosas?

Plutão ainda é um planeta? [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now