Uma alma invencível

1K 16 0
                                    

"Entendo, foi isso que aconteceu". Hayabusa fecha os olhos ao imaginar o sofrimento que ele vivenciou. "Você passou por muita coisa, apesar de ser o seu primeiro combate real, você se saiu bem".

Takeda toca o curativo em seu olho esquerdo. Ao notar a tristeza de seu sobrinho com o ferimento, Hayabusa segura a mão dele e a afasta da ferida em seu olho, balançando sua cabeça negativamente.

"Cicatrizes são valorosas lições que nos lembram do porquê lutamos, elas são nossas medalhas pelas inúmeras batalhas que suportamos". Hayabusa toca a bandagem dele. "Quando se sentir derrotado, lembre-se que cada uma delas... É a prova de que você sempre será capaz de superar seus limites"

Takeda recobra sua postura, baixando de vez sua mão até a cintura.

"Por que você é tão diferente do meu pai? Que só pensa em poder? Como posso um dia ser tão forte quanto você, tio? ". Takeda pergunta, de olhos curiosos.

Hayabusa sorri, colocando suas mãos nos ombros dele.

"A força de cada um está naquilo que mais se ama. Eu vivo pelo meu ideal, Yamato vive pelo dele, mas ambos conseguimos no fim, alcançar aquilo que queremos, basta seguir seu caminho até o fim".

Ele aproxima seu rosto de Takeda, o olhando profundamente nos olhos:

"Onde está a sua força, sobrinho? Você luta por poder ou, por amor? ". Questiona e se afasta outra vez. Takeda aperta as mãos, procurando se lembrar dos motivos de ter bravamente, encarado o seu inimigo.

"Responda-me, qual foi a sensação de usar uma runa, você conseguiu se conectar com ela? ".

Hayabusa pergunta, se afastando.

"Não sei ao certo, senti a energia correr por minhas veias, como um suprimento interminável de adrenalina. Mas não fui digno de sua resiliência. Eu deveria ser invencível, assim como ela".

Hayabusa passa a rir, até o olhar seriamente.

"Ouça, sobrinho, a invencibilidade não está no número de vitórias que carrega consigo, mas no quanto você se recusa a desistir". Os olhos de Takeda faíscam com a resposta.

"Meu pai disse que as runas elevam suas habilidades a outro patamar. Queria experimentar isso, só que a minha é totalmente dependente de mim". Takeda responde, relembrando a luta e dando socos no ar.

"Ou você que passou a depender dela? "Hayabusa interroga, o deixando paralisado. "Runas podem ser muito poderosas, porém, o que são elas sem um portador? Fico admirado que tenha entendido que você precisa ser tornar um só com ela. Mas aprimore suas habilidades e verá melhores resultados ao usá-la".

"Então o problema realmente sou eu? ... Não sou forte o bastante para corresponder a essa runa... Tio, por favor, me conte, o que posso fazer para que ela me aceite? " Hayabusa mostra seu contentamento pela motivação de seu sobrinho, ao novamente manifestar um sorriso no rosto.

"Tolo, você tem apenas 11 anos de idade. Seu caminho marcial está apenas no começo, tente não meter os pés pelas mãos. Com muito treino e paciência, você pode se tornar o melhor lutador da nossa era".

"Levarei comigo seus conselhos e me tornarei um grande artista marcial". Takeda diz ao juntar as mãos em honra. Hayabusa ergue seu rosto para o céu azul, acompanhando o transcorrer das brancas nuvens.

"Trilharei meu caminho até o fim, sem usar qualquer runa em minha jornada. Vamos, sobrinho, me desafie, minha espada ou a sua, qual será a mais forte no final? Venha! Estarei sempre à sua espera"

"Eu, Takeda, aceito seu desafio! ". Exclama e se prostra para Hayabusa em respeito, alinhando seu corpo com o horizonte. "Agora, se o tio me permite, tenho um assunto inacabado a resolver! ".

"Takeda! ". Hayabusa chama por ele última hora. "Pensei que por alguma razão fosse querer saber, a Yumi passou a noite inteira ao seu lado, orando em silêncio. Te asseguro, ela é uma boa menina". Takeda balança a cabeça positivamente e animado, se despede acenando para seu tio que o assiste partir, tentando registrar em suas memórias de uma maneira consistente, a imagem da criança que poderia mudar para sempre, o futuro do clã, porque para ele está mais que aparente que Takeda tem, uma alma invencível.

