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Laís Silva
15:50pm


Cheguei na sala depois de um tempo e o clima estava de velório.

Sentados e abraçados no sofá estavam meus tesourinhos.

Cecília com o rosto vermelho de quem chorou e a pontinha do nariz do Lucas vermelhinha me mostrava que o menino de ferro também chorou um pouquinho.

E o coração fica como? Apertadinho.

Quando eu falo que não posso protegê-los de tudo e todos eu falo disso.

Não posso protegê-los da pessoa que devia proteger eles. Eu sei que o Alex pode ter mudado, ter se arrependido, mas mesmo assim é tudo muito novo e isso é difícil pra eles.

Imagina, quinze anos sem um pai pra agora ele chegar e dizer que quer ser pai deles? Isso assusta, causa revolta.

Me aproximei deles e abracei meio sem jeito. A gente não precisa falar nada, conversamos pelo coração e o meu sabe quando o silêncio é preciso.

Os dois deitaram a cabeça no meu colo e eu fiquei fazendo carinho neles.

Vê-los chorar era tão difícil pra mim, ainda mais eles que detestam chorar.

Sequei uma lágrima que escorreu pelo rosto do Lucas, meu menino é tão novinho e já senti tudo de uma maneira muito intensa.

E ele não é de falar com todas as letras o que se passa nessa cabeça e nesse coração e eu aprendi a ler o sinais que ele dá quando algo o deixa triste ou incomodado.
Aprendi que na maioria das vezes um abraço ajuda mais do que se eu usasse todas as palavras do mundo pra consolá-lo.

E a minha menina... a minha menina é a minha bonequinha.
Forte e frágil ao mesmo tempo.
Ela também sente as coisas com muita intensidade e as vezes isso a machuca muito.
Sempre dei tudo de mim pra que ela jamais se sentisse menos que o Lucas e ensinei a ele que não havia distinção entre eles, que pra mim eram iguais e que ele deveria protegê-la. E ele faz isso melhor do que eu, nunca vi alguém tão empenhado em cuidar de alguém como o Lucas cuida da Cecília, o laço deles é muito forte.

Ela só foi vítima das ações erradas dos outros, mas hoje eu a ensino que o nosso futuro pertence a Deus, que o passado já passou e o que importa é o agora e por isso temos que vive-lo.

Sei que é difícil, mas ela vai aprender e passar cima de todos esses fantasmas que vez ou outra a perturbam.

- Quem topa fazer brigadeiro e maratonar alguma série?- sugeri pra ver se ele se animavam- Não quero ninguém assim. Vamos levantar!

Eles levantaram reclamando, mas não ia deixar ninguém tristinho no sofá.

Coloquei os dois pra fazer o brigadeiro e eu fiz a pipoca.

Passamos o resto da tarde vendo séries.

O humor deles também melhorou e as carinhas não estavam mais tristes.


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Sábado
20:30pm

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora