Luz em todo morro

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Lucas Oliveira
13:00pm

A gente saiu da casa da tia Bruna e eu já sabia que a minha mãe ia pesar na minha.

Mas porra, ninguém me entende? Eu tenho motivos pra ser e agir assim, ele merece muito mais.

Só foi fechar a porta que ela começou.

- Eu estou decepcionada com você Lucas, aquilo é jeito de se comportar na casa dos outros? Eu te dei educação suficiente e você sabe muito bem que eu detesto essas coisas!

- Todo mundo ali já sabe como as coisas funcionam mãe. O errado da história é o Alex, que nem deveria ter ido!- Rebati.

- Você tá vivendo em que mundo? Ele é irmão do seu tio e por esse mesmo motivo ele sempre vai ser convidado pra essas coisas, se você não quer falar com ele, fique na sua, mas nunca mais faça esse show na casa dos outros. Eu que passo vergonha, deixa pra lavar as roupas sujas de vocês fora da casa dos outros!- só concordei, sei que fui errado de ter arrumado essa confusão na casa do tio, mas quando eu vi já estava falando.- isso vale pros dois! Vão tomar um banho, mais tarde a gente vai sair pra comprar umas coisas!- Avisou e eu já fui saindo da sala.

Minha cabeça já estava perto de explodir com tanta coisa.

Esse cara devia ter ficado o resto da vida preso, só foi ele por os pés aqui que tudo desandou.

E mesmo com o passar dos dias a minha raiva não diminui uma gota, contínua igual.

Eu queria conseguir ser igual a Cecília e conseguir ver que ele mudou pelo menos um pouco.

Mas a minha raiva não me deixa ver nada, só fica o tempo inteiro me falando o que ele fez e que vai fazer de novo.

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17:35pm

A gente veio pro shopping comprar roupas e sapatos. Porquê de tempos em tempos a minha mãe pega as nossas roupas mais antigas e que ainda estão boas e doa pras pessoas que precisam. Depois ela trás a gente pra comprar.

Mas também é só aquilo que precisamos mesmo. Nada além.

Depois de passar uma vida dentro das lojas, vestindo e tirando as roupas a gente foi lanchar. Eu sou até rápido pra escolher, mas a mãe e a Cecília, meu Deus, parece que vai morar dentro do provador.

Eu até gostei de ter vindo, foi bom pra distrair a mente e sair um pouco de lá.

Na hora do sermão até fiquei com um pouquinho de raiva da minha mãe, mas não tem como ter raiva da Dona Laís, é só ela te olhar com aquela carinha que já era, você nem lembra que tá com raiva.

Ela sempre resolveu tudo na base da conversa, mas as vezes dava uns puxões de orelhas em nós.

Depois de lanchar e ainda passar no mercado pra comprar algumas coisas  a gente veio pra casa.

A Cecília foi toda alegre arrumar as coisas dela e eu fui arrumar as minhas porquê era o jeito.

- Lucas? Tô entrando!- minha mãe bateu na porta e avisou. Ela começou com isso a um tempo, disse que não quer invadir a nossa privacidade, mas que qualquer coisa arromba com tudo- Quer conversar?- entrou fechando a porta e se sentou ao meu lado na cama.

- Não sei! Tá tudo meio confuso aqui!- olhei pra ela. Faz um tempo que eu estou evitando essa conversa. Por motivos que eu nem sei.

- Acho que se a gente conversar pode ajudar!

- Você já se sentiu confusa e sem saber como agir?- perguntei encarando o chão.

- Tantas vezes que eu nem consigo contar e por incrível que pareça eu também me sinto confusa e um pouco perdida agora!

- Não sei o que tá acontecendo mãe, as vezes parece que eu sei exatamente como agir e depois não sei mais. E acabo agindo errado e por impulso  como hoje!- não existe pessoa no mundo que possa me ajudar como ela.

- Eu sei que essa situação não é a melhor e se fosse por mim vocês jamais passariam por isso na vida. Não tiro a sua razão de sentir raiva e muitas vezes ela nos cega e quando vemos já falamos mais do que deveríamos. Mas não podemos deixar que esse sentimento nos domine, porquê não é saudável.

- Eu tento não sentir, mas é só olhar pra ele que ela vem e me faz querer jogar tudo na cara dele milhões de vezes!

- Eu também sentia muita raiva Lucas, raiva por tudo que ele me fez passar naquela época, não por ter me deixado, mas por ter te deixado e depois por ter deixado a Ceci também. Mas eu fui aprendendo que essa raiva não ia me levar a lugar nenhum e não precisava dela pra nada e depois disso eu consegui viver bem melhor. Agora que ele voltou, ela voltou também, mas não como antes, acho que nem é mais raiva!- segurou nas minhas mãos fazendo carinho.

- Por que ele voltou? Estava tudo bem sem ele aqui.

- Filho, esse lugar também é a casa dele, o Alex cresceu aqui, pra onde ele iria se tudo que ele tem está aqui?- fiquei em silêncio.

- A senhora acredita que ele mudou?- talvez eu quisesse acreditar nisso.

- Sabe Lucas, no começo de tudo, bem antes de você sonhar em nascer, quando conheci o Alex, éramos até mais novos que vocês e durante esse tempo o Alex era uma pessoa maravilhosa pra mim,  a gente se divertia, saia, ficava até tarde por ai e eu gostava e mesmo depois que fomos morar juntos continuou sendo assim, ele era o meu melhor amigo e a gente conversava sobre tudo. Mas ai ele mudou, aconteceu aquilo tudo e depois foi preso!- fez uma pausa-  Isso que eu estou te dizendo não é pra você mudar a sua visão sobre ele, mas pra você ver que as pessoas podem sim mudar. Naquela época ele mudou pra pior, mas agora pode ter melhorado como pessoa!- respirou fundo- O que eu não quero é que você tenha sentimentos ruins no seu coração, mas no seu tempo você vai conseguir entender melhor as coisas.- assenti e ela me abraçou- eu te amo filho, sempre vou tá aqui por você e pra você!- falou abafado por estar me abraçando.

- Eu sei! Prometo que vou tentar não sentir tanta raiva!

- Você vai ver o quanto é libertador, o perdão liberta filho!- ela me falou mais algumas coisas e depois saiu do meu quarto.

Fui tomar o meu banho e fiquei pensando em tudo que ela falou, talvez essa minha raiva sem controle esteja tornando tudo pior e mais difícil.

Porquê eu deixo ela me dominar e isso me faz ter a necessidade de tentar atingir o Alex e fazer que ele sinta o que eu sinto, de machucar mesmo e quando eu vejo que atingiu como eu desejava aquilo me dá um prazer imenso.

E eu não quero mais ser assim.

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