Revigorado com as palavras de Hayabusa, o jovem Takeda partiu de encontro a seu próximo objetivo. Perto da entrada do dojo e também no local onde os discípulos treinavam, ele parou de andar.

Seu olho direito os acompanhava praticando seus ataques com a espada, porém, ele procurava por alguém em particular. Ao se virar para seguir até o próximo ponto, ouviu seu nome ser chamado.

"Jovem mestre, vejo que já pode andar normalmente, vocês jovens são fantástico, mas não sabe o quanto me felicita a sua recuperação". Michio se aproxima em um cumprimento de mão.

"Obrigado por seus cuidados, senpai". O olho de Takeda desfoca do mestre, pois persistia em procurar por alguma coisa. Michio percebe sua aflição como também, palpita seu objetivo.

"Por falar nisso, jovem mestre, Yumi não tem vindo muito aos treinos desde o que aconteceu. Será que poderia conversar com ela? Sempre fica encostada ao tronco de uma árvore perto dos portões".

Takeda se surpreende e foca o mestre novamente, ambos se afrontam por um tempo.

"Sim, depois cuidarei disso". Ele também se despede de Michio, seguindo para o lado oposto que o mestre lhe indicou. Porém, circunda a residência correndo pela parte de trás, em um atalho para os portões. Quando chega, vê na mesma árvore dita, Yumi sentada e encostada, abraçando seus joelhos.

Ele anda lentamente e de passos leves pelo gramado.

"Eu soube que tem faltado aos treinos, por quê? ". Já perto dela ele fala. Ela levanta seu rosto ao escutar sua voz e assim que seus olhos encaram Takeda, em uma reação inesperada, se levanta e o abraça.

"Jovem mestre! ". Exclama de maneira folgaz, com um sorriso estampado no rosto.

"M-Mas o que você está fazendo?! ". Takeda ralha ao titubear, Yumi ligeiramente se afasta dele e se ajoelha como na primeira vez, tocando sua testa no terreno.

"D-Desculpa, fiquei tão feliz por o ver bem que não me contive. Nunca mais vai acontecer! ".

Um tanto encabulado, Takeda desvia seu olhar dela.

"Tudo bem, pode se levantar. Peço para que jamais se curve dessa maneira novamente, nós somos semelhantes e pertencemos ao mesmo clã. Eu disse e repito, você faz parte da nossa família".

"Sim! Isso me faz muito feliz, jovem mestre". Ela foca o olho esquerdo de Takeda. "Mestre, seu olho... ".

"Não é nada". Firmemente responde, se lembrando das palavras de seu tio. "Estou bem".

"É por minha culpa, não é? Foi quando me pediu para correr, se eu tivesse ficado...".

"Então estaríamos ambos mortos". Takeda dá dois passos para frente, ficando rente a ela. "Na sua perspectiva eu salvei sua vida, enquanto na minha, foi você quem me salvou ao trazer Iwaki".

"Ainda assim...". Irritado com a teimosia dela, ele fecha uma de suas mãos e bate levemente na cabeça de Yumi. "Ai! Por que fez isso? ".

"Me deu vontade". Takeda responde dando as costas para ela. "Volte para os treinos, então teremos uma maneira de garantir que um evento desses nunca mais irá se repetir".

"Sim, me dedicarei cada vez para proteger o jovem mestre". Takeda continua parado, pensativo, entretanto, retorna a se virar para ela que abre seus olhos em alarme, quando vê seu intrépido olhar.

"Por que você voltou? Quando pedi para que corresse teve a chance de ir embora e nunca mais voltar, é uma coisa que você queria àquela noite. Então por que voltar? ". Yumi abaixou o olhar.

"Que cruel... O mestre teve estar me confundindo com uma pessoa muito terrível. Você me deu a liberdade de escolha e eu fiz a minha quando decidi ficar. Perdoe-me se eu estiver sendo muito atrevida, jovem mestre, mas até hoje, você é a pessoa mais próxima de ser o amigo que eu nunca tive".

Takeda, pacato, continua a olhá-la. Ele suspira e sem dizer nada, deixa o local sem dar uma resposta. Contudo, com sua face já virada na direção oposta aos olhos de Yumi, abre um acanhado sorriso.

Bone Breaker (Novel)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon